– Eu exijo falar com ela! Agora! – Gritei, tentando enfatizar meu pedido com o comando de ordem – Eu exijo ver a paciente Jasmim.A atendente me encarou, de cima a baixo com cara de nojo.
– Infelizmente se não for parente dela, não poderá entrar.
Bufei irritado e dei um soco no balcão, fazendo a mulher dar um pulinho sobre a cadeira.
– Vá se ferrar você! Vá se danar esse hospício de merda!
– Se o senhor não se acalmar serei obrigada a chamar os seguranças!
– Chama! Que saco! – Ergui as mãos até meus cabelos, completamente desesperado – Pelo amor de Deus, eu preciso falar com a Jasmim.
– Sinto muito, mas não poderá.
Quando eu ia soltar mais algum insulto a moça, uma voz chamou minha atenção.
– O que está acontecendo aqui?!
– Carolina?
Ela franziu o cenho, encarando-me confusa.
– Algum problema?
– Eu preciso falar com Jasmim, é urgente!
Ela suspirou, colocando suas mãos nos bolsos do Jaleco.
– Vamos conversar. Bianca, dê um cartão de acesso para ele.
De contra gosto a recepcionista entregou-me o cartão e depois disso, ignorei sua existência, seguindo a médica até sua sala ao final do corredor.
***
– Sente-se – Indicou para que eu me acomodasse na cadeira de frente à sua mesa.– Preciso falar com a Jasmim – Comecei, sentando-me – Carolina, eu preciso conversar com ela.
– Você parece atormentado, tem dormido bem a noite?
– O quê? Isso não vem ao caso!
Pela forma que a médica assustou-se com minha exclamação, eu deveria está medonho.
– Desculpe não tive a intenção de assusta-lá– Apressei em consertar meu erro, tentando buscar a calma que eu não tinha – Carolina, eu preciso muito conversar com ela, nem que seja por 5 minutos.
Ela suspirou, entrelaçando seus dedos sobre a mesa de madeira.
– 5 minutos e nada à mais.
***
Carolina deixou-me de frente para o quarto de Jasmim, deu instruções para eu e para o segurança, indicando que eu teria apenas 5 minutos lá dentro, depois disso forcei minhas pernas a entrarem ouvindo a tranca do lado de fora sendo fechada, me mantendo preso junto com a mulher que eu salvara uma semana atrás.
O quarto era pequeno, com apenas uma janela quadrada perto do teto de gesso lascado.
Jasmim estava em pé, apoiada com as mãos espalmadas sobre a pia de plástico, de cabeça baixa, enquanto a água saia da torneira em uma enxurrada desregular.
– Eu sabia que viria... – Sussurrou, sem se quer virar em minha direção – Eu o chamei todos os dias.
– Foi você quem me salvou àquele dia, na cachoeira?
– Isso importa agora?
Aproximei-me dela, encarando suas costas, banhadas por seu longo cabelo negro.
– Por favor, diga que estou louco, que você não é o que estou pensando...
Ela desligou a torneira, fazendo um rangido agudo e virou-se sorridente.
– Eu sou a louca aqui.
Segurei em seus braços com firmeza, encarando o brilho em seus olhos verdes.
– Eu preciso saber a verdade! Eu exijo!
Fechando os olhos, seu corpo aproximou-se do meu, até seus lábios tocarem o nódulo da minha orelha.
– Sou uma sereia, a mesma que salvou a vida de uma criança desobediente em uma cachoeira há alguns anos atrás... – Ela afastou-se do meu pescoço, deixando seu nariz roçando o meu – Só que a criança cresceu e eu voltei para buscar o que sempre foi meu por direito. Você acha que entrou na cachoeira por acaso? Acha que me salvou por acaso?
– O que está insinuando?
Seus lábios tocaram nos meus levemente, dando-me vários selinhos.
– Eu salvei sua vida, Pedro, você pertence à mim. Precisava amadurecer e assim eu o deixei, mas chegou sua hora.
A afastei bruscamente, tentando crer que a loucura pronunciada por sua boca fosse somente ilusão da minha cabeça.
– Você é louca! Sereia? Enlouqueceu?
– Você veio atrás de respostas, e eu estou lhe dando elas.
– Não é a toa que está aqui... É louca.
– Sou? – Seus dedos alcançaram a gola da minha blusa – Como em doze anos eu não mudei nada? Como eu salvei sua vida e depois desapareci em meio às águas doces? Como fui capaz de entrar em sua mente? Como fui capaz de estar em seu quarto, chamando-o? Como?
Eu estava louco também, só poderia ser isso!
– Fique longe de mim! – Retirei seus dedos da minha blusa bruscamente– Isso tudo não passa de delírio da minha cabeça.
– Não – Sua boca encontrou a minha novamente, roçando-a sem pressa, ela sussurrou, ainda com os lábios colados aos meus – Você saiu de casa acreditando no que eu era... Não negue isso.
– O que quer de mim, Jasmim?
– Você por inteiro – Sussurrou, próxima ao meu rosto.
Seus lábios pediram passagem e sua língua encontrou a minha, deixando o doce de seu beijo buscar o desejo de minha boca. Se eu estou perdendo o juízo? Provavelmente, mas não estava afim de voltar a realidade tão cedo.
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Sussurro Noturno
Short Story' Dizem que as lendas não passam de histórias inventadas por alguém que só queria causar medo, que tolos, mal sabem que de alguma forma foram baseadas em fatos reais. Seja qual for o conto, acomode-se, fique a vontade e quem sabe acredite no que va...