|chapter three|

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Ao contrário do que Tyler imaginava que aconteceria, suas palavras saíram altas e claras de sua boca. Em nenhum momento ele gaguejou, se perdeu ou fez uma pausa para pensar no que diria.
Ainda sim, o peso dos olhares em cima dele não deixava com que seu batimento cardíaco diminuísse. Mas ele continuou e chegou até sua última frase.
"Apesar desse resultados, eu acredito no potencial dessa empresa e das pessoas que trabalham nela. Eu vejo o ano que vem como uma nova oportunidade, um ano em que podemos crescer economicamente. Portanto, iremos trabalhar para que que ao final de 2017 os representantes do meu setor possam dizer-lhes o oposto do que nós nessa manhã. Muito obrigada"- os aplausos se prolongaram até o momento em que os dois rapazes se sentaram em suas cadeiras na frente do palco. Algumas mãos surgiram para parabenizá-los pelo discurso. Tyler se sentia muito mais leve naquele momento, alargou o nó de sua gravata e relaxou na cadeira.
Brendon estava ao seu lado, aparentemente um pouco tenso ainda. Eles trocaram algumas palavras durante as apresentações, mas foi só após o expediente que Tyler conseguiu conversar com o amigo.
"Você tava falando tão bem, juro que até fiquei envergonhado porque falei muito mal antes"- Brendon colocava alguns papéis empilhados em sua mesa.
"Eu estava uma pilha de nervos, não sei como minha voz não falhou"- Tyler sorriu aliviado.
"Ei vocês dois, o pessoal tá saindo pra ir num bar aqui perto. Que tal?"- um rapaz que Tyler não conhecia entrou na sala
"Eu to dentro. E você Ty?"- Brendon se virou para o amigo.
Tyler não gostava muito da ideia de consumir bebida alcoólica, tinha o feito poucas vezes e ainda um pouco relutante. Mas entre as opções de voltar para casa e enfrentar seus demônios, ou sair com um grupo de pessoas, ele não pensou duas vezes.
"Claro, por que não?!"- sorriu e caminhou junto com os dois rapazes até a saída do prédio.
"Sabe que eu adorei seu discurso hoje"- Tyler percebeu que falavam com ele -" Eu sou Pete, aliás"- o homem estendeu a mão amigavelmente e Tyler a apertou.
"Obrigado"- respondeu sem jeito.
Eles andaram até o bar, que era próximo à sede da empresa. Os carros ficariam no estacionamento e, eles voltariam mais tarde para pegá-los e irem embora.
O lugar reproduzia um programa qualquer na televisão, estava quase cheio com o pessoal que trabalhava ao lado, tinha apenas umas três mesas livres. Mas Tyler, Brendon e Pete se juntaram à uma mesa onde tinham umas outras duas pessoas sentadas, conversando e bebendo. Tyler não conhecia nenhuma delas, mas Brendon sim. E eles se apresentaram. Para falar a verdade, Tyler nem prestou atenção, ele estava interessado em se distrair e ficar longe de casa, não em fazer amizades.
Eles já estavam sentados ali fazia algumas horas, Tyler já estava na terceira lata de cerveja. E não podia negar, tinha um gosto terrível, mas era a famosa bebida social que ele não podia negar.
"Vou buscar alguma coisa ali no balcão"- Tyler avisou e levantou da mesa, ainda sóbrio e foi até o balcão que ficava do outro lado do bar. Se sentou no único lugar vago e pediu uma água, afinal ele não aguentava mais o gosto de cerveja na sua boca.
"Olhe só, que conveniente te ver por aqui. Não respondeu minhas mensagens, estava ficando frustrado já"- Tyler ouviu alguém dizer ao seu lado.
Seus olhos encontraram o rapaz de cabelos vermelhos, segurando um copo whisky e um leve sorriso no rosto.
"Oh... Eu me esqueci de responder, me desculpe por isso"- respondeu tomando um gole da sua água.
"Achei que tivesse te assustado"- agora os olhos castanhos estavam encarando o copo quase vazio.
"Não"- Tyler franziu a testa-"De jeito nenhum"- limpou a garganta -"Você só precisa separá-los e arquivar..."-
"Já foi feito, consegui me achar"- passou a mão em seu cabelo -"Sabe, sua apresentação... Foi a melhor em muitos anos"- comentou enquanto pedia mais uma rodada para o garçom
"Sério?!"- Tyler sentiu suas bochechas ferverem, ele estava cotando-" Obrigado, é difícil apresentar condições ruins como aquelas"-
"Bom, difícil ou não, você foi ótimo"- um sorriso involuntário surgiu no rosto do economista, que ficou sem graça com o comentário.
Os dois desenvolveram um conversa interessante, conforme o tempo foi passando Tyler se esqueceu completamente do amigo que estava na mesa o aguardando.
"Bom, eu vou indo. Estou exausto"- o rapaz se despediu do colega.
"Me mande uma mensagem quando chegar em casa?"- perguntou
"Claro"- Tyler acenou e andou até a mesa onde Brendon estava.
"Tyler finalmente, o que aconteceu com você? Desmaiou em algum lugar?"- o amigo cumprimentou
"Encontrei um conhecido, estávamos conversando"- respondeu enquanto Brendon se levantava
"Eu to indo pra casa. Vai ficar?"- Tyler perguntou e o amigo balançou a cabeça afirmando. O rapaz se despediu de Pete e dos outros colegas que estavam na mesa, e fez o caminho de volta ao estacionamento de onde trabalhava.
Ao chegar em casa ele foi direto para debaixo do chuveiro, ficou longos 20 minutos apenas pensando enquanto a água corria. Ele percebeu que estava pensando no rapaz de cabelos vermelhos, em como ele era charmoso e bonito. Mas logo afastou esses pensamentos e desligou o chuveiro.
Depois de colocar uma roupa confortável, ele deitou na cama e dormiu.
De repente, Tyler ficou sem ar, acordou desesperado por oxigênio. Inspirou e expirou diversas vezes até sua respiração normalizar, ele tinha tido aquele mesmo pesadelo de novo.
Sua visão estava um pouco turva, olhou para o relógio que marcava 9:26 de um sábado. Ele nem lembrava do horário em que chegou em casa na noite passada, aos poucos se lembrou de ir ao bar, de conhecer algumas pessoas, de encontrar o filho do seu chefe e de conversar com ele. Também lembrou de dizer que ia mandar mensagem quando chegasse em casa, então ele o fez agora.
tyjoseph: Hey, sei que disse que ia avisar quando chegasse em casa, mas eu acabei dormindo.
Esperou receber uma resposta, e não demorou muito.

SUICIDALWhere stories live. Discover now