Para Enzo, o tempo nunca foi um problema. Com a habilidade de reviver suas memórias, o garoto sempre viu todos acontecimentos de sua vida como vídeos a serem tocados inúmeras vezes. Acostumado a reassistir momentos sem grande importância, tudo foge...
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No dia.
Antes de começar pelo devido começo e contar sobre a ressaca horrenda com que acordei naquela manhã de segunda-feira, preciso voltar no tempo um pouquinho e recapitular algumas coisas primeiro. Voltar à noite do meu aniversário de dezesseis anos, há dois anos, será suficiente para que as coisas façam sentido.
Nunca fui desses adolescentes iludidos que acreditam que fazer dezesseis anos muda completamente a vida de um jovem — para ser realista, nunca pensei isso nem dos dezoito. Na minha cabeça de um jovem de apenas quinze anos, eu já havia chegado a conclusão de que a única coisa que de fato mudaria naquele aniversário seria ter permissão para assistir filmes classificados como para maiores de dezesseis anos no cinema.
Como de costume, eu estava completamente errado. Aquele aniversário de fato mudaria tudo.
Quero deixar claro que nunca fui conhecido como alguém irresponsável. Na verdade, minha vida até aquele ponto era bem limitada e se alguém perguntasse sobre mim na escola, filhinho da mamãe ou certinho seriam prováveis definições, assim como CDF. Contudo, o que para mim seria só mais um aniversário, acabou se tornando uma noite com duas grandes experiências na minha vida.
A primeira delas foi o meu primeiro porre.
Eu sei, eu sei, o clichê em forma de pessoa.
Pessoalmente, eu culpo minha amiga Mariana e suas mãos sorrateiras que roubaram uma garrafa de whisky da adega do pai. Naquele tempo ela havia decidido que eu precisava construir memórias. Então como presente de aniversário ganhei minha primeira bebedeira e de quebra ainda tive a oportunidade de chegar na segunda grande experiência da noite.
Muitos pensariam que minha segunda experiência teria sido perder a virgindade com a minha melhor amiga. Calma, nem tantos clichês assim para uma noite só. Não que a Mariana não fosse bonita, ou do meu agrado, é só que naquela idade eu já começava a ter desejos e interesses um pouco diferentes. Eu já conseguia afirmar com certeza de causa que na minha dieta sexual não havia espaço para Marianas, ou garotas de qualquer tipo.
Minha segunda grande experiência envolvia algo muito maior que perder a virgindade, algo que até o momento eu não sei bem como explicar. Algo que aparentemente é uma característica que acomete alguns membros específicos da minha família desde os primórdios da civilização. Que claro, por que não? Sendo o imã de problemas que eu sou, era óbvio que eu sofreria do mesmo mal.
Naquela noite, bêbado por causa do whisky e já não respondendo muito bem aos meus reflexos, eu tive a monumental experiência de dar um salto pela primeira vez.
Preciso explicar a minha definição particular de saltar ou pular. Dar um salto para mim não é simplesmente tirar o corpo do chão com um impulso, mas sim, levar minha consciência, como em um pulo, para um momento anterior no tempo que eu guarde na memória. Ou pular para dentro da minha cabeça em algum momento específico do passado e presenciá-lo novamente. Faz algum sentido?