Capítulo 1: A Bela.

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Há uma história de muito tempo atrás, onde um jovem príncipe, conhecido por sua beleza estonteante e sorriso abrasador, foi amaldiçoado por uma velha bruxa. Ela jogou uma praga nele e em todos do castelo que lá moravam. O jovem príncipe teve que ver seu corpo ser transformado em um monstro horrível e assustador, e não conseguia entender o porquê daquilo. Ele se trancou no castelo e nunca mais saiu; ninguém o visitaria, pois, seu castelo ficava muito longe do pequeno vilarejo, e mesmo que a distância não fosse um problema, ninguém ousaria chegar perto de uma besta. Com o tempo, ele apenas ficou esquecido por todos que tocaram suas vidas. Sua maldição virou apenas uma lenda urbana como outras quaisquer.

***

- Bom dia sol! - disse Isabela para si.

A garota acordava cedo para trabalhar em seu jardim aos finais de semana. Isabela fazia sempre a mesma rotina: acordava cedo, se arrumava, ligava a música alta e ia para o jardim.

"É... a vida está monótona demais. Claro que a paz e tranquilidade que eu tenho não têm preço, no entanto, no final das contas não tenho ninguém... Ah, esquece isso, Isabela!" Pensou sacudindo a cabeça, afastando os pensamentos melancólicos.

- Acho que vou à biblioteca daqui a pouco, estava precisando devolver alguns livros mesmo...

Isabela trabalhou duro em seu jardim, plantando e replantando, regando e colhendo algumas coisas da sua pequena horta; ela adorava conversar com suas plantas. Devia ser por isso que seu jardim era o mais lindo de todos. Após terminar tudo, foi até o centro da pequena cidade, – que antes era apenas um vilarejo pequeno – devolver os livros.

Caminhando pela cidade, a garota sempre observava com atenção tudo ao redor. Notava os olhares das pessoas quando cruzava com os dela, alguns curiosos e outros demonstravam antipatia.

- Com licença...- disse adentrando a pequena biblioteca.

- Oh, filha! Pode entrar, pode entrar! - exclamou o bibliotecário.

- Oi, senhor. Eu vim devolver estes livros aqui. - disse Isa estendendo a mão.

- Oh! Sim, sim, sim... Só um momento. – O senhor abaixou-se atrás do balcão para pegar um caderno no qual anotava tudo. Enquanto preenchia-o, Isabela começou a olhar ao redor para ver se tinha outros livros que lhe interessassem.

Bem no fundo da biblioteca havia um canto que passava quase desapercebido. Ela empurrou um pouco a estante que praticamente tampava a visão da outra. Quando a afastou pôde ver que havia livros lá, embalados e praticamente novos. A garota logo se animou e com cuidado retirou-os de lá, levando-os até o balcão, onde encontrava-se o bibliotecário. - Quero levar estes! - disse animada.

- Deixe-me ver, senhorita. - Ele ajeitou os óculos, olhou atentamente a embalagem de um deles e sua expressão mudou na hora - Onde... Onde achou isso? – perguntou com uma voz trêmula.

- O que houve? Estes livros peguei lá atrás, estavam praticamente escondidos entre uma estante. Eu a afastei para pegá-los – a garota respondeu notoriamente confusa.

- Eu nunca contei isso para ninguém, mas... - fez uma pausa, levantou a bancada para sair e levou a menina até um dos corredores mais ao fundo – Há algum tempo eu recebi uma carta misteriosa, contendo nela apenas um certo endereço que eu nunca ouvi falar, então pensei que fosse alguém que tivesse se mudado e queria devolver algum livro que acabou levando consigo e de alguma forma não poderia vir até aqui. Então eu me prontifiquei a ir, afinal isso é costumeiro para mim. No entanto...

- No entanto...? – secundou.

- Quando cheguei lá, me deparei com um castelo enorme! Eu mal pude acreditar no que estava vendo! Eu caminhei até a entrada. A porta estava meio aberta, então tomei a liberdade de entrar. – Continuou.

- Sério?! – Isabela ficou boquiaberta.

- Eu ouvi um ruído; quando me virei na direção do barulho, um monstro horrível avançou em cima de mim e começou a me fazer perguntas como: "onde está a bruxa?" e "você é ela ou apenas um patético protegendo-a?". Eu respondi que não sabia de nada; minhas mãos tremiam, mostrei meu cartão de visitas e expliquei que só fui porque havia recebido o endereço dele e achei que fosse alguém querendo devolver algum livro ou de repente doar... - a mão do bibliotecário estava suando e seus globos oculares tremiam.

- Espera... Um monstro? Como conseguiu sair vivo de lá? - perguntou Isabela chocada.

 Um monstro? Como conseguiu sair vivo de lá? - perguntou Isabela chocada

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- Bem... Ele me amarrou para que eu não escapasse. Fiquei apavorado achando que seria devorado, no entanto ele pediu para que eu esperasse. Como se eu tivesse escolha... – pausou – Em poucos instantes voltou com estes livros em sua mão ou... pata? Jogou-os em cima de mim, me desamarrou e disse que era pra nunca mais voltar lá e não contar a ninguém sobre o que vivi ali, senão algo terrível me aconteceria.

A garota estava sem fôlego, seu coração parecia estar saindo pela boca ouvindo aquela história.

- Onde você achou esse castelo? - perguntou com os olhos fixados no velhinho.

- Nas profundezas da floresta - respondeu.
Eles caminharam novamente até o balcão onde os livros estavam...

Chegando lá, ele pegou o papel que outrora estava em mãos e registrou o empréstimo dos livros em questão. A menina o encarou, perplexa.

- Você ainda quer me emprestar esses livros?

O velhinho tirou os óculos e em poucos instantes soltou uma gargalhada, que falhou um pouco quando o mesmo tossiu.

- Espera! Era mentira? Senhor...! - reclamou a menina irritada por ter sido enganada.

- Senhorita, você lê muitos livros. Pelo que vejo, tem uma ótima imaginação. – Declarou com um sorriso nos lábios.

Isabela, apesar de irritada, não conseguia esquecer aquela história tão marcante e surrealmente realista. No caminho de volta para casa, ficou pensando apenas nisso.

Ao chegar em casa, retirou os livros da sacola e os espalhou pela mesa. Cortou o plástico que envolvia um dos livros, folheou cada um, mas infelizmente não achou nada de interessante.
"Por que aquela história mexeu comigo? Se era mesmo mentira, por que ele parecia tão desesperado e assustado ao contá-la?" Essa pergunta ecoava em sua cabeça, fritando seu cérebro e perturbando toda a sua paz.

A Bela e a FeraWhere stories live. Discover now