Capítulo 01 - Seja bem vindo à loucura.

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A chuva caía impiedosa embasando o vidro do carro e deixando-me confuso com a minha própria rota. Eu fazia e refazia esse mesmo caminho todo santo dia, mas estava difícil enxergar um palmo a minha frente com essa tempestade.

– Maldita chuva – Resmunguei diminuindo a velocidade e ligando o pisca alerta do carro – Vou me atrasar dessa forma.

Resolvi encostar o carro debaixo de um viaduto, tentando me proteger e também secar um pouco o meu veículo.

Apanhei o celular e desci do carro, pisando na posa pequena de água abaixo de meus pés. Desbloqueei meu aparelho telefônico e redisquei o último número à me ligar.

– Oi Pedro – Atendeu ao terceiro toque – Que barulho é esse?

– Vou me atrasar – Suspirei cansado.

– O quê? Mas são reservas! – Gritou do outro lado da linha – Sabe como foi complicado consegui-las?!

Fechei os olhos e passei a mão em meu rosto.

– Rafaela, está chovendo pra caramba.

– Saísse mais cedo, poxa!

– Eu não trabalho com o pessoal da previsão do tempo – Revirei os olhos – Como eu ia adivinhar que choveria?
– Não sei! Checasse antes!

– Sinto muito – Foi tudo que consegui pronunciar.

– Quer saber? Vá se danar.

E desligou. Óbvio que ela faria todo esse drama e mesmo a culpa não sendo minha, em sua cabeça era, simplesmente assim.

Chutei a roda do pneu com força.

– Droga! – Gritei ouvindo o eco da minha voz naquela estrada vazia e escura, apenas com a iluminação do meu carro parado debaixo de um viaduto – Que inferno!

Encostei-me sobre o capô e fiquei observando a estrada à minha frente, enquanto ouvia o sussurro do vento ao meu lado, bagunçando meus cabelos, fazendo os mesmos roçarem em meu queixo. O cenário era assustador, mas não causou-me medo e sim insegurança, como se alguém pudesse aparecer a qualquer momento.

Mas algo chamou minha atenção rapidamente. Será se eu enlouqueci?

Abri apressado a porta traseira do meu veículo e comecei a procurar por um guarda chuva.

– Que droga, cadê você seu infeliz? – Resmunguei enfiando minha mão debaixo do banco do motorista, até meus dedos tocarem no frio do metal do objeto que eu procurava – Achei.

O abri rapidamente e comecei a caminhar em direção a figura sentada no meio fio, com a cabeça entre as pernas e o corpo balançando-se rapidamente.

Eu sei, eu sei, devemos fugir quando encontramos algo assim, correto? Mas infelizmente sou movido através da curiosidade e mesmo que eu morra tentando sacia-lá, eu gostava dessa sensação, no fim, valia a pena, afinal, além da minha vida, o que mais eu tenho a perder?

Aproximei-me calmamente daquela figura até perceber seus longos fios negros roçando sua cintura devido ao vento forte. Sua pele esbranquiçada refletia levemente a luz amarelada que o farol do carro exibia.

– Olá, posso ajuda-lá?

Fui ignorado, como eu previa. Agachei meu corpo, erguendo um braço, para deixar o guarda chuva protegendo-me.

– Ei – Toquei levemente em sua pele gelada e áspera – Moça?

Ela ergueu o rosto e encarei o verde em seus olhos assustados, sua boca estava em um tom roxo e seu queixo debatia-se freneticamente.

– Você está com muito frio.

Afirmei um fato óbvio.

– Eles... - Sussurrou com a voz falhada – Vão...

Não conseguia se quer pronunciar uma palavra, senti pena dessa jovem moça.

– Vou ajuda-lá. Consegue ficar de pé?

Ela afirmou em positiva com a cabeça. Segurei firme em sua mão gélida e ergui-me primeiro, dando apoio para que ficasse de pé. Envolvi o braço em volta de sua cintura e com a mão livre protegi sua cabeça, não permitindo que a chuva a molhasse ainda mais.

– Eles... – Começou sem parar de tremer o queixo e as pernas – Eles... Pegar... Vão... Me... Pegar...

– Eles quem?

Ela parou bruscamente e encarou-me, fui fuzilado pela intensidade de seus olhos verdes.

– Eles...

Suas pernas se afrouxaram e o peso de seu corpo ficou suspenso por meu braço. Deixei o guarda chuva voar para longe e sustentei seu corpo em meus braços, a erguendo do chão e a guiando para o meu veículo parado.

– Droga! – Que merda eu estava fazendo parado no meio do nada com uma garota desconhecida e louca nos braços? – Você precisa de ajuda.

Abri rapidamente a porta do carona e a repousei sobre o banco.

– Eles...

Ainda tremia-se toda e aquilo deixou-me assutado.

– Vai ficar tudo bem moça.

Abri apressadamente a porta do banco detrás e puxei meu moletom. A embrulhei com ele e envolvi seu peito com o cinto de segurança. Fechei ambas as portas e segui para o lado do motorista, completamente molhado e agora com frio, mas sinceramente? Nada disso fazia a menor diferença. Quem era essa garota sentada ao meu lado, olhando para o retrovisor assustada, sem saber o que fazer? Olhei na direção que ela olhava, mas apenas enxergava o vazio.

– Vai ficar tudo bem.

Tentei soar o mais calmo possível, mas não sei se convenci.

– Não vai não – Sussurrou encarando a tempestade a nossa frente, com os olhos cansados e marejados – Agora eles virão atrás de você também.

Sussurro NoturnoTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang