Sangue, Magia e Morte. [Repostando]

16. Reencontro amoroso

Lilith estava ansiosa pelo fim do expediente. Depois de morrer e ressuscitar sentia que poderia fazer qualquer coisa na vida, inclusive olhar a cara cínica de Jonathan Kira. Era o que ela pretendia fazer e o mais rápido possível. Segundo informações de Valéria, uma colega de trabalho com fetiche por policiais que já tivera encontros com quase todos do departamento da polícia civil, Jonathan naquela noite sairia meia hora depois do encerramento de seu horário de trabalho. Muito eficiente, a colega também conseguira a informação de que o homem costumava passar por um trecho deserto que era o caminho mais curto até o Hinata. Lilith viu nisso uma ótima oportunidade para conversar com ele sozinho.

Quando o relógio de parede bateu o ponteiro nas dezoito horas, ela saiu correndo. Pegou sua mochila de qualquer jeito colocando dentro tudo o que precisava levar consigo, fechou o zíper e jogou o acessório nas costas enquanto segurava apenas uma de suas alças. Deixou a câmera com a qual trabalhava porque era cara e não era um bom negócio que estragasse. Sim, o trabalho fornecia equipamento para que ela fizesse as sessões fotográficas, mas Lilith preferia o próprio, com o qual se sentia mais à vontade.

Resistiu à tentação de voar pelo céu sobre a cidade, mais porque ainda estava claro ainda. Esperaria anoitecer para testar as asas. Fez o que sempre fazia e tomou um ônibus cuja rota levava até perto do trecho onde Jonathan passaria. Depois de quarenta minutos de paradas e pessoas espremidas, Lilith desceu do veículo com o peito abafado de ansiedade. Andou o que faltava do caminho até um lugar dentro de uma mata meio aberta onde sentiu que ficaria bem posicionada. O nervosismo aumentava a cada instante.

Kira saiu mais tarde, de fato. E bastante cansado também. Entrou em seu carro e começou a dirigir mecanicamente pelo caminho habitual enquanto fumava um cigarro de marca barata. Não tinha hábito de fumar no quotidiano, mas sempre que estava nervoso se sentia impelido a tragar um pouco da fumaça amarga. O trajeto era já tão rotineiro que nem observava mais os detalhes. As imagens do cadáver não saíam de sua cabeça. Tinha amolecido enquanto investigava apenas esquemas que não envolviam nada macabro, se acostumou a agarrar garotas enquanto trabalhava. Mas a verdade... Bem, a verdade é que uma delas realmente havia sido seu tipo de garota.

Ela era – na opinião de Jonathan - realmente perfeita, em tudo que fazia. Parecia que o mundo seria deles, que se casariam e teriam filhos bonitos inteligentes. Ele quis mesmo se casar com ela. Chegar todas as noites em casa e ver aquele sorriso bonito que ela tinha aliado ao jeito tão único de se vestir, que combinava com o dele.

De repente começou a chover fino enquanto John divagava em seus pensamentos. Nem tinha observado que céu estava coberto de nuvens, principalmente porque o escuro da noite já dominava a paisagem.

"Perfeito", Lilith pensou quando viu as gotículas mansas e incessantes caírem do céu. Era mais que providencial, soava como um apoio aos pensamentos que tinha. Ela ficou feliz com a chuva, claro. Quanto mais água, mais gelo poderia fazer.

Não demorou a avistar a luz dos faróis ao longe, desde que chegara ali foi o único carro que viu. Era o sinal que ela precisava. Respirou fundo enquanto caminhava devagar sobre a brita molhada do asfalto, o Converse preto se encharcando da água que já caíra até então. A mulher parou no meio da pista, de costas para o carro que se aproximava. Pode ouvir nitidamente a freada brusca que Jonathan deu.

— MAS O QUE É ISSO?! — Kira gritou para si mesmo enquanto, no susto, freava o carro. Havia algo no meio da pista, uma forma estranha, parecia um par de asas bem grande e aberto.

Jonathan ficou realmente assustado e por alguns segundos ponderou se descia do carro ou não. Se sentia um covarde por não decidir encarar o desconhecido de imediato, mas mesmo depois de ponderar manobrar o carro e fugir na contramão se resolveu por investigar melhor. Assim saiu do veículo e enfrentou o desconhecido.