Capítulo​ 8 - Rachando a bolha.

274 53 215
                                    

Por mais que eu insistisse, Malu se recusava a ir embora. Bebeu água, deu umas batidinhas no rosto para voltar à cor e afirmou que não era nada de mais aquele mal-estar. Tentei perguntar várias vezes o que realmente aconteceu lá na porta do auditório, mas ela não me deu chance, mudou de assunto e seguimos tagarelando sobre outras coisas. Por ora, deixaria essa história de lado.

Na porta na sala de teatro, alguns alunos aguardavam a chegada da professora. Saulo e Bruna, também do 3º ano, estavam agitados, pediam que Malu adiantasse os passos, querendo contar alguma novidade.

- Gente, que agonia é essa? - Malu perguntou.

- Fofa, não sabendo, não? - Bruna respondeu.

- Não, o que foi?

- Olha só quem está lá dentro...

Bruna discretamente convidou Malu a olhar e conferir. Malu espiou da porta, depois ficou de costas com os olhos arregalados e fez sinal para que eu me aproximasse para ver também. No canto da sala, Jasper estava sentado confortavelmente no chão, aguardando o início da aula de teatro.

- O-xen-te! - disse, espantada. - O que Jasper está fazendo aqui? - Malu perguntou.

- Você pergunta pra mim? Ele não era seu amigo? - Bruna respondeu.

- Ele trocou de roupa, acho que vai fazer aula também - Saulo concluiu.

- Que estranho, sempre o convidei para participar da aula e ele nunca veio, por que agora quis vir? - Malu disse, depois deu de ombros. - Bem, não vou ficar encucada com isso não...

Na aula de música, eu já estava com a minha roupa de ginástica, então, qualquer pessoa que me visse ia sacar que eu assistiria a aula de teatro. No íntimo, num cantinho bem apertado do coração, eu imaginei que ele estava ali por minha causa. Assim eu queria.

Respirei fundo e acompanhei Malu ao entrar na sala. Ela fez questão de conversar com todos os alunos, se apresentando aos novatos e me apresentando a todos, como se fosse uma festa e ela uma boa anfitriã. Mas, assim como na sala de aula, ela não ousou cumprimentar Jasper. Eu estava gostando de interagir com o grupo, porém, eu estava mesmo animada por ver Jasper ali, dessa vez com short e camiseta. Deus-do-céu! Era uma escultura de braços, pernas, cabelo bagunçado e olhos verdes. Tinha que me controlar pra não ficar admirando, mas meus olhos me traiam.

A professora de teatro, Elisabeth, entrou batendo palmas, sem muita cerimônia, pedindo àqueles que ainda não tinham trocado de roupa, que assim o fizessem. Era uma mulher jovem, dos seus trinta e poucos anos, com uma beleza negra encantadora. Vestia um colan com legging e uma saia transpassada. Seus cachos estavam amarrados com um torso bem colorido. Ela fez exatamente o mesmo roteiro que Malu, com exceção de que, ao ver Jasper, foi direto ao seu encontro como se já o esperasse. Ela se agachou ao seu lado, trocou algumas palavras com ele e o puxou para que se levantasse. Depois disso, pediu que todos fossem até o centro da sala e se posicionassem em um grande círculo. Jasper estava bem de frente para mim, mas não olhava para outro lugar que não fosse à professora.

- Meus amores, meu nome é Beth, para quem ainda não me conhece. Sou formada em História e Artes Cênicas. Tenho alguns trabalhos como roteirista e produtora. Mas, minha paixão é dar aula, por isso que estou aqui. - Ela foi interrompida por um assovio de aprovação, mas logo continuou: - Aqui é um caldeirão de emoções e eu peço que vocês​ não tenham medo de liberá-las. Aos que estão apenas experimentando - ela olhou para Jasper -, espero que fiquem conosco até o final do ano letivo.

Ela disse que sua intenção era nos conectar com o nosso lado lúdico. Mesmo que o aluno não seguisse o caminho das artes, essas técnicas nos ajudariam em outros campos da vida, como falar em público, por exemplo. Sua proposta era que, no final do ano apresentássemos um espetáculo, concebido por nós mesmos nas aulas.

Onde eu quero ficar (Degustação)Where stories live. Discover now