26. Espelho

48 12 43
                                    

Cassius ligou para Lilith e pediu que ela fosse para lá depois do trabalho. Apesar de não ter nenhuma vontade de fazer isso, ela usou o transporte público para chegar lá, como quase sempre fazia. Testou abrir a porta do apartamento do irmão viu que ela estava destrancada.

Quando entrou na sala o que viu foi os dois homens usando apenas bermuda e jogados em seus lugares prediletos enquanto usufruíam de seus respectivos celulares.

— O quê? O que está acontecendo aqui? Nunca vejo vocês assim. — Lilith apontou o ameaçador dedo indicador para Cassius e Alberto.

— Oh, Senhorita Bravo! Eis que nos levaram todo o ânimo. — Alberto falou em um tom dramático, exagerado e teatral.

— A verdade é que precisamos atualizar a Senhorita Valentona sobre vários acontecimentos. — Disse Cassius enquanto tentava reprimir um riso pelo olhar acusador que ela lançava para ambos.

— Pois essa valentona aqui está com fome, e vai espancar vocês caso não a alimentem. — A mulher fechou a cara e cruzou os braços.

— Tem torta de frango na geladeira, basta esquentar. Agora por favor, poupe nossas vidas. — Alberto implorou de mentira.

A mulher abandonou a própria bolsa no canto e foi para a cozinha. Enquanto providenciava a comida ouvia a algazarra de Cassius e Alberto.

— Imagine se não tivéssemos comida pronta, o perigo que correríamos, Cassius. — Alberto implicou tão alto que provavelmente até os vizinhos ouviram.

— Pois é, soube que ela acerta as partes baixas e o rosto, para tirar a dignidade e a possibilidade de ter descendentes. Nossa, Alberto, o que seria de nós? — Cassius aluiu à surra que a irmã deu em John e colocou as costas das mãos sobre a testa, imitando cenas dramáticas. Também falou exageradamente alto para que ela ouvisse.

— Acho melhor comprarmos um saco de areia no aniversário dela, dar um brinquedo antes que ela resolva descontar a raiva na gente. — Alberto replicou.

— Podemos inscrevê-la na aula de boxe. Imagina, "Lilith - A pugilista demoníaca". — Cassius deu a ideia. Lilith bufou da cozinha e ambos rolaram de rir.

A essa altura Lilith começou gargalhar das bobagens dos irmãos. Sabia que eles entendiam a surra que ela deu em Kira e que só queriam fazer humor às suas custas. Francamente ela achava engraçado.

Quando sua torta ficou pronta ela pegou o prato e foi para a sala.

— Bem, sou toda ouvidos, podem começar. — Pegou um pedaço grande e o mordeu sem esfriar, como estava muito quente ela soprou forte dentro da boca. Precisou tirar e colocar no prato, o pedaço de torta tinha virado uma pedra de gelo. — Que saco! Não posso nem soprar minha comida sem que ela congele.

— Controle a força, valentona. Não quero minha casa toda congelada. — Cassius reclamou.

— Comecem logo a falar o que queriam dizer! — Lilith retomou o foco do assunto enquanto esfriava a comida com calma.

Alberto e Cassius contaram todos os acontecimentos deixando-a surpresa. Lilith arregalava os olhos e balançava a cabeça enquanto comia e ouvia atentamente. Quando soube que Cástor era um clone, até parou de mastigar. Contaram então que Cástor esteve ali e arrumou os encanamentos de Cassius, e ela riu. Da forma que eles contavam realmente parecia engraçado e não trágico. Cassius imitou "Bastião" e seu jeito de falar, até Alberto caiu na gargalhada. Por último falaram do novo colega de trabalho e da festa do pijama no dia seguinte. A essa altura Lilith já tinha terminado de comer e apenas estava atenta.

— Nossa, amigo novo que mora no mesmo setor? O último que morava no mesmo setor era completamente suspeito e no fim das contas um canalha — Ela falou estreitando os olhos e se lembrando de Jonathan Kira. — Já até sei como me apresentar: Muito prazer, sou Lilith Bravo, ressuscitada, alguma coisa elemental, espanco ex nas horas vagas e ainda faço a social. — Ela abriu um sorriso brilhante enquanto fazia cara de inocente. Só então Cassius reparou a camiseta. Violator era a do dia. Ele e Alberto riram da apresentação dela.

— Bom, use um baby doll bem sexy, queremos causar boa impressão. — Alberto provocou a irmã.

— Vocês querem me oferecer como carne? — Lilith, brava, deu um cascudo em cada um.

— Desculpa, irmã. Não era sério. — Alberto disse enquanto massageava onde Lilith tinha acertado.

— Na próxima o pinto de vocês vira picolé. — Ela ameaçou. — Quer dizer que ele vai dar uma festa do pijama na qual realmente usaremos pijamas? — Questionou atônita.

— Mas é claro bobinha. Festa de pijama sem pijama é totalmente out. — Imitou um comentarista de moda que estava sempre em um programa matinal voltado para a culinária.

— Nesse caso, vocês usam o baby doll sexy. — Lilith devolveu a troça anterior e eles riram sem graça. — Se precisamos de pijama então preciso ir à alguma loja comprar um pijama do Batman. Com sorte até acho um que venha com orelhas de morcego, capa, máscara e pantufas em formato de batmóvel.

— Não sei o que você vai vestir, muito menos o que eu vou vestir. Todas as nossas roupas de dormir não são apresentáveis para gente estranha. — Cassius falou olhando para eles.

— É, que tal todos pular o almoço amanhã e sair com tempo de ir a alguma loja comprar pijamas novos? — Alberto propôs.

— Boa ideia. — Cassius e Lilith falaram juntos.

— Bom, agora que já decidimos sobre a festa, vamos falar "aquilo" para Lilith. — Cassius falou de um jeito que a deixou intrigada.

— Claro, Cassius. — Alberto limpou a garganta. — Bom, não achamos justo só você treinar voo se divertindo por aí, também queremos sentir nossas asas e o vento na face. Então, que tal se formos para o fim da cidade e treinarmos voo por lá?

— Quando? — Lilith falou já pronta para partir.

— Agora. — Cassius disse.

— Então vamos. — Ela concordou.

Lilith esperou que se aprontassem. Saíram do prédio tão entusiasmados que pareciam raios. Alçariam voo de um terreno baldio que havia ali perto. Quando passavam pela recepção, a moça no balcão abordou Cassius.

— Boa noite. Esqueci de dizer, mas o encanador deixou isso para o Senhor. — E estendeu um envelope vermelho à Cassius. Ele abriu e leu em voz alta:

Espelho, espelho meu, se é de gelo vai derreter, mas antes disso três vezes posso ver. Uma já vi.

— O que ele quis dizer com isso? — Cassius franziu o cenho enquanto perguntava aos demais.

— Bom, considerando nossa atual situação, só pode ser de um espelho que ele está falando. — Alberto fez sinal para que continuassem a caminho do terreno baldio. — O de Lilith.

Sangue, Magia e Morte. [Repostando]Where stories live. Discover now