Capítulo 12 - A mágica do creme brûllée

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- Me deixa te servir, filho! - tia Suzana suspende uma concha de ensopado em direção ao prato de Jasper.

- Não precisa, eu mesmo coloco minha comida...

- Poxa vida, vendo, Marina? Os filhos crescem e agem como se não precisassem da gente - provocou.

- E as mães acham que somos eternos bebês... - respondi.

- Exatamente, Marina! - Jasper acrescentou.

- Não faz muito tempo que eu levava você na escola e era um sufoco pra soltar minha mão. Hoje em dia, nem botar uma concha de ensopado no seu prato eu não posso! - Ela fez biquinho, ainda com a concha suspensa.

Nós rimos.

- Vai, mãe! Se isso te deixa mais feliz, ponha uma concha do ensopado...

- Ah, sim! - Sorriu triunfante. - E você, Marina?

- Sim, por favor!

Tia Suzana nos serviu com tanta generosidade que eu não sabia se daria conta de comer tanto. O jeito simples ao me servir era algo novo para mim e, realmente, acolhedor. A arrumação da mesa era bem diferente dos "400" talheres que eu estava acostumada nos jantares onde Júlio e minha mãe me arrastavam.

Continuamos conversando amenidades e a tia, como toda mãe que se preze, enveredou para conversas constrangedoras.

- Esse menino era tão levado, Marina. Você nem imagina!

- Vai começar... - ele resmungou.

- Sabia que Jasper apertava todos os botões do elevador, quando saía dele?

Ele revirou os olhos.

- Sério?

- Morria de vergonha... E quando se juntava com aquele Xandinho? Era um horror aqueles dois... O pai de Xande tem uma casa de veraneio na Praia do Forte, nós íamos sempre para lá. Se aquela praia falasse...

- Ia dizer que salvamos uma tartaruguinha.

- Não diga! - Fiquei curiosa.

- Sim! Nós estávamos... - Ele hesitou por alguns instantes. - Bem, nós estávamos brincando na praia à noite.

- Estavam nadando de cueca.

- O quê? - Arregalei os olhos.

Ele riu apertando os olhos com as mãos, como se tivesse ​lembrando-se de algo que não podia falar.

- Eles adoravam chocar as meninas que iam veranear na vizinhança.

- Então - Jasper interrompeu a mãe, ainda sorrindo -, nós estávamos nadando.

- Seminus - eu completei.

- Seminus - assentiu. - Ok! Daí vimos na areia um filhotinho perdido dos outros. Ele estava indo em direção ao mar, mas um caranguejo se aproximou dele. Nós aprendemos no Projeto Tamar que os caranguejos são predadores dos filhotes.

- Então, vocês mataram o caranguejo? - perguntei.

- Que nada, Alexandre era muito frouxo para isso. Nós só o espantamos e aguardamos a tartaruguinha entrar na água.

- Oh, que fofo! - suspirei.

- É, foram o que as meninas disseram também... - Ele arqueou a sobrancelha, todo orgulhoso.

- É mole? Queria ver se o caranguejo mordesse a bunda de vocês, se elas iam continuar chamando vocês de fofos.

Eu ri tanto que descia lágrimas dos olhos, porque se minha mãe fizesse um comentário desses, eu ia morrer de tanta vergonha... Mas Jasper não se importou, parecia já estar acostumado com aquele jeitão da mãe. Tia Suzana era uma mulher agradável e divertida, não tinha muito filtro para falar. Talvez, se não fosse a depressão tão evidente, ela seria mais engraçada ainda. Jasper não ficou desconfortável com a história, nem teve receio em falar de Alexandre. Isso era bom! O que eu não conseguia entender, e a minha ignorância começou a me incomodar, era onde Gabriela se encaixava naquilo tudo.

Onde eu quero ficar (Degustação)Where stories live. Discover now