Capítulo 5 - Sem Chão

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[Nicolas]


-Quer que eu vá com você? Posso ficar ali por perto e te ajudar a voltar.

-Não precisa, eu vou e logo volto... vai abrindo um espaço no guarda-roupas enquanto isso.

O sorriso dele conseguia me causar aqueles mesmos arrepios que senti na primeira vez que nos encontramos, incrível como o tempo não conseguiu fazer com que eu ficasse acostumado. Martin. Meu menino Martin! Te amei desde o primeiro momento. Rodopiei-o em meus braços, feliz com o nosso novo momento, e com completa certeza de que aquilo era só o começo do resto de nossas vidas.

Assim que ele saiu, fui fazer o que me pediu, abri um espaço pra ele guardar suas coisas no meu guarda-roupa e aproveitei pra separar o que não me servia mais. Ele nunca foi aquele tipo de pessoa materialista e que gosta de amontoar as coisas, então sabia que o aquele espaço estava de bom tamanho pra ele. Me peguei por diversas vezes sorrindo a toa e pro nada ao pensar em como tudo seria diferente a partir de agora, nossas vidas mudariam completamente de perspectiva com esse meu convite para morarmos juntos. Na verdade era pra ser um pedido oficial de casamento, ensaiei por diversas vezes como faria isso, mas eu estava tão nervoso, e com medo da resposta, que saiu somente um convite pra morar junto. Quando ele voltasse, eu mudaria a proposta e iria surpreendê-lo e em breve seriamos casados.

Mais tarde, quando eu acabara de arrumar minhas coisas, decidi ir pra cozinha e preparar um jantar especial pra comemorar aquele dia, esse seria o primeiro de muitos e eu queria que ele sempre se lembrasse com carinho. Não era muito bom naquilo e quase nunca saia grande coisa, mas de repete me lembrei de uma receita de massas que ele mesmo havia me ensinado, prato típico da origem da sua família, e resolvi me arriscar, afinal, valia a pena. Minha mãe chegou não muito tempo depois, enquanto eu quebrava a cabeça com os molhos e tomava cuidado com o sal, e me pegou naquela situação.

-Oi mãe.

-O que é isso, Nicolas? – Ela perguntou dando risada da minha cara, me olhando de cima a baixo e me vendo de avental.

-Tô fazendo um jantar especial pra nós três. – Respondi e logo depois praguejei baixo por ter queimado o dedo na panela quente.

-Ual... Quem dera todo dia fosse assim, né. Cadê o Martin?

-Foi pra casa pegar as coisas dele, logo volta. E pra ficar.

Dizer isso em voz alta ainda me arrancava um sorrisinho bobo e que sempre teimava em aparecer, mesmo com minha mãe ali me observando com deboche e incredulidade.

-Então ele aceitou!? Que gracinha de menino.

-Obrigado por ter permitido isso, mãe. Eu sei que as coisas vão ser diferentes a partir de agora, mas nós vamos nos esforçar e vai dar certo. – Disse realmente grato por ela ter me compreendido hoje pela manhã quando apareci arrasado em seu trabalho lhe pedindo aquilo.

-Eu não tenho duvidas disso, filho, com o tempo tudo vai se ajeitar... o que não dava era pra continuar do jeito que estava, eu vi como ele chegou aqui apavorado, é melhor assim mesmo. Da até medo do que os pais dele poderiam fazer caso ele continuasse por lá, não sei o que esse tipo de gente tem na cabeça.

Sorri e agradeci aos céus por ter uma mãe como aquela, ela sempre conseguia ver o melhor das coisas e sempre estava disposta a ajudar alguém, e era por isso que eu tinha tanto orgulho de ser filho. As coisas nem sempre foram fáceis nas nossas vidas, reconheço o quão difícil é ter que dar conta de um filho quando se é mãe solteira, pobre e moradora de favela, mas ela, sendo a mulher forte e guerreira que é, conseguiu dar muito bem conta do recado. E era por isso que eu me esforçava tanto em me manter firme nos estudos, pois tudo o que eu queria era poder retribuir todo aquele sacrifício que ela fez por mim lhe dando um futuro bem melhor do que aquele que vivíamos.

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