Posso escutar os passos, mas não vejo ninguém, posso ouvir as vozes, mais ninguém vou ver falando.
Posso chorar que ninguém vai me dar um lenço. Posso morrer que ninguém vai perceber. Pois não existe ninguém ali.
Eu digo adeus.
Você tem que dizer que não é um adeus quando vamos de encontrar daqui a pouco.
Eu posso gritar, gritar e gritar. Ninguém vai me ver, ouvi, sentir.
Você pode me parar. Mas não vai conseguir. Pode me segurar mais vai me deixar cair.
— Nilce. - chamou ele.
— O que é? - olho assustada. Era agora. Séria agora.
— Pronto. Está tudo bem. Você me ouviu? - ele era tão carinhoso, eu tinha até me esquecido que era meu homem.
— Ela morreu? - minha voz se perdeu nas falas.
— Não meu anjo. Ela está tão saudável quanto você. - ele tocou minha pele. Posso sentir o calor de suas mãos.
— Mamãe... - lá estava ela. — A senhora está bem? - ela tocou meu rosto. Era tão bom sentir minha filha.
— Estou querida. Venha aqui, deixe me sentir seu amor. - abri meus braços. Ela se aconchego neles. — Eu tive tanto medo meu bebê, que bom que está bem. - seguro seu rosto e dou um beijo em sua testa.
— Eu te amo. - minha pequena era tão linda.
— Eu também te amo minha linda. - posso sentir suas lágrimas caindo em minhas mãos.
— A culpa foi minha. - ela chorou, chorou como eu, como você, como todos nós um dia já choramos.
— Nada disto mocinha. A culpa foi minha. Eu deveria ter esperado seu pai. Se não fosse por aquele moço, nós duas estaríamos mortas agora. - ela é tão jovem, tão minha.
— Eu deveria ter tomado cuidado. - ela colocou as mãos em meu rosto.
— A culpa... - a parei.
— A culpa não é de ninguém, tudo certo? - sei que ela sorriu.
Sei que não posso ver, mas eu ainda posso sentir, ouvir e cheirar. Só porque não tive o privilégio de ver minha filha, não quer dizer que eu não a senti. Eu lembro seu cheiro até hoje. Aquele aroma de bebê que acabou de nascer.
Eu a amo. E isto que importa.
—‡—
(Pequena sei, mas é o que tem por hoje.)
