PRÓLOGO

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Nunca fui do tipo garota certinha, nem aquelas menininhas românticas demais ou que gostam das coisas organizadinhas demais. Eu fui adotada algumas vezes quando criança, devolvida tantas outras que me fizeram perder as contas da quantidade de famílias e irmãos que tive.

Não que fosse ruim ter tantas famílias assim, as experiências que tive foram realmente maravilhosas, pois viajei para lugares que eu sequer sonhava em visitar, morei em casas astronômicas com pessoas dos mais diferentes tipos, tive até uma família libanesa e isso, meus caros, foi incrivelmente extraordinário. Cada uma das pessoas dessas famílias deixou um pouquinho delas estampado em mim.

Foi fácil e rápido levantar dinheiro em Vegas, tudo eram cálculos, na verdade. Mas o meu negócio mesmo eram as mesas de 21.

Meu nome é Meredith e vou contar como foi o ano do meu aniversário de 21 anos; sobre os amigos que fiz; as coisas que conquistei e, também, sobre como tudo que parecia ser tão certo me mostrou, no fim das contas, ser relativo.

Lembro-me claramente do meu aniversário de 21 anos, em uma mesa de 21, jogando 21 partidas. Foi realmente incrível, teve ainda um lance com 21 caras que... Bom, acho melhor você não saber disso.

O dia seguinte daquele fatídico aniversário amanheceu frio, meu celular não parava de apitar, quando me dei conta, havia acordado. Esfreguei os olhos sentindo a cabeça pesar e a única certeza que eu tinha era que não devia ter bebido tanto na noite anterior.

Cada vez que eu passava por Vegas, fosse um único fim de semana ou longas férias, eu acabava em algum lugar diferente com aquela vaga lembrança e uma enorme amnésia encontrada no fundo de uma garrafa de vodca. Provavelmente, a pior parte de Vegas eram as ressacas e quando me virei na cama, senti alguém ao meu lado, um estranho que eu havia conhecido na noite anterior e... Putz! Eu olhava para ele, mas nenhum flash me vinha, nem uma ideia ou vaga lembrança, eu só recordava do bolo da noite anterior e do Parabéns a você, depois disso, branco total.

— Ei, cara! — Dei alguns tapinhas leves no homem para que ele acordasse. Ele abriu os olhos. — Vamos, levanta e sai! — disparei séria, empurrando-o da cama.

O cara sequer se mexeu, resmungou alguma coisa e voltou a dormir. Me levantei da cama sem saber onde estava, lençóis e peças de roupas caídos pelo chão. No primeiro passo que dei pelo quarto, me desequilibrei ao chutar uma garrafa, na tentativa de me segurar em algo, movi os olhos diretamente para o feixe de luz que entrava pela janela, o que me deixou cega por uma fração de segundos. Voltei a esfregar os olhos, finalmente percebendo que estava em um quarto luxuoso de algum hotel de Vegas. As paredes eram brancas com mármore adornando portas e janelas. Havia um enorme parapeito próximo a uma delas e era forrado com almofadas aconchegantes.

Depois de desviar de outras garrafas, tropecei em alguma coisa e busquei apoio no criado-mudo, próximo da cama, melecando minhas mãos com seja lá o que tivesse derrubado ali. Esfreguei-as na blusa que eu vestia fazendo uma careta e então encontrei uma camisa que parecia masculina jogada em um canto. Peguei-a e atirei-a em cima daquele homem.

— Sai logo! — ordenei.

Nada contra acordar com um homem ao meu lado, e aquele era até bem bonito, mas eu só queria estar sozinha. Alguma vez já sentiu vontade de simplesmente ficar sozinho? Possivelmente é a segunda melhor sensação do mundo, vindo logo depois de fazer xixi quando se está apertado.

Para falar a verdade, ele era como o Céu na Terra, verdadeiramente de tirar o fôlego, visto pelas costas largas, que os lençóis deixavam transparecer. Seu braço era bem trabalhado, escondido sob uma camada generosa de tatuagens, ainda tinham a barba por fazer e o queixo imponente, digno de uma canalha Classe A. Por baixo daquilo tudo, certamente, havia um excelente motivo para que eu não me lembrasse quem ele era,

seu nome e nem onde o conheci. Sua respiração pesada me confidenciava que a noite tinha sido longa e quente, mas minha paciência, por fim, acabou.

— Ei, calma, Merezinha! A noite foi tão... — ele começou a falar, levantando-se e aproximando-se de mim. Minha cabeça doía bastante.

Seus lábios tocaram os meus no mesmo instante que ele agarrou minha cintura com força, pressionando o corpo dele contra o meu. Retribuí seu beijo sem muita expectativa, caminhando em direção à porta, que estava entreaberta. Empurrei-o para fora terminando o beijo com uma leve mordida em seus lábios. Então sorri e fechei a porta na cara dele.Pude ouvir o garoto resmungar do lado de fora, mas finalmente me sentia livre. Corri para tomar um banho, provavelmente eu estava bem atrasada, considerando ser o meu último dia em Vegas. Eu precisava desesperadamente pegar o voo para Nova York, logo era o primeiro dia do meu último ano na Universidade Venom.

Depois de alguns minutos debaixo do chuveiro, entre lavar minha cabeça, meu corpo e ter mais alguns flashes da noite anterior, saí do banheiro enrolada em uma toalha limpa e macia. Cogitei me jogar naquela cama fofinha de novo, mas logo peguei meu celular para desbloqueá-lo, dando-me conta do horário.

Recolhi depressa as garrafas que estavam espalhadas e as coloquei em um saco qualquer, deixando-o sobre a cama. Enrolei os lençóis e os chutei para debaixo da cômoda, numa tentativa de que o quarto parecesse mais "organizado". Peguei minha mala e acrescentei as roupas que estavam pelo chão de qualquer jeito, sem me preocupar em dobrar ou ajeitar nada. Por último, recolhi alguns maços de cigarros e os joguei dentro da minha bolsa de grife, cara até para os padrões de Vegas. Uma das coisas boas dos cassinos é que se podia ganhar dinheiro depressa e gastá-lo com a mesma facilidade.

Saí do quarto dando de cara com o carregador e suspirei entregando-o minha bagagem, seguida de uma considerável gorjeta. Eu ainda precisava passar no lobby do hotel e fazer o check

out.

— Enfim, mais um ano! — exclamei a mim mesma, enquanto olhava para o carregador, que, por sinal, também era bem gato. Depois de fechar minha conta, segui caminho para o táxi que já me aguardava.

Poucas vezes eu prestava atenção em como Vegas era realmente bonita naquela época do ano. Senti até certa nostalgia, pois a diversão nunca terminava, os bares abertos quase vinte e quatro horas por dia, o vaivém nas capelas de casamento, estilo fastfood, vários casais bêbados, caminhando sem rumo pelas ruas, os cassinos querendo fechar para começar o dia com uma boa limpeza, tudo parecia calmo e até o ar estava mais tranquilo. Depois de alguns quilômetros e mais algumas horas de voo, finalmente cheguei a Nova York. Coloquei meus óculos escuros Prada, joguei a bolsa por cima do ombro e arrastei minha mala até um outro táxi que me deixaria na Universidade.

Todas as vezes que eu colocava meus pés naquele lugar, por mais que já o conhecesse de cor e salteado, sempre parecia incrível. A Universidade era enorme, cada espaço perfeitamente dedicado para que os alunos se sentissem no paraíso, os jardins eram extensos e calmos, viam-se grupinhos dos mais diversos tipos por ali, alunos novos, alunos de intercâmbio e até alguns alunos velhos, por assim dizer. A minha casa, quero dizer, a casa da minha irmandade, era nada menos do que uma enorme mansão, a Mansão Wallahy, da qual eu era presidente. Honestamente, não sei bem como consegui a presidência, acho que competência e talento me ajudaram muito, mas a minha vaga devo ao diretor Richard, que agradeceu com certa veemência os bolos de dólares que recebeu.

A vida é um jogo!


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A garota de Vegas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora