CAPÍTULO 03 - EXTINTOR E OUTRAS DROGAS.

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Após o incidente com a lista de pré-aprovadas para as Wallahys e de ter minha camiseta arruinada pelo café, passei boa parte da tarde na varanda de casa esperando o mutirão de garotas desorientadas chegarem e se ajeitarem. As regras eram muito claras: limpeza, organização e estudo. Notas baixas podiam colocar a bunda de qualquer Wallahy para fora da irmandade.

Ouvi um alvoroço repentino quando vi Bloom e Bruna entrando em casa rindo. Bruna era outra veterana, loira de pele bem branca que trazia a meiguice no olhar. Talvez fosse uma das poucas que eu poderia chamar de "fofa", não era dessas que te irritam e fazem você ficar mentalmente traçando um plano de fuga. Algumas vezes ela me causava a impressão de que era de outra época, talvez até uma pin-up, devido a suas feições delicadas e a sua maquiagem de boneca, assim como suas mechas douradas em um corte impecável. Ainda que ela fizesse parte de nossas brincadeiras, eu sempre a veria como a junção de tudo aquilo que deu certo. Honestamente, eu quase não via a Bruna, mas naquele dia a vi, rindo e brincando com a Bloom em altas gargalhadas que fizeram com que eu me distraísse da minha leitura por algum tempo.

— Qual motivo de tamanha emoção? — perguntei olhando para elas.

— A Bloom deu... Extintor... — A Bruna gargalhava que não se aguentava, mal conseguia terminar a frase.

Naquele momento, me virei para a Bloom, tentando ser surpreendida por uma tradução plausível do que a Bruna dissera, mas parecia impossível, a Bloom também não parava de rir.

Depois de alguns minutos, e já um pouco mais calma, Bloom me olhou dando de ombros.

— Ela mereceu.

— A Bloom deu com o extintor na menina... —completou Bruna.

— Quê? — perguntei incrédula, sem esconder o riso que se formava no canto dos lábios.

— Não dei "com" o extintor, eu só espirrei nela. — Bloom revirou os olhos, sem desatarraxar o sorriso dos lábios.

— Uma Angel, Florence — Bruna contou. — A projeto de penosa chamou a Bloom de pobre, por estar vendendo limonada em uma barraca. Sei lá o que aconteceu, só sei que quando cheguei, a Blo gritava "Eu vou apagar o seu fogo, sua biscate!" — Continuou a rir enquanto tentava me dar mais algumas explicações.

Obviamente, caí na gargalhada, ouvindo toda aquela história, pudera! Bloom raramente se envolvia em brigas com as Angels e, por onde ela passava, deixava gargalhadas rolarem solta.

Algumas aspirantes aos poucos chegavam à nossa casa, a grande maioria das inscritas ficavam em dormitórios comuns, mas algumas selecionadas eram encaminhadas direto para nós, pois os pais tinham um poder aquisitivo fortíssimo e forçavam suas entradas ali.

No meio daquela gente toda entrando, perdida na mansão, consegui observar uma garota pelo canto dos olhos. Ela tinha uma beleza nipônica semelhante a cantoras de K-pop e um jeito gótico de se vestir que ia do escuro de suas unhas stiletto até sua vestimenta pesada brindada com rasgos que contrastavam com seu cabelo acinzentado de pontas cor-de-rosa. Evidente que estreitei os olhos para a garota, mas logo dei de ombros e voltei a atenção para Bruna que não parava de rir.

— Aquela menina, Alice, se não me engano, deixou as coisas e saiu vazada, alguém sabe dela? Gostei da ficha... — perguntei. É claro que a garota tinha influência, já que eu a havia mandado para os dormitórios comuns, mas vi as coisas dela aglomeradas em um canto da sala.

— Ah, você não gostou, não! — disse Bloom, depressa, fazendo aquele bico enciumado. — Não quero que goste de nenhumazinha delas. — A expressão emburradinha que a Bloom fazia era realmente encantadora.

A garota de Vegas (Degustação)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora