CAPÍTULO 06

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    O dia havia amanhecido. Shawn ainda dormia, eu ainda estava com a cabeça por cima de seu peitoral, e sua mão direita ainda pairava sobre meus cabelos pretos.

    Olhei para o lado, num movimento extremamente meticuloso e cuidadoso para não acorda-lo, e vi que o relógio marcava dez e meia da manhã, o que para mim já era tarde demais, já que mesmo ainda não tendo aula por causa do luto desnecessário da universidade, eu ainda teria de trabalhar.

    Me levantei da cama, ainda executando movimentos lentos e tentando não fazer nenhum tipo de barulho, e comecei a me vestir, sentada no pé da cama em que Shawn ainda dormia.

- Você já tem que ir? - perguntou ele com a voz sonolenta. Acabei me assustando um pouco, afinal, eu estava planejando sair dali sem nem vê-lo acordar.

- Na verdade, já era pra mim ter ido. - respondi enquanto amarrava o cadarço da botinha que havia pegado emprestado de Lucy na noite anterior.

- Quer que eu te leve? - perguntou ele se sentando na cama e se espreguiçando, o que me fez morder os lábios.

- Não precisa, eu pego um ônibus, já está ótimo. - respondi me levantando da cama e indo direto para o criado mudo ao lado da mesma, onde se encontrava meu celular.

- Não quer nem tomar um café? - ele finalmente se levantou da sua confortável cama e se vestiu.

- Eu compro alguma coisa no caminho. - falei vendo a tela do meu celular se iluminar e mostrar que haviam trinta e sete ligações perdidas de Ash, sem contar as mensagens em que ela me xingava de puta irresponsável, acreditem, foram inúmeras.

    Peguei o celular e a minha bolsa que estava jogada no chão ao lado da cama, e saí do quarto, indo direto para a sala de estar, onde se encontrava a porta, e Shawn apenas me seguiu. Ele estava vestido apenas com uma calça moletom, e seus cabelos estavam extremamente bagunçados, mas ele continuava incrivelmente lindo.

- Espera, tem mesmo que ir agora? - perguntou ele enquanto eu olhava para a porta e minhas mãos já pairavam na fechadura da mesma.

    Eu realmente estava tentando evitar contato visual com ele, mas era uma tentativa inútil, pois olhar para ele era como enxergar o paraíso numa versão mais sexy.

- Não quer me passar seu número? Assim nós não vamos precisar perder o contato e...

- Shawn, eu não acho uma boa ideia. - falei me virando, de modo que pudesse ficar de frente para ele, e então o encarei - acho que deve me tratar como mais uma das inúmeras garotas que já deitaram na sua cama e esquecer que isso aconteceu.

    Eu poderia ter dado na minha própria cara. Ele tinha sido tão carinhoso comigo, tão acolhedor. Passou quase a noite inteira me ouvindo lamentar a morte dos meus pais, sem reclamar nem por um segundo, e eu estava retribuindo tudo aquilo com algo que eu poderia considerar um tremendo fora.

- Já que você prefere assim. - ele deu de ombros e abaixou a cabeça - então, tenha um ótimo dia.

    Eu não o respondi, apenas saí e fechei a porta atrás de mim, indo até as escadas do prédio logo depois, já que o elevador estampava um aviso de quebrado com um bonequinho horrendo desenhado. Atravessei a rua, e por algum tipo de força maior, olhei para as janelas do prédio, buscando em alguma delas o rosto de Shawn, e eu achei, então apenas dei um aceno de mão, assim como ele, e voltei a andar pelas ruas de Nova York.

    As pessoas andavam para lá e para cá. Algumas pareciam estar apressadas e nervosas, outras sorriam e davam bom dias extremamente alegres, e eu parecia estar dividida entre as duas personalidades. Muitas vezes, as pessoas podem passar imagens erradas de quem realmente são, as pessoas estressadas e apressadas que passavam por mim poderiam não ser tão ranzinzas quanto pareciam naquele momento, poderiam apenas estar em um mal dia, ou atrasadas para algo importante em suas vidas agitadas, e aquelas pessoas alegres poderiam, todas as noites, trocar seus largos sorrisos por lágrimas, poderiam estar tentando esconder seu sofrimento, ou sua saudade atrás de um simples sorriso, poderiam desabar todas as madrugadas, ter aquela vontade absurda de jogar a própria vida na lata do lixo e não ser tão felizes quanto aparentavam. Era isso que acontecia com Shawn. Ele parecia ser um desses garotos super famosos que humilham diversas garotas, ou menosprezam as suas próprias fãs, passam noites com modelos magras e bonitas e no dia seguinte vão embora deixando-as só numa cama vazia, mas talvez, apenas a fama lhe passava essa imagem, porque ele não era nada disso.

THE FEELING // SHAWNWhere stories live. Discover now