Capítulo 33

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Quando voltamos para a cozinha, Pietro já tinha basicamente tudo pronto. O molho estava ótimo e não pude deixar que roubar um pouco de queijo que ele tinha ralado para colocarmos sobre a comida já pronta. Tentei ao máximo esquecer o que tinha visto lá fora, ou o que achei que tinha vista, e seguir com a noite normalmente, mas era bem claro que eu não estava tendo muito sucesso nisso. Pietro mantinha a conversa em assuntos amenos e até mesmo agradáveis, mas minha mente estava um pouco dispersa. Jantamos em um silêncio meio estranho, a comida estava fantástica e disso eu não podia reclamar nem um pouco, cheguei até mesmo a repetir. Pietro em nenhum momento me perguntou nada, mas eu podia ver em seus olhos que ele estava se segurando para não fazer isso. Eu não podia culpa-lo.

Assim que terminamos de jantar, ele ficou com a parte de lavar a louça e eu de guardar, já que sabia onde cada coisa ficava.

―Então... - começou ele lavando os pratos. - O que aconteceu?

―Como assim? - perguntei enxugando um dos copos.

Ele desligou a torneira, colocou a bucha de lado e olhou para mim com seriedade, os olhos verdes tão afiados quanto lâminas.

―Você estava sorrindo e brincando. - falou acenando com as mãos, dando a entender os nossos momentos de pouco tempo atrás. - Ai saiu lá fora para ver o cachorro e voltou muito estranha. O que ta acontecendo?

Coloquei o copo encima da mesa e comecei a torcer o guardanapo em minhas mãos enquanto me encostava no balcão. Eu não queria olhar para ele, mas sabia que Pietro estava atento a cada um dos meus movimentos.

―Você me acharia louca se eu dissesse. - falei.

Pietro deu um passo à frente, tocou meu queixo de leve e fez com que eu olhasse para ele. Seus olhos estavam de um verde mais claro do que o habitual e brilhavam de sinceridade.

―Pode me contar qualquer coisa. - falou.

Fechei os olhos por um minuto, cruzei meus dedos mindinhos e suspirei.

―Quando eu sai para ver o cachorro, eu achei... Achei que tivesse visto alguém. - falei chacoalhando a cabeça e apertei o guardanapo. - Estava parado na parte mais escura do quintal e eu não consegui enxergar muito bem, mas depois que você apareceu, ele sumiu. Sei que parece louco, mas ultimamente eu tenha essa frequente sensação que onde quer que eu vá, tem alguém me observando, mesmo aqui dentro de casa.

―Esse... Esse cara que você viu, - falou ainda me encarando. - já tinha visto ele antes?

Engoli em seco. Eu queria e ao mesmo tempo não queria contar para ele, mas contar dos meus sonhos esquisitos parecia apelação demais até mesmo para a aparente compreensão dele.

―O mesmo cara do cemitério. - falei, contando parte da verdade. - O mesmo que você perguntou se eu conhecia.

Seu rosto ficou impenetrável, mas várias emoções diferentes passaram pelos seus olhos, de forma tão rápida que eu não consegui acompanhar.

―Você tem certeza? - perguntou. - Tem certeza que viu ele?

―Eu não sei bem. - falei chacoalhando a cabeça. - Pode ser que tenha sido apenas coisa da minha cabeça, na verdade até quero acreditar que seja.

Ele ficou me olhando atentamente por um bom tempo sem dizer nada, era como se ele estivesse ali, mas sua mente a quilômetros de distância. Eu não queria nem comentar o quanto tudo aquilo era estranho, minha noite que havia começado divertida já tinha ido pelo ralo e ficar falando de um cara estranho que tinha aparecido no meu quintal e que possivelmente poderia estar me seguindo, não era um dos assuntos sobre os quais eu queria falar.

Meu Último Suspiro - O início - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora