Lutar ou fugir

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Eu estava sentado nas cadeiras do corredor há quase duas horas. Nesse meio tempo, Alice permaneceu no quarto com a mãe. Alex estava ao meu lado e Dianne permanecia um pouco mais distante. Ela não confiava em mim e nem na irmã. Eu, sinceramente, não sou capaz de julgá-la.

Para os humanos, é realmente complicado perceber que criaturas como nós estamos ao redor deles. E se fosse apenas isso, talvez até conseguiríamos evitar os olhares de medo em nossa direção, mas a questão é que não apenas convivemos com eles. Nós nos alimentamos deles.

A fama das criaturas da noite, como lobisomens e vampiros, estava cada dia maior e só foram os humanos perceberem de fato a nossa existência, que nossa espécie se evidenciou. Viramos tema de filmes ainda mais sangrentos, de documentários sensacionalistas e de jornais que mentiam abertamente. Ninguém avisou aos humanos que não os matávamos mais. Pelo contrário, construíram uma imagem assustadora até mesmo para nós.

Olhei para Dianne e ela nem sequer desviava os olhos de mim. Alex sorriu ao perceber que eu analisava a irmã dele. Depois de alguns segundos, a jovem levantou-se e seguiu em direção as máquinas de comida.

— Não liga para ela. Desde que começou o treinamento para ser caçadora, ela está assim — comentou. Olhei dele para Dianne antes que ela desaparecesse no corredor.

— Caçadora? — entendi por fim o motivo dela estar daquela forma e de não querer deixar Alice sozinha com a mãe.

— É! A vovó tentou convencer Meredith e eu também. É obvio que eu não aceitei e Meredith também não — Alex riu novamente. — Já a Dine aceitou imediatamente. O treinamento dela começou há três meses. Ela acha que eu não vejo as manchas roxas no corpo dela ou o sangue nas roupas quando coloca para lavar. Aquele lugar vai acabar matando-a.

— O treinamento de caçadores é bastante intenso e pode sim ocorrer de alguém ser morto, mas é raro. Não os defendendo, longe de mim isso, mas é necessário para se conseguir lutar com um vampiro duas vezes mais forte e mais rápido.

— Eu entendo — Alex comentou quando Dianne retornou com um saco de batatas fritas. Ela ofereceu para o irmão, de longe, mas ele negou. Me encarou novamente antes que Alice deixasse o quarto com os olhos vermelhos.

— A mamãe quer que todos entrem — ela comentou e me olhou. — Ela quer se despedir — Dianne passou correndo pela irmã, sem nem se importar se era uma vampira ou não. Queria estar com a mãe. Alex puxou o celular do bolso e seguiu para o quarto enquanto ligava para Meredith e para o pai. Alice, por sua vez, se jogou em meus braços. Dei um beijo no topo da sua cabeça, enquanto ela permanecia ali.

— Achei que você iria transformá-la — comentei.

— Eu propus, mas ela não quis — se afastou e olhou para mim tristemente — Porque o nosso sangue não faz efeito? Ela me disse que Sandra trouxe um pouco de sangue de vampiro para ela, mas que não aconteceu nada.

— O câncer é um crescimento anormal de células do seu próprio organismo, Lice. Da mesma forma que o sangue de vampiro fortalece o sistema imunológico do indivíduo, fazendo-o trabalhar rapidamente contra as células cancerígenas, ele também fortalece essas células já que fazem parte do mesmo organismo e se alimenta do mesmo sangue circulante. Você entende? — ela assentiu. — Então, quando você dá sangue de vampiro para alguém que está com câncer, você só torna a doença mais forte e mais letal. Sua avó só piorou as coisas para sua mãe.

— Ela lutou tanto, Vic. Ela venceu dois tumores. Porque não conseguiu vencer esse?

— O destino as vezes é cruel, Lice. Cruel até demais — a apertei contra meu peito e ficamos ali por alguns segundos antes que se afastasse e me levasse para falar com Linda. Trinta minutos depois, George e Meredith chegaram ao hospital. Os dois se chocaram ao ver Alice, a princípio, mas depois esqueceram tudo e ficaram ao lado de Linda nos seus últimos momentos. Ela sabia que morreria naquele dia e queria todos que amava ao seu lado.

Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)Onde histórias criam vida. Descubra agora