1 ― Um piscar de olhos

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   O som abafado dos pneus no asfalto tornara-se tedioso demais. A noite em claro já começava a fazer efeito, e nem mesmo o café forte que comprara num posto de gasolina tomado a cada quinze minutos fazia algum efeito.

     Jim sentia sua cabeça pesar, seus olhos escuros mal se aguentavam abertos, com certeza ele precisa dormir.

    Mas ele não podia parar. Não queria. Queria criar a maior distância possível entre ele e a noite anterior. E tudo o que havia acontecido. Deixar tudo para trás para que tudo o deixasse também.

    Os raios dourados do sol recém nascido entravam pelas janelas abertas do carro do seu pai. No calor do momento não encontrara as suas próprias chaves, por isso pegou as únicas que avistou e saiu. Saiu o mais rápido possível.

    Correndo.

    Pois não podia ficar no mesmo lugar que ela. Perto dela. Queria até mesmo que as memórias que tinha dela saíssem de sua mente e o deixassem em paz.

    Jim apertou com força as mãos no volante, até do dedos ficarem brancos, na tentativa de manter-se acordado por mais algum tempo. Qualquer que fosse. Não podia dormir. Tinha medo de que acabasse sonhando com ela e vendo novamente o que tanto estava tentando esquecer.

    Olhou para fora do carro e admirou a paisagem. As montanhas daquela parte do estado realmente eram as mais lindas e gigantescas que ele já havia visto na vida.

    Beleza e vida.

     Viu o balançar das árvores com o vento forte e se imaginou pulando de paraquedas do alto de uma daquelas montanhas. A euforia e a adrenalina em seu corpo.

    Uma bela sensação.

    Suspirou fundo ao lembrar-se do por que de ele está ali. A dor o levara aquele lugar. Se não fosse ela, certamente estaria bem longe dali naquele momento.

    Seus olhos começaram a lacrimejar com a claridade do dia, sentiu a boca seca e ele não suportava mais nenhum gole do café gelado em seu copo grande já quase vazio.

    Apesar de ter andado naquela estrada toda a noite, aquele sentimento que dilacera seu coração ainda estava tão presente quanto no momento em que entrara naquele carro. Talvez maior ainda. Era como se a dor tivesse entrado e sentado no banco do passageiro lhe fazendo companhia. Não ia embora.

    Na altura de vinte e um anos, nunca sentira tamanha dor. Nunca mesmo. Talvez quando a sua mãe morrera, mas era uma dor diferente. E não imaginava se merecia aquilo.

    Não aquilo tudo, com certeza, ele pensava.

    Era muita dor para uma pessoa só carregar. Um tipo de fardo que entorta as costas e dá um cansaço. Não um cansaço que passa depois de uma boa noite de sono, não. Cansaço da vida e de suas peças.

SubmersoWhere stories live. Discover now