Capítulo 26 - Quebrado e Lembranças

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Eu confesso que me sinto vazio, tenho um enorme buraco vazio dentro de mim. Não é um buraco escuro e sem vida, mas um buraco neutro, daqueles que fazem com que eu não sinta nada, nem dor, ou agonia. Eu apenas vivo dia após dia sem sentir mais nada.

Meu coração está mais que acelerado agora. É difícil não ficar nervoso quando você sabe onde toda essa história vai acabar.

Eu nunca chorei tanto quanto eu chorei a noite e estou a chorar agora, na frente do grande espelho do meu banheiro. Me sinto despedaçado e eu estava apenas esperando a deixa para que eu fizesse isso. Estava esperando o momento perfeito para acabar com isso, corrigindo.

Eu vi todas as mensagens do Jimin, mas eu não as visualizei, apenas as vi caindo e sentia todas as lágrimas molhando todo o meu rosto novamente.

Eu não achei que depois de ver Jimin com sua namorada fosse me destruir tanto assim por dentro e por fora. Isso é pior do que antes, é pior do que a noite daquele acidente.

Ao ver aquela mensagem dizendo que eu deveria me matar, eu senti a necessidade de o fazer.

Ao chegar em casa eu apenas me joguei em minha cama e chorei, bebi e passei horas pensando no que fazer.
Até que as mensagens do Jimin me interromperam e eu me arrependi por tê-las respondido.

E agora estou no meu banheiro, na frente do espelho me encarando. Mais especificamente encarando o meu estado, estou com os olhos fundos e vermelhos por tanto chorar.

Resolvo apenas ignorar o meu estado e vou até o meu quarto, onde abro uma e tira da mesma uma lâmina. Uma lâmina pequena, brilhante e afinada. Pronta para tirar a minha vida.

Eu nunca achei que precisaria fazer isso. Achei que talvez morreria por uma overdose de bebida ou que meu pulmão fosse parar de funcionar por tanto que iria fumar. Mas nunca imaginei que precisaria me cortar e encarar esse momento tão assustador — mas que tanto desejei.

Repito para mim mesmo que a única coisa que devo fazer é passar aquela lâmina em meus pulsos, bem fundo.

Jimin não me quer morto? O seu desejo é uma ordem.

Soluço aproximando a lâmina de meus pulsos, bem encima da minha veia. Deixo um soluço escapar e firmo a mesma, vendo a primeira gota de sangue sujar o chão branco do meu banheiro. E então gemo, sentindo meu braço arder e doer.

E então um filme se passa em minha cabeça. Todos os momentos com o Jimin, com meus amigos e até os poucos momentos que tive com minha família — mesmo que foram poucos os bons — e eu firmo ainda mais a lâmina e ao lembrar-me do acidente e da namorada do Jimin, Jennie.

Nenhum dos nossos momentos valeram a pena? Ele nunca mais irá se lembrar? Esse é realmente o fim de tudo?

E então eu caio no chão, vendo a quantidade absurda de sangue sair do meu pulso. Minha visão se torna turva e deixo a lâmina cair antes de simplesmente apagar por completo.

             (...)

Com os olhos ainda fechados eu tento me lembar o que estava acontecendo e onde eu estou. Mas eu não consigo pensar e muito menos me mexer. Sinto algo em meus braços e algo também em meu rosto. Sinto uma dor absurda em meu braço e minha cabeça dói tanto que nem mesmo consigo abrir os meus olhos.

Eu não consigo me mexer e nem consigo falar, o que me deixa desesperado por um tempo.

Me mantenho ainda mais quieto quando ouço barulho de porta se abrindo e algumas vozes longes são ouvidas antes da porta se fechar novamente, em uma batida.

Respiro fundo e sinto um cheiro doce, o cheiro que reconheço de longe.

Tento abrir os olhos e percebo que não tenho controle sobre os mesmo, minha respiração se torna ofegante e sinto que poderia chorar a qualquer momento por não ter controle sobre os meus sentidos.

Eu quero vê-lo, eu preciso vê-lo.

Me sinto desesperado, mas me acalmo ao sentir uma mão acariciar os meus cabelos.

— Você não deveria ter feito isso.— Sua voz soa quebrada e trêmula.— Você quase morreu, está vendo o seu estado? Você está em coma!

Estou em coma. Quase morri.

— Sua mãe me disse sobre
isso e ela me pareceu muito preocupada. Ela está na sala de espera.— Sinto algo quente descer em meu rosto.— Você está chorando.

Minha mãe está aqui e eu não posso vê-la. Na verdade só assim que eu posso ter a atenção da minha mãe, quando algo ruim acontece comigo.
Já que quando estou bem ela sequer resolve me procurar e perguntar sobre como eu estou aqui em Seul. Eu sempre quis ligar para ela e jogar conversa fora a tarde toda e só desligar quando estivesse tarde da noite ou dormir ouvindo sua voz.

Sei que ela tem uma voz bonita, ela sempre cantava para o Junghyun, que tinha seu quarto ao lado do meu, e eu acidentalmente acabava ouvindo e dormindo com a sua doce voz.

Eu nunca entendi o motivo de eu ser tão excluído em minha família. No começo eu achava que era pelo fato de ser gay, mas isso mudou com o tempo quando eu discuti com minha mãe e ela disse que não tinha nada a ver com sexualidade ou algo disso. E ela apenas deixou no ar que ia além disso.

— Tenho que ir agora, o horário de visita acabou.— Ele diz com a voz baixa após limpar as possíveis lágrimas do meu rosto.— Eu prometo que amanhã eu venho te ver e fico mais tempo com você. E ah.. Sua mãe me disse que você costumava gostar de donuts, então eu vou lhe trazer alguns amanhã, escondido das enfermeiras claro.— Ouço sua risada e sinto seus lábios se encostarem em meu rosto.

               (...)

Park Jimin sai do quarto de hospital suspirando preocupado.

Ele soube que a situação do Jungkook não é uma das melhores.  Os médicos disseram que quando ele chegou no hospital, o seu braço estava sangrando muito e que tiveram de fazer uma transfusão de sangue ou ele poderia não resistir a perda de tanto sangue. Ele também soube que ele ficará em coma por uns dias, pois ele ainda está fraco e terá de ficar um tempo de repouso no hospital.

Ele se sente culpado por ter mandado Jeon se matar através daquela mensagem.

Ele não falara sério.

Ele só achou as palavras de Jungkook idiotas demais e que ele estava nervosinho demais para o seu gosto.
Mas ele não quis que ele realmente tentasse se matar ao ler aquilo. Ele disse aquilo tudo como uma pequena brincadeira e ele sente que não aguentaria perder Jeon Jungkook.

Não aguentaria?

De repente tudo ao seu redor começa a girar e sua cabeça doe tanto que ele não consegue escutar mais nada e muito menos fazer mais nada além de se segurar na parede tentando manter-se de pé.

O que foi impossível de se fazer.

Suas pernas travam e ele então cai no chão, ainda acordado. Algumas imagens — como breves flashbacks — passam em sua cabeça e ele revê o mesmo momento em que ele se joga de um carro, como nos seus sonhos. Após isso uma outra cena vem em sua mente, um garoto o perseguindo na rua e então tudo se torna escuro antes mesmo de tudo se completar.

E antes que ele pudesse pensar em pedir ajuda, ele desmaia.

Don't ForgetWhere stories live. Discover now