Capítulo 4

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Um mês de jogo, duas mil pessoas mortas.
A esperança de ajuda vinda de fora estava destruída, nem uma mensagem sequer fora
enviada.
Eu não vi, mas algumas pessoas disseram que o pânico e a loucura fizeram os
jogadores fazerem coisas realmente inacreditáveis. Havia pessoas chorando e outros
lamentando. Alguns tentaram até mesmo cavar na cidade dizendo que iriam destruir aquele
mundo. É claro, todas as construções eram objetos não destrutíveis tornando a tentativa um
completo fracasso.
Disseram que levou dias até os jogadores aceitaram a situação e pensarem no que
fazer.
Os jogadores se dividiram em quatro grandes grupos.
O primeiro consistia naqueles jogadores que não aceitaram as condições de Kayaba
Akihiko e continuam esperando por ajudar externa.
Eu entendo bem o que eles estão pensando. Seus corpos reais estão deitados em uma
cama ou sentados em uma cadeira dormindo. Essa era a realidade e a situação aqui era a
«falsa», eles tentavam descobrir alguma fora de sair — é claro, o botão de log out fora retirado,
mas poderia haver algo que os criadores do jogo pudessem não ter visto—
Lá fora, a companhia que vendia o jogo, Argas, deveria estar tentando salvar os
jogadores. Por isso eles esperavam para quando eles pudessem abrir seus olhos ter uma
reunião fraterna com suas famílias e voltar para escola ou para o trabalho e tornar o que eles
passaram apenas como um assunto qualquer.
Era realmente uma forma irreal de se pensar. Mas eu acredito que sentia o mesmo
que eles dentro de mim.
O plano deles era «esperar», eles não saiam da cidade e gastavam todo o seu dinheiro
que conseguiram no começo do jogo — Atualmente chamado de «Coll» nesse mundo —
economizando e comprando apenas a comida que eles necessitavam no dia-a-dia e usando
hotéis baratos para dormir enquanto andavam em grupos pela cidade sem nenhum objetivo.
A «Cidade Inicial» era ocupava mais ou menos 20% da superfície do primeiro andar,
grande o suficiente para caber um distrito de Tokyo, então ao menos 5000 jogadores tinham
um lugar para viverem.
Mas por mais que eles esperassem, nenhuma ajuda chegava. O dinheiro que eles
tinham não iria durar para sempre e eles sabiam que deviam fazer alguma coisa.
O segundo grupo consistia em cerca de 30%, 3000 jogadores, era um grupo onde todos
os jogadores trabalhavam juntos tendo como líder um administrador de um grande site de
notícias de jogos online.
Os jogadores que estavam nesse grupo se dividiam em vários grupos menores e eram
incumbidos de coletar informações do jogo, explorar a área do labirinto e encontrar a escada
ao próximo andar. Os líderes desse grupo utilizavam o «Black Iron Palace» como base de suas
operações ordenando os grupos menores.
Esse grupo gigantesco não possuía um nome, mas depois que seus membros
receberam um uniforme, alguém deu o nome para eles de «O Exército».
O terceiro grupo, de aproximadamente mil jogadores consistia nas pessoas que não
gastavam seus Colls, mas não queriam arrumar dinheiro lutando contra monstros.
E como uma nota lateral: Existem duas necessidades básicas nos nossos corpos em
SAO. O primeiro é a fome e a outra o descanso.
Eu entendo o porquê da fadiga existir. Informações virtuais e informações reais não
são diferentes para os cérebros dos usuários. Se um jogador se sentir com sono, ele pode ir a
um hotel e descansar em um dos quartos dependendo da sua quantidade de dinheiro. E caso o jogador tenha uma grande quantia de Colls, eles podem comprar uma casa, mas essa quantia
não pode ser pequena.
Porém, fome era uma coisa que muitos jogadores achavam estranho. Eles não queriam
imaginar o que estava acontecendo com seus corpos reais, mas era provável que eles estavam
recebendo nutrientes de alguma forma. Isso significava que o vazio que sentíamos não tinha
nada a haver com nossos corpos reais.
Mas se nós tivéssemos a iniciativa de comprar pão ou carne virtual no jogo e comer, o
vazio desaparecia e nós nos sentíamos cheios. Não havia como descobrir como esse estranho
mecanismo funcionava, talvez fosse melhor perguntar a um profissional da área de neurologia.
Ao mesmo tempo, o oposto também era verdade. A fome não desaparecia até nós
comermos alguma coisa. Muito provável é que não morreríamos se não chegássemos a comer,
mas isso não mudava o fato de que era difícil de ignorar. Por isso os jogadores visitavam os
restaurantes comandados pelos NPCs diariamente atrás de comida.
Além disso, não há excreções no jogo. E seja lá o que está acontecendo no mundo real,
eu não quero saber.
Mas voltando ao ponto central—
Os jogadores que não possuíam dinheiro ou que não tinham mais para comer ou
dormir normalmente se juntavam a grande organização que eu mencionei «O Exército» Isso
por que eles recebiam alguma comida se seguissem as ordens do topo.
Mas sempre há aqueles que nunca cooperam, por mais que os outros estejam
tentando. Esses que nunca se juntaram ou que foram chutados por causar problemas,
formaram sua base nas favelas na «Cidade Inicial» começaram a roubar.
Dentro da cidade, a maioria dos lugares são «Áreas seguras» onde o sistema protege
os jogadores e os impede de machucar uns aos outros. Mas não é assim fora desses lugares.
Os ladrões fazem times com outros ladrões e armam emboscadas a outros jogadores. — O que
era deveras mais fácil do que lutar contra monstros — Seja nos campos ou nos labirintos.
Apesar disso, eles nunca «mataram ninguém» — Isso no primeiro ano.
Esse grupo lentamente se tornou um pouco maior chegando aos 100 membros.
Chegando ao final, o quarto grupo era simplesmente o resto.
Eles são cerca de 50 organizações formadas por pessoas que querem concluir o jogo,
mas não querem se juntar a grande organização. Em número, eles são cerca de 500. Nós
chamamos esses grupos de «Guildas» e eles possuem a mobilidade que «O Exército» não tem,
usando isso, eles rapidamente se tornaram fortes.
Ainda havia aqueles que escolhiam serem mercadores ou ferreiros. Algo em torno de
200 ou 300, mas que em sua maioria criaram guildas para treinar suas habilidades para
conseguir o Coll necessário para viver.
E por ultimo, cerca de cem jogadores chamados de «Jogadores Solo» — Esse é o grupo
ao qual eu pertenço.
Eles são o grupo egoísta que decidiu agir sozinho para se tornarem mais fortes e
simplesmente sobreviver. Se alguém usar as informações de um deles, poderia evoluir
facilmente. Usando isso eles ganharam poder para lutar contra monstros e bandidos sozinhos,
apesar de acreditarem que não há méritos em lutar contra outros jogadores.
Um fator adicional é que o SAO não há «Mágica». Em outras palavras «não há ataques
de longa distancia com 100% de chance de acerto» e graças a isso alguém pode lutar contra
grupos grandes de monstros sozinho. Com a habilidade necessária, jogador sozinho se torna a
forma mais efetiva de adquirir experiência do que lutar em grupo.
Claro, existem riscos. Por exemplo, se uma pessoa for «Paralisada» os seus aliados
simplesmente o curariam e tudo ficaria bem, mas se você joga sozinho isso é apenas morrer.
Para falar a verdade, o maior índice de mortes no jogo pertencia aos jogadores solo.
Porém com experiência e conhecimento, a vitória se tornava compensadora sobre
todos os riscos, e os beta testers, incluindo eu, tínhamos ambos.
Toda a preciosa informação dos locais onde os jogadores solo evoluíam rapidamente
surgia entre o resto dos jogadores. E quando o jogo se acalmou um pouco, muitos dos jogadores solo saíram do primeiro andar para usar as cidades dos níveis superiores como base.
Dentro do Black Iron Palace, onde existia a «Sala de Ressurreição» durante o período
de testes, existia agora um grande monumento de metal que não estava ali antes. Nele estava
escrito os nomes de todos os 10 mil jogadores e os nomes das pessoas que já haviam morrido
eram cortados por uma linha, dizendo o horário e a razão da morte.
A pessoa que teve a honra de ser o primeiro a ter seu nome cortado apareceu 3 horas
depois do inicio do jogo.
A razão da morte não fora uma derrota para um monstro. Foi suicídio.
Ele acreditava na teoria que “De acordo como a estrutura do NERvGear, se uma pessoa
sair sistema ela automaticamente recobraria a consciência.” Por isso ele pulou em uma fenda
de metal ao norte da cidade.
Abaixo do castelo voador que era Aincrad não havia nada visível. Apenas um céu
infinito com várias nuvens. Vários jogadores o viram; um garoto pequeno caindo e gritando
enquanto finalmente desaparecia entre as nuvens.
A curta linha cortou o nome do garoto sem misericórdia dois minutos depois. A razão
da morte fora «Queda no meio do ar». E eu não quero nem imaginar o que ele sentiu durante
esses dois minutos. Não havia como saber se ele retornou ao mundo real ou — como Kayaba
tinha dito — teve o cérebro fritado.
Mas a maioria das pessoas concordava que se houvesse um jeito simples de escapar
desse jogo, as pessoas do lado de fora já teriam colocado os plugs e nos salvado.
Porém ainda era difícil de ver as coisas dessa forma. Muitas pessoas como eu achavam
difícil crer que a «Morte» em SAO era real.
Mas nada havia mudado. Quando a barra de HP chegava a zero, os polígonos que
consistiam nosso corpo começaram a ser destruídos como se anunciasse um «Game Over». É
provável que a única forma de saber o verdadeiro significado da morte em SAO seria
experimentar por si mesmo. Essa verdade fez com que aos poucos a descrença dos jogadores
diminuísse.
A contra mão, muitos jogadores que eram parte do «O Exército», especialmente os
que pertenciam ao primeiro grupo, começaram a perder suas vidas tentando concluir o jogo e lutar contra os monstros.
Lutar no SAO necessitava um pouco de prática. Era inútil tentar forçar seus
movimentos sem «confiar» eles ao sistema.
Por exemplo, para um simples golpe vertical com uma espada de uma mão, se o
jogador aprendesse a «One-hand Sword Skill» e então equipasse «Uppercut» da sua lista, ele
precisaria apenas colocar seu corpo na posição inicial; que o sistema detectaria seus
movimentos e em seguida, mover o corpo por eles. Mas uma pessoa sem habilidade que não
conseguia copiar esses movimentos era muito lenta e fraca no combate. Como se tentasse
impor comandos no sistema de batalhas.
As pessoas que não conseguiam ajustar o posicionamento de suas espadas
eventualmente perdiam para javalis e lobos que poderiam ser derrotados com alguns golpes
de habilidades comuns. E quando isso acontecia, eles apenas desistiam e corriam depois de
perder um pouco do seu HP. Elas não morriam, mas—
Diferente dos ataques de monstros 2D que você vê no seu monitor, batalhas em SAO
eram tão reais que faziam você sentir medo. Se você atacasse um monstro e corresse, ele
começaria a correr atrás de você com a intenção de matar.
Até mesmo durante o beta havia pessoas que entravam em pânico no meio da batalha,
mas agora a morte te aguarda se você perder. Esses jogadores se esqueciam de como usar
suas habilidades e fugiam, seus HPs desapareciam e eles eram expelidos desse mundo para
sempre.
Suicídios, perder para monstros. O número de nomes cortados se multiplicou
rapidamente
Quando chegou aos 2000 jogadores mortos, com apenas alguns meses de jogo, uma
nuvem de desespero caiu sobre os sobreviventes. Se o número de mortes continuasse a
aumentar nessa velocidade, todos os 10 mil jogadores estariam mortos em menos de meio
ano. Chegar ao ultimo andar parecia apenas um mero sonho.
Mas — Humanos se adaptam.
Com um pouco mais de um mês, o primeiro labirinto foi definitivamente concluído e o
número de mortes caiu rapidamente. Pessoas começaram a passar informações umas as outras para sobreviver e muitas começaram a notar que os monstros não eram tão
assustadores quando você tem experiência e havia evoluído o suficiente.
Era possível concluir o jogo e voltar ao mundo real. O número de jogadores que
começaram a pensar assim aumentou.
O ultimo andar ainda está longe, mas os jogadores começaram a ter uma vaga
esperança E o mundo continuou seguindo.
Agora, dois anos depois e com 26 andares faltando, os sobreviventes são cerca de
6000.
Essa é a situação atual de Aincrad.

Sword Art Online: Aincrad (Vol.1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora