Capítulo V - E agora?

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Depois do sucedido, nada mais foi igual. Vitória e Lourenço estavam bastante próximos – demasiado, talvez. Falavam todos os dias, assim que Lourenço chegava a casa. Brincavam, saíam, iam ao cinema aos fins de semana. Tudo parecia ir de vento em poupa. Para Vitória, mais perfeito, impossível.

- Pára quieto, que estou a ficar encharcada.

- Pensei que fosse essa a ideia.

- Não. A ideia era tu ficares encharcado, por isso, vamos lá fazer as coisas em condições.

Lourenço estava de férias naquela semana, pelo que esta foi dedicada inteiramente a Vitória. Finalmente, ele estava com a rapariga dos seus sonhos. Não a tinha, mas estava com ela. Agora, ele podia tocar-lhe sem medo, abraçá-la sem receio, contar-lhe os seus mais íntimos segredos e mais do que tudo abrir-lhe o seu coração e mostrar-lhe verdadeiramente o que sentia. Esteve três anos sem perceber quem era aquela rapariga de cabelos longos encaracolados e olhos cor de chocolate, mas que tanto o fazia arrepiar de cada vez que passava por ela. Neste momento, ele tinha a absoluta certeza que era amor. Neste momento, nada temia. Ele entendia-a e podia tocar-lhe, sentir que ela era real e não um fruto dos seus sonhos. Sim, por uns momentos, ele duvidou da sua sanidade, duvidou da veracidade daquilo que presenciava. Agora, ali, de mais nada podia duvidar. Só havia um facto que ele não poderia esquecer, mas que o fez durante umas longas semanas: a existência de Lucy.

Lucy era desmedida, bastante boca de sapo, na verdade. Não suportava ser magoada, principalmente quando essa dor advinha de uma humilhação. Era assim que se iria sentir quando chegasse de viagem: humilhada. Um namoro de mais de cinco anos não poderia acabar da noite para o dia, principalmente depois do que Lourenço andou a fazer durante as férias.

- Vais lhe dizer? – Faltava um dia para Lucy chegar e as dúvidas não existiam mais.

- Se lhe vou contar? É claro. Agora como não te sei dizer. O certo é que vou acabar com ela. De outra maneira não te posso tocar, por isso, tenho de resolver o assunto o mais depressa que conseguir.

Eles tinham passado o mês sem sequer terem trocado um beijo. Um único sequer. Essa era a condição de Vitória para não se sentir ainda mais culpada. Não que faltasse vontade. Era o que Vitória mais queria naquele momento. Mas não podia. Havia uma coisa que sempre lhe fora dita e que fazia, sem dúvida, parte da sua ética: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. E Vitória não queria que um dia, mais tarde, Lourenço lhe fizesse o mesmo. Lucy era um impedimento, mas também era uma pessoa, apesar de todos os defeitos.

Era bastante difícil para ambos passarem tanto tempo sem se tocar, principalmente quando as emoções dos dois estavam à flor da pele. O desejo estava em tudo o que tocavam, em tudo o que faziam. Eles queriam-se acima de tudo. Tanto que o medo de ser só desejo começou intimamente a incomodá-los. E se fosse mesmo só isso? DESEJO? E se depois tudo se desvanecesse sem mais nem menos e tudo aquilo que estavam a sentir deixasse de fazer qualquer sentido? Os olhares começaram a mudar depois disso. Eles tentaram evoluir e perceber o tamanho de todos aqueles sentimentos, porque se tudo não passasse de paixão, de proibição, então não valeria a pena continuarem a envolver-se. Ambos sofriam com o que estavam a pensar. Ambos pensavam naquilo pelo o qual estavam a sofrer, sem saber o que fazer depois de acontecer tudo aquilo que eles estavam à espera de acontecer.

Um dia, deixaram-se levar. A Vitória, mergulhada por toda aquela explosão de sentimentos que lhe inundava o pensamento deixou-se ser tocada e beijada. Lourenço pegou nela e tentou levá-la aonde nunca ninguém a tinha levado. Encostou-a à parede num abraço apertado, colando todo o seu corpo ao dela. O suor começou a sair do seu corpo querendo mais e mais. Só ele sabia como queria levar aquilo adiante. Meigo e intenso, fez dela o seu anjo, o seu mundo. Sempre com medo de ir longe demais, foi ficando impressionado com a forma como Vitória insistia em tocar-lhe, enquanto o chamava e dizia o quanto gostava dele. Lourenço gostava da forma como ela dizia o seu nome, principalmente quando enquanto isso se agarrava aos cabelos da nuca pressionando o corpo para a frente. Eles queriam ocupar um vazio que já não era possível existir. As emoções e o desejo foram se intensificando enquanto tocavam em cada parte do seu corpo. Lourenço esqueceu Lucy e todo o tempo que esteve com ela. Ele só queria viver para sentir aquele momento.

- Não! – diz Vitória enquanto desce sem hesitar do colo de Lourenço, ainda que o desejasse mais e mais.

Lourenço volta a puxá-la para si e a envolve-la no seu abraço, sendo ainda mais intenso, desta vez levando-a para a cama. Ele sabia que ela o queria. Sabia pela forma em que como ela o tocava, o beijava. Mordia-lhe o lábio inferior sempre que sentia o quão errado aquilo era e suspirava, voltando a beijá-lo com toda a intenção daquilo que esperava que acontecesse ali e agora. Se não fosse, não seria mais. E deixou-se levar. Deixou que ele lhe tirasse cada peça de roupa do seu corpo. Ela não sabia o que fazer ao mesmo tempo que todo o instinto natural a levasse a fazer o inimaginável. Quando deu por si já estava debaixo dos cobertores, sentindo toda a adrenalina e desejo do momento. Quanto mais errado lhe parecia, melhor aquilo lhe parecia. Nada a assustava, nada tinha a temer. Sentiu cada músculo do corpo de Lourenço a contrair-se, e percebeu que ele a queria, sempre a quis. Enquanto contraia os músculos, ia procurando ainda mais o seu corpo. Ele queria encontrá-la, sentir o corpo dela no seu. Parecia que quanto mais lhe tocava, menos satisfeito ficava. Isso deixou-o ainda mais entusiasmado, porque por mais que ela estivesse ali com ele e para ele, parecia que Vitória poderia fugir se ele fechasse os olhos. Vitória percebeu o extâse em que ele estava, dando-lhe gozo cada toque, porque sabia que lhe agradava. Ainda assim, estava curiosa. O que estaria ele a pensar naquele momento? Iria deixá-la depois daquilo? Não quis saber. Nada seria igual de qualquer maneira.


"Colocaste o Karma entre a Espada e a Parede" - Por Bruna FernandesWhere stories live. Discover now