5.2

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Os olhares oscilam entre cuidado, empatia e... pena. Ah, pena! Esse olhar a menina conhece bem. Afinal, para saber que ela é surda, as pessoas precisam falar com ela e quando ela aponta para sua orelha e faz alguma expressão que dê a entender que não ouve, ela vê a pena.

Pena está em todo lugar. São essas mesmas pessoas que não se levantam dos bancos para um idoso sentar ao dizer que não está no lugar preferencial, mas não tem educação básica de entender que preferencial pode ser em qualquer lugar.

São tão boas pessoas, essas. Sentem pena e não fazem nada. Ótimas pessoas. Sentem pena e encaram os "diferentes" da cabeça aos pés. Sentem pena e não perguntam, de maneira direta mesmo, como você prefere ser tratado. Sentem pena, mas não sabem que sentir pena não adianta nada.

Valentina tem vontade de cuspir nos pés dessas pessoas, mas o que faz desequilibra seis dos oito olhares: ela os encara de volta e sorri.

Eu estou vendo você, idiota.

O que tinha vontade de falar, brincando — ou nem tanto — para Ethan, diz em um olhar para aquelas pessoas.

Palavras estão em muitos lugares, ela sabe. Inclusive em seu sorriso. Ela diz mais nele do que uma frase inteira.

As pessoas param de olhar, envergonhadas, foram pegas nos flagra.

O bairro que eles moram é simples e velho, antiquado, Val diria. Ao redor do galpão há vários prédios abertos, sem segurança. Os prédios estão sem cor e as poucas cores que sobrevivem ao tempo, estão descascadas.

Val mora em um prédio assim, velho e deixado de lado, mas sua casa é bem arrumada. Ela mora há algo em torno de dez a quinze minutos andando do galpão e gostaria de perguntar a Ethan há distância de sua casa, quando o menino para de andar e aperta o ombro dela.

Ela o olha e ele é metódico quando guarda sua bengala e pega seu celular. Está a ponto de pegar o seu aparelho acreditando que ele mandará uma mensagem quando ele vira a tela, daquele mesmo jeito, virando para o além até que a menina consiga segurar seu pulso para ler.

Acho que estou perdido.

— Como? — Tina, sem querer, fala em libras.

Em seguida, percebendo a sua falha digita em seu celular, em um mecanismo de tradução e usa apenas a função da voz mecânica, mesmo que ela não saiba o quão mecânica é.

— Você acha ou tem certeza?

Ethan fala e mostra a mensagem digitalizada para ela ler.

Certeza.

— Você não disse que sabia até de olhos fechados?

Acho que estava errado. Precisava da bengala desde o início.

ET fala seu endereço para Valentina ler, porém ela não conhece aquela rua e não quer se perder junto com ele.

— Darei um jeito — É o que a voz mecânica diz, mas Val, na verdade, só tem uma coisa a fazer.

Levar Ethan para sua casa.


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eita eita eita! e agora?


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IncompatíveisWhere stories live. Discover now