PARTE III

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Luzia não acreditava no que tinha acontecido! Um ser inferior havia a beijado!

Nunca havia beijado ninguém antes e o primeiro beijo que teve foi justamente com um homem! Argh! Sentia nojo de si mesma. Sentia que estava suja, que havia se rebaixado e que agora era quase como um ser inferior também.

E como Gustavo teve a ousadia? Como ele pode!?

Voltou chorando para o seu apartamento e a primeira coisa que fez ao chegar foi escovar os dentes, usar um enxaguante bucal e tomar um demorado banho. Queria se livrar de qualquer vestígio dele. Qualquer vestígio de que um homem havia a tocado.

Bem que diziam que eram perigosos e que as mulheres não deviam se aproximar deles. Ela devia ter escutado! Havia sido inocente demais! Gustavo quis beijá-la desde o princípio. Tudo que fez foi para chegar àquele momento. A conversa que tiveram foi apenas para ganhar sua confiança.

Após chorar bastante, Luzia enfim adormeceu e na manhã seguinte já estava mais calma. Apesar de não confessar a si mesma, começava a pensar de forma diferente no beijo. A princípio ficou assustada, mas logo notou que teve mais uma nova experiência em sua vida e que não foi tão ruim. Nunca teve vontade de beijar outras mulheres antes. Mas os homens eram diferentes. Gustavo era diferente: havia algo nele que a deixava curiosa e despertava novas sensações.

E foi essas sensações que lhe levaram a ir encontrar Gustavo mais uma vez naquela tarde, no horário e local combinados. Esperou poucos minutos até que o garoto surgiu. Com um cumprimento contido, os dois saíram andando lado a lado, em direção a sociedade de Luzia. Após alguns passos de clima tenso, Gustavo falou:

— Me desculpe por ontem.

— Tudo bem. — Luzia nem mesmo olhou em sua direção ao responder. Seu coração acelerou ao lembrar do beijo, mas fez questão de mostrar indiferença.

— É sério. Só estava com vontade de fazer aquilo. Muita vontade! E nunca tinha sentido isso por nenhuma outra pessoa. Nunca beijei um homem, mas senti uma vontade louca de beijar você. Sei que não devia ter me dado o luxo de fazer o que queria. Não é assim que funciona para mim.

— Tudo bem. Não se preocupe.

— Obrigado.

Não disseram mais nada, e logo Gustavo havia esquecido a conversa anterior e se ocupava em admirar a belíssima sociedade de Luzia. Enquanto os dois caminhavam próximos, o garoto admirava cada detalhe.

Não só as mulheres lhe chamavam a atenção, andando felizes e devagar por entre eles com suas roupas coloridas, como também os diversos edifícios de formas extravagantes. Alguns com formatos geométricos, outros em curvas e linhas orgânicas, mas sempre com muitas cores, muitas luzes e muitos outdoors.

Havia também diversas árvores e uma sensação de bem-estar e felicidade que Gustavo não saberia explicar. Tudo parecia ser perfeito. Desde as vias sem buracos, às ciclovias e parques, os estabelecimentos comerciais, tudo era lindo! E ao contrário do que ele imaginava havia mais pessoas na rua aquele horário do que esperava. Sem compromisso, as habitantes da sociedade superior saiam e andavam pela cidade a hora que quisessem.

— Aquilo é uma livraria? — perguntou, apontando para um prédio em formato piramidal na próxima esquina.

— Sim. Quer ir lá?

— Posso? Me deixariam entrar?

— Sim. Se quiser podemos pegar alguns livros para você levar também.

— Sério?

Luzia acenou com a cabeça em concordância e seguiram para o local. Gustavo mal pode conter seu espanto ao entrar no estabelecimento. Sua boca abriu e seus olhos brilharam ao analisar cada centímetro do primeiro andar da livraria. Todo o pé direito duplo e o mezanino eram preenchidos com estantes em formato de ondas que se alongavam por intermináveis corredores. No centro algumas mulheres estavam sentadas em poltronas e puffs espalhados, com livros em suas mãos. Outras andavam pelas estantes, olhando as lombadas.

A Liberdade que Limita - ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora