Todas As Estrelas

Capítulo 1

Respiro fundo e conto até três. As batidas ritmadas na porta é o sinal do meu pai que já está na hora de ir. Me olho no espelho mais uma vez e encaro pensativa meu reflexo.

Hoje eu acordei com uma sensação ruim. Não, não ruim, mas era estranha com certeza. Um misto de medo, ansiedade e frio na barriga.

Saio do meu quarto e encontro meu pai na sala no seu habitual terno. Pedro, meu pai, é sócio do Grande Brasília Hotel, trabalha como administrador e eu sou funcionária de lá, no setor de eventos. Mas na verdade, ajudo por todas as áreas, onde precisam de mim eu vou.

Meu pai, um viúvo cinquentão, é o cara que eu mais admiro no mundo. Ele trabalha feito louco para dar uma vida razoável para mim e minha irmã, mas mesmo assim ele não deixa faltar amor.

Quando minha mãe engravidou de Andreia, meu pai tinha acabado de assumir a administração do Hotel. Eu tinha apenas 6 anos e minha mãe estava grávida e doente. Meu pai não podia cuidar de mim, da casa, da gravidez e da doença da minha mãe. Então ele pediu socorro para minha tia Bárbara, irmã da minha mãe. Ela me levou para morar com ela em BH.

Olho para ele concentrado em algum papel e quando percebe que eu estou olhando ele sorri.

— Está pronta?

— Sim, podemos ir.

Percebi que durante o trajeto meu pai estava um pouco inquieto. Mas as vezes ele ficava assim, principalmente quando tinha algum problema com o hotel. E minhas suspeitas se confirmaram quando chegamos lá. Todos os funcionários alvoroçados, conversando entre si.

— O que houve? – Pergunto para ele.

— Ér... Não sei... – ele desconversa.

Agora eu tenho mais certeza ainda que tem caroço nesse angu.

— Não sabe? Achei que seu trabalho fosse saber das coisas! – Falei irônica.

Meu pai arqueou uma sobrancelha como quem diz "olha como fala comigo, garota".

— O que? Deu para esconder as coisas de mim agora? O que raios pode acontecer nesse hotel que eu não posso ficar sabendo?

E assim que eu fechei minha boca meu celular tocou.

— É a Andreia. Será que aconteceu alguma coisa? – Falei

Atendi preocupada e do outro lado da linha tudo que eu conseguia escutar eram gritos.

— Andreia? Alô? – Mais gritos – Para de gritar! Aconteceu alguma coisa?

— Theo Lins vai fazer show em Brasília! – Ela gritou.

Olhei por meu pai e pelos olhos culpados eu percebi. Ele sabia.

— Andreia... Depois a gente se fala!

E desliguei.

Olhei para o meu pai que tinha os olhos arregalados para mim.

— Sério? – Falei dando um riso irônico e sai.

— Nina... – meu pai chamou e eu parei.

— "Nina" o que? Vai me dizer que não sabia? É claro que sabia. E estava tentando esconder de mim. Como se essa droga desse garoto não fosse causar esse alvoroço todo. Como se ninguém nessa droga desse hotel fosse comentar. Como se a sua filha não fosse surtar...

Parei de falar quando eu percebi que estava perdendo o controle.

— Era exatamente essa reação que eu estava evitando. – Meu pai fala. – Meu Deus, você só ouviu em falar e olha como você já está? Como vai ser no dia?

Arregalei o olho. Ele não ia fazer isso comigo.

— Não. Pai... por favor... você sabe que eu não posso...

— Pode sim. Chega disso, de ficar fugindo, de ficar se escondendo. Eu e você sabemos que você passou por coisa bem pior do que a separação de vocês...

Ele me olhou daquele modo com repreensão, mas ao mesmo tempo tomando cuidado com o que fala.

Ah, eu sabia.

Sabia que tinha passado por uns maus bocados, momentos que fizeram a minha vida mudar completamente e trouxeram consequências que batalho para estabilizar até hoje.

— Eu queria ficar num lugar onde não pudesse vê-lo, pai...

— Eu pensei que você pudesse ficar na recepção. – Ele falou – você é a mais esperta, conhece todo mundo e, bem, provavelmente ele entre pelos fundos... você não irá vê-lo.

Eu não estava acreditando naquilo.

— Eu não posso simplesmente viajar? Ou até mesmo ficar em casa. Eu só... – suspirei – não queria ter que passar esses dias no medo de esbarrar com ele.

— Ei, princesa, sabe que eu não colocaria você em risco. – Meu pai me abraçou.

Sai da sala do meu pai, ainda atordoada. Caminhei de modo automático até meu departamento. E quando eu me sentei, minha mente saiu do meu corpo e viajou.

Me lembrei do dia em que Theo me deu o colar que era nosso amuleto. A chave e o Coração. Na verdade, o colar não era de encaixar um no outro. Ambos achávamos aquilo bem brega. Mas queríamos de algum modo mostrar que nós nos completávamos.

*Flashback On*

— Fecha os olhos! – Ele disse.

— Ah, Theo... Lá vem você! Sabe que eu detesto isso! – Reclamei.

— Não vai detestar, eu prometo. Agora feche!

Fechei os olhos e tentava prender um sorriso que queria escapar de meus lábios. Estar com Theo eram sempre assim, me deixava completamente alheia ao mundo real e tomava minha atenção. Parece que nós nos desprendíamos do mundo e entravamos em uma bolha só nossa.

Senti algo gelado contra meu peito e aquilo causou um pequeno arrepio. Imediatamente levei minha mão ao local sentindo o objeto de metal.

— Pode abrir. – Ele falou enquanto me abraçava por trás.

Olhei para o objeto. Um colar de ouro em formato de coração e rodeado por strass.

— Theo... É lindo! – Eu sorri o abraçando.

— Eu tenho um também. É uma chave – ele tirou o objeto de dentro da blusa – para mostrar que só você tem meu coração.

— Eu adorei! – Pulei no seu pescoço e o beijei.

*Flashback Off*

Só percebi que eu prendia a respiração quando minha colega de mesa chamou minha atenção.

— Nina, está tudo bem? – Ela perguntou.

Olhei para ela.

— Sim. – Respondi simples.

— Estava aí viajando. Parecia um zumbi. Credo. Estava pensando em que?

— Eu não estava pensando em nada. Estava só... rezando.

Dei um sorriso falso e ela pareceu se convencer.

Minha resposta não era de todo mentira. Por dentro eu realmente estava rezando. Rezando para que Deus me ajudasse a manter o controle e, acima de tudo, que eu não esbarrasse em Theo Lins.

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Oi Coisas lindas!

Sei que o capítulo foi curtinho mas logo as coisas entram nos eixos.

O que será que essa visita reserva?

Deixem seus comentários e não esqueçam as estrelinhas!

Até mais!