Capítulo 3: Sentimentos.

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- Espera... Por que fez isso? Por que teve que me marcar, decretando o que será da minha própria vida? Eu tenho que decidir se ficou ou não! - Incrédula e ao mesmo tempo sentindo o cansaço mental e espiritual consumir seu ser, não conseguia dizer mais nenhuma palavra sequer. Manteve seu olhar cravado na Fera. Ele mantinha uma expressão presunçosa e arrogante ao encará-la de volta. O mesmo também não se dirigiu a ela. Subiu as escadas que ficavam centralizadas, cobertas com um carpete vermelho bem desgastado e sujo. Isabela deduziu que ele a levaria para algum quarto onde pudesse descansar e o seguiu.

Eles caminharam por corredores extensos e iluminados apenas por velas, rodeados de estátuas de demônios horripilantes demais. Quando finalmente chegaram, notou que a porta do quarto em questão era mais delicada e cheia de detalhes em ouro. Ela entrou no quarto e sem se virar fechou a porta na cara da Fera, que bufou em descontentamento. Contudo, nada fez, apenas voltou aos seus aposentos.

Isabela olhou pela janela e mal conseguia acreditar que um dia inteiro havia se passado, parecia inacreditável. Desde que chegou no castelo havia notado o céu nublado tomado por nuvens escuras dando um ar ainda mais horripilante para aquele cenário. Com certeza naquela altura do campeonato não ousaria se arriscar a voltar para casa. Seria suicídio.

O quarto era grande, porém mal cuidado. A cama era grande e muito macia, o papel de parede florido estava se soltando da parede que apresentava manchas de mofo. Estava confusa demais. Em uma manhã estava em seu jardim, e em outra indo se aventurar para encontrar um castelo de uma história maluca que ouviu de um velho. E o mais bizarro era conseguir manter-se firme ao se deparar com uma besta enorme, duas ou três vezes maior que os lobos de outrora.

Ficou olhando durante um tempo pela janela pensando mil e uma coisas. Seu cerne doía. Entregue ao cansaço, Isabela jogou-se sobre a cama e adormeceu.

***

O sol invadia o quarto, fazendo a garota despertar. Ao abrir os olhos, notou que tudo era real. Lá no fundo desejou acordar em sua cama ou em seu carro – do qual nunca deveria ter saído. Estava decidida a ir embora daquele lugar, não importasse como. Percorreu o quarto até a porta que abriu devagar, olhando ao redor. Com o amanhecer as nuvens se dissiparam um pouco, permitindo que o sol iluminasse os corredores.

Isa caminhou de um lado a outro. No começo estava perdida, mas por fim conseguiu chegar ao salão. Desceu as escadas sem se preocupar com o barulho emitido com a pisada sobre a madeira envelhecida. Notou que uma parte do corrimão estava solta; com um chute ela soltou o pedaço de madeira, pegou e carregou consigo para fora do castelo. Caso os lobos aparecessem, teria como ganhar algum tempo para fugir.

Correu para o mais distante do castelo, revisando seu olhar pela retaguarda, caso a Fera aparecesse. Passou pelo arbusto de espinhos e, antes de sair, examinou o local, que aparentemente estava seguro. Percorreu o mesmo caminho que havia feito anteriormente, correndo o mais rápido que pôde. Enquanto corria, não conseguia entender onde haveria uma rota segura, sendo que a única coisa que viu foi o mesmo caminho. Em um esforço enorme, a garota finalmente conseguiu voltar para o mesmo lugar onde havia deixado seu carro.

- Ufa! Meu carro ainda está no mesmo lugar... e o melhor de tudo, não está destruído! - disse aliviada. Entrou no carro mais do que depressa, ligando e dirigindo a toda velocidade de volta para casa.

O carro foi estacionado com pressa em frente da sua casa. Abrindo a porta, pôde sentir o cheiro da sua casa, era maravilhoso estar de volta.

Sentou-se na cadeira e debruçou-se sobre a mesa, soltando o ar aliviada. Fechou os luzeiros por um momento e a imagem da Fera tomou conta da sua mente, perturbando-a. A marca deixada pela Fera não ficava marcada externamente sobre a pele, no entanto o peito da jovem pulsava, sentia uma dor inexplicável. Quase como se tivesse deixado para trás uma parte do próprio ser. Em uma ação impensável, pôs-se de pé e percorreu sua casa, arrumando todas as suas coisas e as guardando em malas.

A Bela e a FeraWhere stories live. Discover now