SUICIDAL

|chapter thirty nine|

Tyler estava enrolado nos lençóis enquanto Josh dormia tranquilamente ao seu lado. Seus olhos abertos, encarando o teto, enquanto refletia sobre o que esteve próximo de fazer, de novo.
Mais uma vez, a mesma adrenalina, o mesmo medo e o mesmo alter ego haviam o levado até lá.
Nos seus sonhos mais sombrios, ele passava pela dor incessante de estar vivo, e não conseguia dar um fim a elas.
Esse era o motivo de Tyler estar bem acordado às duas da manhã de uma segunda feira.
Toda vez que ele fechava os olhos e mergulhava no subconsciente, as coisas mais profundas e obscuras se tornavam vívidas em um pesadelo, que vinham a provocar sua insônia uma vez que estava acordado.
Ele se lembra de pequenos detalhes, mas ao desenvolvê-los, numa tentativa de ter um fechamento, a falta de sono toma seu lugar.
o cavalo negro, cavalgando no horizonte, a neblina ao seu redor, quase o fazendo desaparecer. uma única rua, rodeada por uma mata densa, onde ele caminha por sua extensão.
sua pelagem é escura e macia, a crina é longa assim como seu rabo. ele seria bonito se não fosse, assustador. na verdade, seria magnífico, se não fosse apavorante.
ele se aproxima, linchando cada vez mais alto, provocando uma dor de ouvido momentânea.
seus olhos se tornam vermelhos, tão brilhantes que podem ser vistos de longe.
o som das ferraduras batendo contra o concreto da rodovia é constante, o animal está muito mais próximo agora.
agora ele encara a criatura há centímetros de seu rosto.
como se ela estivesse aguardando o momento certo.
a imagem se distorce, a figura começa a se alterar, o cavalo está mudando de forma.
o vulto negro, agora com forma humana, abre os olhos, que ainda brilham um vermelho cor de sangue.
a luz fraca emitida pela lua cheia, de repente ganha força, aumentando sua luminosidade.
contra o rosto do que antes era um cavalo, a luz revela sua aparência.
ele parece humano, exceto ele é a escuridão.
as mãos da criatura tocam seu pulso, levando suas próprias até sua garganta.
a sensação de sufoco passou segundos depois, mas agora, suas mãos e o pescoço estavam negros.
seus olhos tomaram a mesma coloração da criatura.
então ele nasceu.
seu demônio.
Tyler se levanta da cama e corre até o pedaço de papel mais próximo, e com a caneta em mãos, ele transcreve com a caligrafia tremida.

cavalo
olhos vermelhos
manchas pretas
pescoço
mãos
dor de ouvido
escuridão
neblina

Fora de ordem, as anotações continham o que Tyler julgou mais importante. Suas mãos tremeram conforme ele segurou o papel para reler as palavras transcritas.
Ele havia esquecido do mais importante, então ele pegou a caneta e escreveu mais três palavras.

APAVORADO,
não
assustado.

Ele voltou para a cama, se cobriu com a coberta e voltou a olhar para aquele pedaço de papel.
"O que tudo isso significa?"- perguntou a si mesmo.
Felizmente, Josh não tinha acordado com toda a agitação na cama. O rapaz dormia pesado, Tyler agradeceu por isso.
Com uma expressão preocupada estampado em seu rosto, ele viu o sol nascer pela janela do quarto. Cuidou para que a luz não penetrasse no quarto e atrapalhasse o sono pacífico do companheiro.
O bilhete deitado sobre o colchão, ao lado de Josh, avisava o motivo da saída de Tyler.

Saí mais cedo para o trabalho, vejo você depois.

xxxx, Tyler.

O economista havia batido ponto na portaria da empresa antes das cinco e meia da manhã, não havia ninguém no saguão ainda.
Ele pegou o elevador até seu andar, e ao sentar na sua mesa, ao invés de trabalhar, tornou ao Google para pesquisar o significado de algumas coisas.
Pegou o papel em seu bolso, e começou a procurar pela primeira palavra escrita: cavalo
Mas antes que pudesse dar continuidade à pesquisa, Brendon entrou pela porta com uma xícara de café e uma papelada.
"Eu descobri algumas coisas"- ele disse, andando até a mesa de Tyler.
"O que?"-
"Desde ontem, eu tenho procurado algumas respostas para o que tem acontecido com você"- Brendon explicou-"Acho que descobri o mais importante"- Tyler franziu as sobrancelhas demonstrando curiosidade-"O desfoque serve para você não identificar, ou identificar parcialmente o que está sendo exibido. Quando utilizado, pode ter a intenção de esconder algo"- ele tirou os olhos do papel, para esclarecer o seu raciocínio-"Quando você me disse que Blurryface alternava de uma face nítida para uma embaçada, eu achei que talvez significasse força"- contou-"Mas, agora eu acho que quando ele está com a aparência embaçada, é porque ele não quer que você veja algo"- chacoalhou as mãos enquanto falava-"Faz sentido pra você?"-
"Mas, o que ele estaria escondendo?"- Tyler perguntou, deixando um minuto para Brendon refletir.
"Qualquer coisa que te daria vantagem sobre ele"- Tyler não disse mais nada-"Algo que às vezes fica claramente exposto pela sua aparência"-
"Como sua expressão facial?"-
"Talvez"-
Tyler passou o resto do dia pensando sobre o que havia conversado com Brendon pela manhã. E se o alter ego estivesse escondendo algo? E esse algo podia ter alguma relação com seu sonho?
O sonho, que só lembrar lhe dá arrepios. O jeito como tudo parecia escuro, e cheio de desesperança.
O celular vibrou no seu bolso e a notificação de uma mensagem apareceu na tela.
jdun: hey, eu preciso conversar com você assim que possível. E com isso eu quero dizer, assim que possível, mas antes do expediente amanhã. É urgente, na verdade. Nós estragamos tudo.