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Adivinha que surge nesta parte?

Veja, leiam, leiam! :333

Pergunta: vocês imaginam Valentina magra ou gorda?

A descrevi como magra, mas ainda estou pensando sobre.


***


Às vezes, as pessoas são realmente estranhas. Assim como aquela mulher parada à frente da jovem Val.

– Oh, me desculpe! – finalmente a mulher se lembra de quem é a menina ali em pé e fala em libras, devagar, ela não sabe muito, mas tenta – Você há muito tempo aqui?

Óbvio que a pequena mulher não fala exatamente isso. Ela diz algo como "você, tempo, aqui?" enquanto aponta para Valentina, depois para seu pulso e finalmente para o chão, mas, Val a entende, eu a entendo também e prefiro descrever de maneira organizada o que a mulher fala em vez de palavras soltas.

Valentina balança sua mão para um lado e para o outro. Quase como se tocasse um padeiro. É uma expressão naturalmente conhecida até por quem ouvia como "mais ou menos".

A mulher solta o braço do menino ao lado dela e vê a mãe de Val no carro, a menina vê a mulher sorrindo e batendo suas duas mãos juntas. Meio lunática.

– Eu sei que você não quer estar aqui. – a mulher tenta falar devagar em libras e com palavras, fazendo Valentina encarar sua boca para tentar ler seus lábios também – Ninguém quer estar. Mas, não se preocupe, daqui para dentro só soltamos uns palavrões e xingamos.

Valentina franze seu cenho. Entendeu tudo. Mas falar palavrão não é o mesmo que xingar? Isso, nem ela e nem eu precisamos ver no dicionário. É a mesma coisa. Que tipo de ONG era aquela?

E, como se lesse os pensamentos de Tina-apelido-de-pinico, fala como antes:

– Ah, é! Falei que falamos palavrão duas vezes. Só fazemos isso mesmo lá dentro. Somos praticamente rebeldes com causa. – a mulher novamente sorri – Pelo menos seus pais não estão pagando para você estar aqui... E, olha, sua mãe até já foi embora.

– Ela acha que você é séria. – Valentina sabe como cada palavra é "solta pelos lábios", como ela normalmente chama, então, ela fala em libras e mexe seus lábios como soa cada palavra para a mulher entendê-la.

– A ONG é séria. – a mulher diz – Eu não. – e ri, Val claramente já gosta dela – A propósito, meu nome é Piith.

– P-i-i-t-h? – Valentina soletra em libras para saber se entendeu certo e a mulher bate em sua própria testa enquanto balança sua cabeça negando.

– Não, Piith, e sim: P-e-a-c-h.

Valentina faz uma careta e fecha uma palma e finge mordê-la.

– Eu não sei o que você está querendo dizer – Peach começa – mas provavelmente é algo sobre meu nome ser uma tradução para pêssego... Já não gosto da sua inteligência. Mas é, é pêssego mesmo, também é a princesa do jogo do Mário. Eu sei, eu sei. Absurdo. Culpe meus pais!

Valentina ri.

Peach quase tem um formato de pêssego mesmo. Mas, não tem a cintura de um. A mulher à frente da menina é baixinha e, para Val, sua pele é como um chocolate amargo.

Valentina ama aquele tom de pele, parecido com o de sua mãe. Sim, a menina ruiva e branca vinha de uma família inter-racial. Mãe negra e pai ruivo. Não estranho para ela. Talvez aquela fosse outra razão de ela ser empática com o mundo, porque via o quanto as pessoas achavam que sua mãe, era, na verdade, sua babá ou empregada da casa.

Ela gostou de Peach-como-pêssego-mas-sem-a-cintura-de-um. Peach não achou que sua mãe era uma babá. Já começava bem para Val-apelido-para-uma-mulher-rica-e-esnobe.

Peach está com seu cabelo preso no topo de sua cabeça. É um belo cabelo, bem bagunçado agora e muito voluptuoso. Valentina gosta. Já se sente acolhida de uma maneira meio bizarra.

Peach é um par de anos mais velha que Valentina. Sei disso porque sei tudo. Sei o que aconteceu antes de Val naquele espaço da ONG, que antes era uma quadra abandonada. Sei a história de Peach também. Mas, ela, prefere engoli-la e, agora, ajudar outras pessoas.

Peach não é uma pessoa que se considera altruísta. Mas ela é, porque ela nem sequer pensa sobre isso, só faz. As melhores pessoas são assim. Agem em prol do bem sem nem pensar no que está fazendo.

A mulher não quer palmas ou agradecimentos, ela quer apenas fazer o que acredita que tem que fazer. E aquela ONG é o começo de tudo.

– Me sinto em um tiroteio. – o menino ao lado de Peach diz e Valentina, infelizmente não ouve, perdendo a piada, mas Peach ri batendo levemente no braço do garoto uma cabeça mais alta que ela.

Ele é alto, mas alto que a própria Valentina que se considerava alta até vê-lo. Mas ele não é enorme, só alto demais para um garoto de, no máximo, dezessete anos. Isso é o que Valentina pensa e acerta. O garoto tem apenas dezesseis, como ela.


Ambos estão no terceiro ano do ensino médio em um turno novo – um turno recém adotado como o turno da inclusão. Antigamente eles estudavam à tarde, com a mudança passam a estudar na manhã. Apesar de estudarem no mesmo colégio por anos, nunca se conheceram.

O garoto tem um cabelo meio comprido e preto. Seu cabelo cai ocasionalmente em seus olhos. Sua pele é pálida e Valentina se acha bronzeada ao lado dele que parece fugir do sol. Suas mãos estão escondidas nos bolsos de sua calça jeans e sua camiseta é um preto básico.

Ele é bonito. Talvez tenha um nariz comprido demais e bochechas meio rosadas, mas, apesar de não focar seus olhos em nada, eles são grandes e em um tom caramelado que chama à atenção de Valentina.

Peach estala os dedos em frente ao rosto de Valentina que se assusta com aquela mão tão perto de seu rosto. Peach, apenas ri e comenta somente em libras:

– Eu sei que o garoto é bonito e apesar de ter olhos vivos, eles não veem você olhando para ele, mas, eu estou vendo...

Val não precisa pensar muito para entender que aquela mulher está a provocando. Sim, talvez Valentina se chateasse com a atitude daquela mulher se ela não sorrisse de uma maneira tão sincera.

É impossível desgostar de Peach?

Valentina achava que sim.

IncompatíveisOnde histórias criam vida. Descubra agora