Mais uma noite

83 17 12
                                    

O vento bate em meu rosto enquanto ando pelas calçadas irregulares, cheias de rachaduras e poças. É um bairro suburbano de classe medíocre, poucos passam a essa hora em suas motivações insignificantes. Mas, quanto a motivação, quem sou eu para falar ?! Sei que está frio, mas não sinto o frio de fato ! Sei que está escuro ,mas isso em nada me atrapalha. Ao contrário! Vejo melhor quando estou nas sombras...
Não sei exatamente aonde estou indo ,mas não consigo parar . Essa força me mantém sempre caminhando. Essa...essa ,fome ! Vejo uma bela jovem passar na calçada em minha direção...o vento joga para frente seus cabelos ruivos e torna ainda mais aparente seu rosto exuberante, seus olhos incisivos e sua expressão jovial... nada disso me atrai da mesma maneira... nada disso me trás maior prazer que ouvir... ouvir as batidas deste forte coração.
Eu a encaro por uns instantes e ela sorri para mim , já esperava por isso... um sorriso eu lhe devolvo involuntariamente. Sei o que vem a seguir,a final, é sempre da mesma maneira... então eu a paro como quem não quer nada e lhe dirijo meu mais simpático "boa noite " com uma olhada penetrante em sua alma. Isso é mais que o suficiente. conversamos rapidamente sobre sua vida... as mulheres sempre adoram quando pareço interecado e de fato eu me impressiono com quão fácil está sendo, as jovens de hoje não são tão prevenidas. Digo lhe poucas belas palavras e em vinte míseros minutos já tenho atenção necessária para levar a jovem para um beco escuro... você deve imaginar o que vou fazer agora, mas na verdade está errado... eu lhe faço carícias, lhe sussurro versos, ela responde com calor aos meus comandos frios,mais uma entregue aos encantos de minha hipnose... sinto seu cheiro mais de perto em uma aspiração forte a seu pescoço enquanto exponho sorrateiramente minhas presas...
Está acabado em instantes... olho para o que fiz. Nojo consome meu interior... o desejo me venceu outra vez ,esmagou minha vontade e cegou meus sentidos. No entanto, a era de sofrer por pobres já se fora. Ajeito meu paletó, arrumo minha camisa disfarçando as pequenas gotas vermelhas , olho para o céu escuro e nublado enquanto vagueio por memórias dolorosas... talvez lhe pareça um discurso melancólico, mas quando se viu o que vi e pelo tempo que vi, percebe se que elas são cada vez mais numerosas e dolorosas... Principalmente quando são tão parecidas com seu presente. Dou mais um suspiro "há coisas que o tempo não pode curar". Afasto com um rápido piscar de olhos estes pensamentos e sigo de volta para a rua em minha constante caminhada. A noite é longa e ainda não estou satisfeito...

Crônicas Da Meia Noite Where stories live. Discover now