Capítulo XIX - A Dupla Escolha de Lourenço

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Lourenço estava desesperado. Depois de duas noites mal dormidas, não conseguia pensar com racionalidade. Lucy chegaria dentro de poucas horas. Não sabia o que lhe dizer. Não sabia o que fazer e como reagir. Só pensava em Vitória e na tarde que tinha passado com ela. Pensava também que depois de ter passado dias a fio com ela, já não a via há dois dias. Tantas mensagens lhe deixara e ela limitou-se a ignorar cada uma delas. E mesmo quando respondeu, foi o mais seca possível. Ele sentiu que a ia perder no minuto em que ela saiu de sua casa naquele dia.

Lembrava-se perfeitamente do primeiro dia em que lhe chamara a atenção aquela rapariga na altura com uns longos cabelos encaracolados. Deu com ela a olhar para cada um dos seus passos e fixou o seu olhar no dela. Naquele momento, sentiu algo que não sentia desde os primeiros meses em que se envolveu com Lucy. Tentou ignorar na altura o que o seu corpo lhe pedia, mas a sua cabeça o obrigava a lembrar-se daqueles olhos castanhos. Lembrava-se de a achar muito estranha, ainda assim de uma forma interessante. Não parecia igual às outras e nesse mesmo instante a coragem que teria para se aproximar desvaneceu-se. Mesmo quando tentava fazer uma piada ou outra, ela recusava-se a falar, ignorava-o e fingia que não o ouvia. "Qual é o teu problema?", lembrava-se de ter pensado. Por muito que tentasse não conseguia perceber porque Vitória era tão inatingível. Dava com ele em louco tanta ignorância e desprezo, pois sabia que os olhares que trocavam falavam mais alto do que qualquer palavra. Começou então a tomar cuidado para perceber alguns detalhes acerca dela, como a sobremesa que mais gostava, a bebida que pedia. Viu-se a tentar agradá-la das maneiras mais estranhas, mas nada. Nada a fazia quebrar. Entretanto, percebia que estava encalhado numa relação de cinco anos (agora dez) com alguém, cuja vida não era compatível com a sua. Muitas vezes, se perguntava porque estava ainda com Lucy. Nunca encontrava resposta e por isso mantinha a relação. Por comodismo talvez. Pouco tinha conhecido além disso. Depois apareceu Vitória e os seus jogos mentais para lhe darem a volta à cabeça.

Olhou para o relógio "4h31 da manhã. Bonito", pensou. Levantou-se e foi à janela. Suspirou ao olhar para a janela oposta à sua e voltou a correr a persiana, fechando-a completamente. Foi à cozinha e encheu um copo de água, "Desnecessário. Nem tenho assim tanta sede!". Ficou a olhar o vazio durante um longo tempo, tentando encontrar mil uma razões para não ir buscar Lucy ao aeroporto naquele dia. Não tinha paciência e, principalmente, não sabia como lhe contar.

- Hey, acordado a esta hora, moço?

- Não tenho sono. Não durmo há duas noites.

- O que é que te tem ocupado tanto a mente, que nem consegues encontrar a vontade de dormir?

- É mais o que me tem ocupado o coração, maninha... Eu pensava que era a mente, ou outra coisa, mas agora é que percebo que o coração é que está a dar voltas cá dentro.

- Estás a falar da Lucy? Ou...da Vitória? – perguntou, Alice, irmã mais nova de Lourenço.

- Não sei o que fiz comigo. Tu sabes que com a Vitória era uma brincadeira bem no início. A curiosidade matava-me só pelo simples facto de ela não me ligar nenhuma. Pensei que assim que lhe desse a volta, o brinquedo deixa-se de ter graça.

- E eu disse-te para não o fazeres. Para não brincares com o brinquedo. Por respeito a ela que era mais nova do que tu, e por respeito à Lucy. E também porque, provavelmente, levarias uma bela coça do pai dela...

- Sim, eu sei. Mas quem acabou por ser brinquedo fui eu, que me envolvi demais numa coisa que nem sabia que tinha futuro. Ela nem falava comigo sequer e eu ia ficando caidinho sem nem me aperceber. Ela vir viver aqui para a frente complicou tudo. Nós termos feito este "acordo" de um mês estragou tudo e agora estou perdido na minha própria confusão.

- Ei! A tua posição aqui é fazer uma escolha e só. Ou a Vitória ou a Lucy. Não há uma confusão propriamente dita.

- Se calhar há...

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⏰ Last updated: Jan 12, 2023 ⏰

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"Colocaste o Karma entre a Espada e a Parede" - Por Bruna FernandesWhere stories live. Discover now