O massacre

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No beco não tinha nenhuma iluminação, mas eu estranhamente conseguia enxergar... aquilo era um absurdo... eu havia acabado de saltar de uma janela no décimo andar! Como ainda estava andando ? Por que havia um atestado de óbito em meu nome ? Por que tanta dor ?

  Andar era estranho. Eu estava extremamente leve e a cada passo avançava mais metros do que desejava. Isso me levava a tropeçar e cair constantemente. Tentei sair do beco e ir para a rua, mas as luzes e barulhos me deixavam angustiada. Andei cambaleante pelos becos e vielas. Seguia sempre na mesma direção, mas estava sem rumo e não compreendi o motivo de querer tanto seguir aquele caminho. Eu me apoiava em paredes que acabavam por se quebrar, em barras de ferro ou lixeiras de aço que se entortavam. "Por que está tudo tão frágil? Isso não pode ser real".

Dizem que nada está tão ruim que não possa piorar... pois bem! Começava a chover e eu me desesperava cada vez mais. O pior é que por mais confusa que eu estivesse, eu não sentia nada. Deveria estar triste por aparentemente estar morta... irritada por não me lembrar de nada... com medo daquelas ruas perigosas... nada! Eu sabia o que eu sentiria naquela situação. Sabia exatamente o que deveria estar sentindo e como sentiria, mas era como se de fato eu não sentisse. O vazio era tudo que agora me incomodava e eu estava mais interessada em entender o que acontecia do que em sentir algo.
Enquanto pensava sobre isso, não os vi se aproximar. Quatro homens me cercaram de repente, próximo a uma parede de tijolos velhos da rua sem saída.
  Eles eram maiores que eu, quem não é?! Eles tinham facas e barras de ferro e eu estava assustada, mas não tive medo. Aquele constante "tun tun, tun tun" estava presente... tive a sensação de que estava ouvindo seus corações. Um deles chegou ainda mais perto. Vestia-se com uma grande jaqueta preta, um gorro escuro, calças jeans azuis rasgadas e camisa, que acredito um dia ter sido branca. Não sei dizer como peguei tantos detalhes em tão poucos instantes, uma vez que foram apenas alguns segundos antes que ele falasse comigo
- então gracinha... o que uma coisa como você faz num lugar como esse?
- e vestida assim... tão solta. Acho que nos esperava hehehe- o outro continua e os quatro riem. Aquilo me irritava. Comecei a sentir o calor em suas peles, ouvia os pingos de chuva caindo e batendo em suas roupas... a cada momento meus sentidos estavam mais apurados e não só para seus corpos. Podia sentir na entonação de suas vozes... Podia ver no olhar daquele homem, sabia exatamente o que queriam, quase podia ver o que pensavam.
- não vai dizer nada docinho? Por que não vem conosco para longe desta chuva rsrs
- afastem se de mim!- falei em um tom que saiu levemente mais firme do que pensei e as expressões deles mudam. Agora estavam debochados e me senti uma piada por um momento.
- olha só queria... não é bem assim que funciona- pude sentir eles se aproximando por trás de mim
- AFASTEM-SE
Dois deles tentaram pegar meus braços e eu pensei que tudo estava acabado, mas empurrei-os para os lados e ambos voaram metros para trás. O homem que estava a Minha frente pareceu não acreditar e atacou-me com sua barra de ferro. Nunca vi uma pessoa tão lenta! A barra vinha em direção a minha cabeça quase que parada e eu permiti que ela passasse ao meu lado para arrancar de suas mãos com a canhota enquanto o empurrava com a outra. Ele bateu na parede de tijolos com força e sangrava na cabeça devido a pancada. Eu senti o cheiro do sangue. Aquilo era tão bom... tão atraente... tão agradável. Eu me vi aproximando lentamente dele, encantada pelo líquido vermelho que escorria de seu corpo.
  Não percebi que tinha esquecido do outro deles, até que seu canivete entrava em minhas costas. Eu percebi que me feri, mas não senti dor real, apenas um ódio profundo. Me virei e segurei com toda a força o punho do homem que quebrou imediatamente, ele gritava e chorava. Peguei a arma que ele usou para me cortar sem ligar para meu próprio sangue que escorria, enfiei ela diversas vezes no corpo do maldito. Ele tentou escapar, mas eu era mais rápida e mais forte que o sujeito e em instantes suas vísceras estavam expostas. Aquilo era bom, seu pulsar estava nítido diante do meu aperto em seu braço.. Aquilo me seduzia e eu só pensava em uma coisa. Sem demora cravei meus dentes em seu braço e senti o sabor quente dos seus fluidos... Nunca pensei que provaria algo tão bom em toda minha vida. Ele estava Seco em instantes. Vi que os outros se levantavam e me encaravam com medo. Senti que queriam fugir... então  avancei em direção a eles e acabei por destruir ambos. Seu sangue quente esguichou por todo meu corpo e eu adorava aquilo. Me dirigi então ao homem ainda apoiado no muro. Provavelmente havia quebrado algo, pus a mão em sua garganta... e enquanto observava o pavor crescente em seus olhos eu a arranquei.

  Depois olhei todo aquele sangue misturado a lama e chuva no chão... vi toda aquela cena grotesca e senti tamanha nojeira e desgosto. Estava tão bom enquanto o fazia que não parei para pensar no nível da atrocidade. Mais confusa ainda, me pus a andar ainda naquela direção. Tentando cada vez mais rápido me distanciar daquilo tudo. Quando dei por mim, estava em frente a porta de uma casa antiga próxima ao central Park. Não sabia o motivo de ter sido atraída até ali... mas já havia chegado então bati na porta. Ouvi uma voz famíliar gritar - Quem me perturba?- e nada respondi... ele tornou a perguntar e uns instantes depois quase senti meu coração sair pela boca ao ver aquele homem novamente abrir a porta
- você deveria estar morta

Crônicas Da Meia Noite Where stories live. Discover now