Capítulo 3

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Os pátios já estavam praticamente escondidos pelas últimas folhas acastanhadas e secas que caíam dos seus ramos. Dentro de poucos dias começaria a nevar. Os variados tons de castanho e cinzento pela qual era tomada a paisagem tornavam-se tremendamente mais interessantes que ouvir a Mrs. London falar sobre átomos, eletrões e ligações covalentes.

Apesar do céu estar nublado e de estar frio fora do Campus, não existiam sinais de que iria chover. Eu gostava do tempo assim...

Deixei-me distrair por uma folha que se aproximava da janela lentamente. Imaginei-me a ser aquela pequena parte da natureza, deslizando de vento em vento até pousar por uns segundos e retomar a minha viagem. Imaginei-me a passar por todas as janelas de todos os edifícios e por todos os jardins existentes da mesma rua. Imaginei-me a observar a vida das outras pessoas e vivê-las durante alguns segundos, minutos ou até horas, dependendo do que a próxima rajada de vento me permitisse fazer. Imaginei-me ainda a ser levada para casa de outra pessoa, uma criança feliz tinha pegado em mim e tinha-me oferecido ao pai com todo o carinho e este, para não desapontar a menina, tinha agarrado em mim com todo o carinho. Neste momento fazia parte de uma família e eu própria era um gesto de amor e carinho...

No entanto, a minha realidade é outra e por enquanto tenho de lidar com Química A para poder vir a ser esta folha na vida real.

Ouviu-se a campainha ecoar no corredor e rapidamente todos os alunos saíram da sala de aula, rumo á próxima aula. Não me diferenciando, peguei nos livros e na bolsa e saí, mas não sem antes lançar um último olhar aos tons de cinzento da janela. No espaço de milésimas de segundo, pareceu-me ver uma sombra escura perto de um dos bancos do pátio, a sombra de alguém que já não mantinha contacto há cerca de um mês...

Redirecionei o meu olhar para o banco, mas apenas este e algumas folhas permaneciam naquela zona. Ignorei a traição dos meus olhos e todos os pensamentos acerca de Nathan, e enfrentei mais um dia entediante de aulas.

*

- The club isn't the best place to find a lover so the bar is where I go... Girl you know I want your love... I'm in love with the shape of you... - Acompanhava o Ed Sheeran na sua nova música que entoava nos meus fones. Peguei nalguns trocos que tinha no bolso direito do casaco e empurrei-os para dentro da máquina de snacks e doces que havia na cafetaria, esta que me retribuiu com o snickers que eu pedira.

Dirigi-me a uma das mesas de vidro colocadas ao lado das enormes janelas com intenção de aí ficar nas próximas 2 horas a estudar. Contudo, fiquei com preguiça de tirar os livros, portanto fiquei só a acumular gorduras acompanhada agora pela voz do Freddie Mercury e pelas árvores despidas que rondavam o Campus.

Senti a aproximação de alguém e olhei em frente. Ainda pensei que fosse algum professor com o intuito de me reprimir por estar com os pés em cima da cadeira almofadada. Porém, era Thomas acompanhado pelos amigos e por Emily.

Já me tinha perguntado por onde é que ela andaria, mas a resposta era óbvia visto que agora namora com o amiguinho jeitoso de Thomas. Permaneci com os fones postos até eles se sentarem na minha mesa e começarem a falar entre si, à exceção de Thomas cujo seu olhar se deteve em mim.

- O que é? – Resmunguei por ter sido obrigada a acabar com o solo do meu querido Louis Tomlinson por causa de um olhar, um estúpido olhar.

- Já é proibido olhar? – Ripostou. Revirei os olhos e levantei-me, mas rapidamente uma mão me travou ao agarrar o meu pulso. – Ainda agora chegámos.

- Exatamente. – Forcei um sorriso.

Tentei retomar o meu caminho mas percebi que Thomas não me ia deixar ir embora. Então, amuada, voltei a pôr os joelhos contra o peito e deixar a música embalar-me mais uma vez, porém, desta vez mais baixa para ter também em atenção a conversa em meu redor.

As risadas do meu "grupo de amigos" era incrivelmente contagiante e não pude evitar soltar umas gargalhadas também, mesmo não estando a compreender bem o assunto em questão.

- Então tu simplesmente foste até uma floresta que afinal não passava de um conjunto de 10 árvores á procura de... - Tentava Perez, no meio de risos incrontroláveis, pronunciar-se. Risos estes que se desvaneciam assim como todo o ruído à minha volta, nem mesmo a suave voz do Troye Sivan escapava ao silêncio pelo qual a minha cabeça estava a ser envolta. Isto tudo pela concentração que eu tentava manter ao olhar pela janela e tentava perceber o que estava pousado em cima de um dos bancos de madeira... Seria? Não...

Despedi-me deles e saí da cafetaria lentamente para não levantar suspeitas. Contudo, assim que saí do campo de visão de Emily e companhia, desatei a correr até a porta mais próxima que me levaria ao pátio.

Inspirei fundo e preparei-me para enfrentar a mudança radical de temperatura a que me iria sujeitar ao abrir as portas. Continuei a correr até ao banco para o qual tinha olhado há uns segundos, mas estava vazio, nada estava pousado neste além de algumas folhas que rapidamente voavam com o vento forte que se fazia sentir. Olhei em redor, confusa, à procura... Talvez o vento o tivesse levado, talvez eu tivesse visto mal...

Perante todas estas dúvidas, encontrei todas as certezas quando me senti ser puxada para debaixo dos arcos que envolviam o pátio e que nos protegiam de todos os fenómenos da natureza à exceção da incrível baixa temperatura.

- Tiveste saudades?


***

Deixo aqui o terceiro capítulo. Espero que gostem e que permaneçam interessados.

Obrigada a quem permanece atento à história. Adoro-vos e beijinhos!


x, Rain of lost words

OliviaWhere stories live. Discover now