A garota de Vegas (Degustação)

CAPÍTULO 01 - CHEGADA À UNIVERSIDADE.

Eu estava ansiosa por mais um dia na Venom. É claro que eu sentia falta de Las Vegas no mesmo segundo em que a deixava, mas eu também sabia que ela sempre me receberia de braços abertos. Esses eram os dois lugares que mais me faziam feliz, onde eu realmente me sentia em casa.

Nós, Wallahys, costumávamos chamá-las de "Patricinhas Descerebradas". A rixa entre Angels e Wallahys era bem antiga, possivelmente desde antes de eu pensar em existir. Acho que mantivemos esses desentendimentos ao longo dos anos mais como um rito do que qualquer outra coisa. As Angels, mais populares, disputavam espaço no campus com as Wallahys, ou Walls, como eu gostava de chamar. A fama era de que nós éramos as mais inteligentes, era como uma disputa entre corpo e cérebro, não que as Wallahys fossem feias ou que as Angels não tivessem alguma inteligência, mas não fui eu quem traçou esses padrões. Não estou me gabando por estar entre as mais inteligentes, contudo, era como conheciam as Wallahys até meados da minha entrada, onde passamos de inteligentes, nerds e desajustadas para inteligentes, espertas e bem relacionadas — além de festeiras, obviamente.

Logo depois da mansão das Angels, vinha a mansão Hellfire, uma casa branca e enorme que abrigava a burguesia do campus. Os garotos, em regra, eram playboys engomadinhos e muito ricos que se achavam os donos do pedaço e sempre tinha uma ou outra Angel circundando por lá.

A terceira mansão do campus era a nossa, uma casa antiga e bem cuidada com iluminação mediana. O seu interior era de cor creme, entalhado em ouro envelhecido, onde todos os cômodos eram enormes e tinham uma entrada deslumbrante. A grande maioria das moradoras tinha um poder aquisitivo elevado, como eu. Algumas eram mais quietas, outras mais extrovertidas e efusivas e havia também algumas meio maluquinhas. Não sei bem em qual categoria eu me encaixava ali, mas esse detalhe fica para outra oportunidade. Por fim, vinha à casa dos Rockers. Não eram ricos ou inteligentes, em geral, eram atletas e até meio porcos, para ser honesta.

Quando cheguei ao campus, fui direto para casa. Havia muitos rostos novos por ali, o que nem fazia diferença, já que eu não gostava muito de me enturmar com qualquer um, ainda mais se tratasse de uma Angel ou de um Hellfire, nunca tive muita paciência para aquele circo todo. Além disso, em casa eu guardava os meus maiores tesouros, como livros e bebidas. É claro que bebida alcoólica não era permitida no campus, mas ser presidente tinha lá suas vantagens, eu sempre conseguia esconder uma ou outra garrafa.

Eu realmente sentia falta daquele lugar, do cheiro fresco das árvores na entrada e dos lençóis recém-trocados. Eu tinha feito uma decoração bem interessante no meu quarto no semestre anterior, me desfiz de uma cama velha de madeira maciça cheia de rococó e a substituí por uma bela cama box com lençóis novos. Sob a cabeceira, pendurei um letreiro piscante com a inscrição "And I say I love you...". Uma escrivaninha, prateleiras e mais prateleiras repletas de livros cobriam outras paredes. Era bem colorido e cheio de vida, muito diferente da velharia que encontrei na primeira vez em que estive por lá. Havia sobre a cama uma manta de pele branca e, ao lado, uma arara de roupas. O chão era forrado por um tapete de zebra cheio de estilo.

Eu me joguei na cama fofa esticando a mão para alcançar a garrafa de gin que havia guardado no armarinho ao lado. Comecei a beber no gargalo enquanto escutava "Don't Stop me Now", da banda Queen, no volume mais alto que eu conseguia.

Passei alguns dias sozinha ali, com a casa só para mim, como sempre acontecia no início dos anos letivos. Eu estudava, andava para cima e para baixo só de calcinha, com trancinhas nos cabelos e comendo Nutella, e fazia um show particular de karaokê com as vassouras enquanto arrumava tudo para que a chegada das novatas fosse inesquecível. É evidente que eu daria uma enorme festa de boas-vindas, eu nasci com festas, cresci com festas e respirava festas!