A chuva caía impiedosa embasando o vidro do carro e deixando-me confuso com a minha própria rota. Eu fazia e refazia esse mesmo caminho todo santo dia, mas estava difícil enxergar um palmo a minha frente com essa tempestade.– Maldita chuva – Resmunguei diminuindo a velocidade e ligando o pisca alerta do carro – Vou me atrasar dessa forma.
Resolvi encostar o carro debaixo de um viaduto, tentando me proteger e também secar um pouco o meu veículo.
Apanhei o celular e desci do carro, pisando na posa pequena de água abaixo de meus pés. Desbloqueei meu aparelho telefônico e redisquei o último número à me ligar.
– Oi Pedro – Atendeu ao terceiro toque – Que barulho é esse?
– Vou me atrasar – Suspirei cansado.
– O quê? Mas são reservas! – Gritou do outro lado da linha – Sabe como foi complicado consegui-las?!
Fechei os olhos e passei a mão em meu rosto.
– Rafaela, está chovendo pra caramba.
– Saísse mais cedo, poxa!
– Eu não trabalho com o pessoal da previsão do tempo – Revirei os olhos – Como eu ia adivinhar que choveria?
– Não sei! Checasse antes!– Sinto muito – Foi tudo que consegui pronunciar.
– Quer saber? Vá se danar.
E desligou. Óbvio que ela faria todo esse drama e mesmo a culpa não sendo minha, em sua cabeça era, simplesmente assim.
Chutei a roda do pneu com força.
– Droga! – Gritei ouvindo o eco da minha voz naquela estrada vazia e escura, apenas com a iluminação do meu carro parado debaixo de um viaduto – Que inferno!
Encostei-me sobre o capô e fiquei observando a estrada à minha frente, enquanto ouvia o sussurro do vento ao meu lado, bagunçando meus cabelos, fazendo os mesmos roçarem em meu queixo. O cenário era assustador, mas não causou-me medo e sim insegurança, como se alguém pudesse aparecer a qualquer momento.
Mas algo chamou minha atenção rapidamente. Será se eu enlouqueci?
Abri apressado a porta traseira do meu veículo e comecei a procurar por um guarda chuva.
– Que droga, cadê você seu infeliz? – Resmunguei enfiando minha mão debaixo do banco do motorista, até meus dedos tocarem no frio do metal do objeto que eu procurava – Achei.
O abri rapidamente e comecei a caminhar em direção a figura sentada no meio fio, com a cabeça entre as pernas e o corpo balançando-se rapidamente.
Eu sei, eu sei, devemos fugir quando encontramos algo assim, correto? Mas infelizmente sou movido através da curiosidade e mesmo que eu morra tentando sacia-lá, eu gostava dessa sensação, no fim, valia a pena, afinal, além da minha vida, o que mais eu tenho a perder?
Aproximei-me calmamente daquela figura até perceber seus longos fios negros roçando sua cintura devido ao vento forte. Sua pele esbranquiçada refletia levemente a luz amarelada que o farol do carro exibia.
– Olá, posso ajuda-lá?
Fui ignorado, como eu previa. Agachei meu corpo, erguendo um braço, para deixar o guarda chuva protegendo-me.
– Ei – Toquei levemente em sua pele gelada e áspera – Moça?
Ela ergueu o rosto e encarei o verde em seus olhos assustados, sua boca estava em um tom roxo e seu queixo debatia-se freneticamente.
– Você está com muito frio.
Afirmei um fato óbvio.
– Eles... - Sussurrou com a voz falhada – Vão...
Não conseguia se quer pronunciar uma palavra, senti pena dessa jovem moça.
– Vou ajuda-lá. Consegue ficar de pé?
Ela afirmou em positiva com a cabeça. Segurei firme em sua mão gélida e ergui-me primeiro, dando apoio para que ficasse de pé. Envolvi o braço em volta de sua cintura e com a mão livre protegi sua cabeça, não permitindo que a chuva a molhasse ainda mais.
– Eles... – Começou sem parar de tremer o queixo e as pernas – Eles... Pegar... Vão... Me... Pegar...
– Eles quem?
Ela parou bruscamente e encarou-me, fui fuzilado pela intensidade de seus olhos verdes.
– Eles...
Suas pernas se afrouxaram e o peso de seu corpo ficou suspenso por meu braço. Deixei o guarda chuva voar para longe e sustentei seu corpo em meus braços, a erguendo do chão e a guiando para o meu veículo parado.
– Droga! – Que merda eu estava fazendo parado no meio do nada com uma garota desconhecida e louca nos braços? – Você precisa de ajuda.
Abri rapidamente a porta do carona e a repousei sobre o banco.
– Eles...
Ainda tremia-se toda e aquilo deixou-me assutado.
– Vai ficar tudo bem moça.
Abri apressadamente a porta do banco detrás e puxei meu moletom. A embrulhei com ele e envolvi seu peito com o cinto de segurança. Fechei ambas as portas e segui para o lado do motorista, completamente molhado e agora com frio, mas sinceramente? Nada disso fazia a menor diferença. Quem era essa garota sentada ao meu lado, olhando para o retrovisor assustada, sem saber o que fazer? Olhei na direção que ela olhava, mas apenas enxergava o vazio.
– Vai ficar tudo bem.
Tentei soar o mais calmo possível, mas não sei se convenci.
– Não vai não – Sussurrou encarando a tempestade a nossa frente, com os olhos cansados e marejados – Agora eles virão atrás de você também.
KAMU SEDANG MEMBACA
Sussurro Noturno
Cerita Pendek' Dizem que as lendas não passam de histórias inventadas por alguém que só queria causar medo, que tolos, mal sabem que de alguma forma foram baseadas em fatos reais. Seja qual for o conto, acomode-se, fique a vontade e quem sabe acredite no que va...