Meu... amigo?

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Chegamos na casa de Gon por volta das oito horas. Ela era bem isolada das outras. Na verdade, a única na região. Adentramos a casa e fomos recebidos por uma mulher ruiva. Na verdade, não fomos tão recebidos assim, já que a mulher, que estava de costas, nem se virou para a porta e já começou:

- Gon! Você me deixou preocupada, eu não vi você sair! Foi ao porto de novo? Aposto que saiu escondido e foi ao porto, Gon, eu já disse que isso não faz bem para você! Mas mesmo assim, se você foi no porto, quero saber o que você ficou fazendo pelo resto do dia que... – ela para de falar quando me vê ao lado de Gon e ele sorri envergonhado.

- Ahn... srta. Mito, esse é o Killua... meu amigo. – sorrio sem graça e aceno – Ele não é daqui, então mostrei a Ilha da Baleia para ele.

- Oh... bom, prazer em te conhecer, Killua. Você tem algum parente aqui, ou...

- Na verdade, srta. Mito, Killua tinha a doce ilusão de que ia achar um hotel para ficar aqui. Como ele não tem um lugar para ficar, ele pode dormir aqui essa noite?

- Claro! Killua, sinta-se confortável para ficar o quanto quiser!

- Obrigado... – é tudo o que consigo dizer. Será que pessoas normais passam por situações extremamente constrangedoras o tempo todo ou eu que sou muito tímido?

- Bom, Killu... – disse Gon, virando-se para mim – vou te mostrar o quarto, ok?

* * * * *

Deito-me no colchão improvisado do lado da cama de Gon e olho para o teto. Depois de um bom banho e um jantar delicioso, estávamos muito cansados, então decidimos nos deitar.

- Killu...

- Gon.

- Ehr... de onde você é?

Hesito muito antes de responder essa pergunta. Eu deveria falar que moro na montanha Kukurio sem mencionar a mansão da família Zoldyck? Deveria falar o nome de alguma outra cidade? Qual das duas opções eu deveria escolher? Na verdade, eu estava tentado a falar a verdade, mas se fizesse isso e Illumi soubesse, não sei o que seria de mim.

- Killu?

- Você... já ouviu falar em uma cidade chamada... Hitachi?

- Não... – perfeito!

- Então, é de lá que eu vim. – ele fica um tempo em silêncio, então fala:

- Mas, Killu... lá em Hitachi... – fico tenso. Onde ele queria chegar? – vocês não entrelaçam os seus dedos mindinhos quando fazem uma promessa?

- Provavelmente. – rio. Eu fiquei morrendo de medo só por isso? – Mas eu não saía muito não.

- Como assim?

- Ah, Gon, eu ficava trancado em casa. Posso contar nos dedos quantas vezes eu saí. Eu não fiz nenhum amigo lá. Na verdade, eu nunca fiz nenhum amigo.

- Fez sim! – olho em direção a ele, confuso. – Eu sou seu amigo, Killu!

Alguns minutos depois de falar isso, ele adormeceu, sem mais nem menos. Sua tranquilidade é algo que me fascina e me assusta ao mesmo tempo. Já eu, não compartilho da mesma qualidade/bênção e fiquei encarando o teto sem conseguir dormir.

Somos... amigos? Nos conhecemos hoje e já somos amigos? Existe um tempo certo para determinar a amizade ou não-amizade de alguém? Eu não conheço esse mundo das relações pessoais afetivas.

Então... ele gostou de mim igual eu gostei dele? De repente, eu não sinto vontade de matar ele. Não que eu já tenha sentido, mas agora eu estou com vontade de não matar ele. Isso que é sentir algo por alguém?

Meu primeiro amigo. Minha última vítima.Where stories live. Discover now