Capítulo VII - Surpresas e Incertezas

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O final daquele dia não foi fácil. Vitória estava nervosa e agitada, com o pensamento completamente cheio de suposições e expectativas. Mas de uma coisa tinha certeza: Não poderia levar tudo aquilo avante. Ainda que quisesse, não podia. Muito menos agora que sabia que o que sentia nada se comparava a Amor. Queria-o. Queria-o com todas as suas forças, mas apenas para voltar a sentir tudo outra vez. Tudo o que tinha acontecido naquela tarde.

Desejou que Lourenço a voltasse magoar, que voltasse a ignorá-la. Que toda a dor que sentiu durante anos surgisse de novo e lhe arrebatasse o pequeno mundo que construiu à volta de toda a sua história, porque foi tudo isso que a fez chegar exatamente no ponto em que estava. Num êxtase louco que a fez entregar-se a ele. Não se sentia arrependida, porque tudo se passou exatamente como teria de acontecer. Eles esperaram até onde conseguiram, sonhando com o momento em que os seus corpos se iriam unir e que todos aqueles anos em que acumularam sentimentos fossem compelidos num só. Vitória não se poderia arrepender da primeira vez. Mas poderia arrepender-se do facto de se ter entregado a um rapaz comprometido, quando sempre defendeu a fidelidade acima de tudo. Foi por isso que ela não tocou em Lourenço durante o mês que passaram juntos. Foi por isso que nunca se tinha aproximado dele nos primeiros anos em que o conheceu. E, agora, as suas ações demonstraram exatamente o contrário.

Quando chegou a casa tomou um banho e chorou. Chorou muito. Deixou que água lhe escorresse pelo corpo, pois esta acompanhava o seguimento das suas lágrimas. O que iria a mãe dizer se desconfiasse? O que diria Leonor? "Preciso de contar a alguém", pensou. "Leonor". Não sabia como, mas teria de lhe contar, pois esconder traria muito mais consequências do que lhe omitir uma verdade que um dia viria ao de cima. Se isso acontecesse, Vitória queria ter alguém a quem recorrer. Saiu do banho num salto, transformou-se completamente, não querendo que a mãe lhe decifrasse a expressão. Respirou fundo e ligou a Leonor.

- Oi Oi – começou – Tudo bem, princesa?... Hum Hum eu também. Olha, preciso de falar contigo urgentemente. Podemos ir comer qualquer coisa? Um cinema? Um lanche?... Sim, pode ser amanhã...por volta das 14.30h?...Boa, até amanhã... Não te preocupes, não é nada de grave. És capaz de aguentar?... Pois, mas vais ter de aguentar...Até amanhã. Beijo.

"Mensagem de Leonor:

Tu sabes que não me podes fazer isto. Agora nem vou dormir."

Vitória, sorriu ao pensar o quão danada estava Leonor. E, depois, ficou cabisbaixa, pensando na sua reação. Levantou a cabeça e voltou a interpretar a personagem de menina feliz. Só teria de aguentar o jantar. "Bem, vamos lá!", e foi ter com a família.

- Então como foi o dia? – perguntou a mãe de Vitória

- A pasmaceira de sempre. Estas férias de verão dão cabo da minha paciência.

- Estiveste com o Lourenço? O que andaste a fazer?

"Boa, mãe...Tiro certeiro no sítio onde mais dói!"

- Sim, ele insistiu em ver um filme chato dos tempos de adolescente dele – mentiu – como se fosse um homem de 60 anos. Aquele rapaz não tem noção! Acabei por adormecer e lá se foi a tarde. Desperdício de tempo. – disse, mostrando-se verdadeiramente incomodada.

- Haha. Que filme? – Perguntou.

-Star Wars III. Eu até gosto das coisas que envolvem os filmes, mas nunca consegui ver nenhum até ao fim – "Caramba, isto está a correr bem." – E, pelos vistos, ele também não. Adormeceu na primeira meia hora. – Disse, rindo-se às gargalhadas.

-Vocês deviam sair mais. Sei que ele trabalha, e assim, mas tirar um tempinho para te levar a fazer alguma coisa que gostes, não lhe ficava mal.

- Acho que vocês se esquecem um pouco que existe alguém na vida dele, chamada Lucy, e que chega dentro de poucos dias. E eu não quero que ele me leve a um sítio bonito. Eu nem sequer sei o que quero ao certo. – "Ups."

"Colocaste o Karma entre a Espada e a Parede" - Por Bruna FernandesWhere stories live. Discover now