Capítulo 04 - Você sabe o que sou.

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– Eu exijo falar com ela! Agora! – Gritei, tentando enfatizar meu pedido com o comando de ordem – Eu exijo ver a paciente Jasmim.

A atendente me encarou, de cima a baixo com cara de nojo.

– Infelizmente se não for parente dela, não poderá entrar.

Bufei irritado e dei um soco no balcão, fazendo a mulher dar um pulinho sobre a cadeira.

– Vá se ferrar você! Vá se danar esse hospício de merda!

– Se o senhor não se acalmar serei obrigada a chamar os seguranças!

– Chama! Que saco! – Ergui as mãos até meus cabelos, completamente desesperado – Pelo amor de Deus, eu preciso falar com a Jasmim.

– Sinto muito, mas não poderá.

Quando eu ia soltar mais algum insulto a moça, uma voz chamou minha atenção.

– O que está acontecendo aqui?!

– Carolina?

Ela franziu o cenho, encarando-me confusa.

– Algum problema?

– Eu preciso falar com Jasmim, é urgente!

Ela suspirou, colocando suas mãos nos bolsos do Jaleco.

– Vamos conversar. Bianca, dê um cartão de acesso para ele.

De contra gosto a recepcionista entregou-me o cartão e depois disso, ignorei sua existência, seguindo a médica até sua sala ao final do corredor.

***


– Sente-se – Indicou para que eu me acomodasse na cadeira de frente à sua mesa.

– Preciso falar com a Jasmim – Comecei, sentando-me – Carolina, eu preciso conversar com ela.

– Você parece atormentado, tem dormido bem a noite?

– O quê? Isso não vem ao caso!

Pela forma que a médica assustou-se com minha exclamação, eu deveria está medonho.

– Desculpe não tive a intenção de assusta-lá– Apressei em consertar meu erro, tentando buscar a calma que eu não tinha – Carolina, eu preciso muito conversar com ela, nem que seja por 5 minutos.

Ela suspirou, entrelaçando seus dedos sobre a mesa de madeira.

– 5 minutos e nada à mais.

***

Carolina deixou-me de frente para o quarto de Jasmim, deu instruções para eu e para o segurança, indicando que eu teria apenas 5 minutos lá dentro, depois disso forcei minhas pernas a entrarem ouvindo a tranca do lado de fora sendo fechada, me mantendo preso junto com a mulher que eu salvara uma semana atrás.

O quarto era pequeno, com apenas uma janela quadrada perto do teto de gesso lascado.

Jasmim estava em pé, apoiada com as mãos espalmadas sobre a pia de plástico, de cabeça baixa, enquanto a água saia da torneira em uma enxurrada desregular.

– Eu sabia que viria... – Sussurrou, sem se quer virar em minha direção – Eu o chamei todos os dias.

– Foi você quem me salvou àquele dia, na cachoeira?

– Isso importa agora?

Aproximei-me dela, encarando suas costas, banhadas por seu longo cabelo negro.

– Por favor, diga que estou louco, que você não é o que estou pensando...

Ela desligou a torneira, fazendo um rangido agudo e virou-se sorridente.

– Eu sou a louca aqui.

Segurei em seus braços com firmeza, encarando o brilho em seus olhos verdes.

– Eu preciso saber a verdade! Eu exijo!

Fechando os olhos, seu corpo aproximou-se do meu, até seus lábios tocarem o nódulo da minha orelha.

– Sou uma sereia, a mesma que salvou a vida de uma criança desobediente em uma cachoeira há alguns anos atrás... – Ela afastou-se do meu pescoço, deixando seu nariz roçando o meu – Só que a criança cresceu e eu voltei para buscar o que sempre foi meu por direito. Você acha que entrou na cachoeira por acaso? Acha que me salvou por acaso?

– O que está insinuando?

Seus lábios tocaram nos meus levemente, dando-me vários selinhos.

– Eu salvei sua vida, Pedro, você pertence à mim. Precisava amadurecer e assim eu o deixei, mas chegou sua hora.

A afastei bruscamente, tentando crer que a loucura pronunciada por sua boca fosse somente ilusão da minha cabeça.

– Você é louca! Sereia? Enlouqueceu?

– Você veio atrás de respostas, e eu estou lhe dando elas.

– Não é a toa que está aqui... É louca.

– Sou? – Seus dedos alcançaram a gola da minha blusa – Como em doze anos eu não mudei nada? Como eu salvei sua vida e depois desapareci em meio às águas doces? Como fui capaz de entrar em sua mente? Como fui capaz de estar em seu quarto, chamando-o? Como?

Eu estava louco também, só poderia ser isso!

– Fique longe de mim! – Retirei seus dedos da minha blusa bruscamente– Isso tudo não passa de delírio da minha cabeça.

– Não – Sua boca encontrou a minha novamente, roçando-a sem pressa, ela sussurrou, ainda com os lábios colados aos meus – Você saiu de casa acreditando no que eu era... Não negue isso.

– O que quer de mim, Jasmim?

– Você por inteiro – Sussurrou, próxima ao meu rosto.

Seus lábios pediram passagem e sua língua encontrou a minha, deixando o doce de seu beijo buscar o desejo de minha boca. Se eu estou perdendo o juízo? Provavelmente, mas não estava afim de voltar a realidade tão cedo.

Sussurro NoturnoOnde histórias criam vida. Descubra agora