Chapter 1

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Louis olhou pelo retrovisor pela centésima vez na última hora. Ele não conseguia acreditar em sua sorte. Sua filha de quatro anos dormira, basicamente, durante todo o trajeto rumo à casa nova.

É claro que ele planejara isso perfeitamente. Não se embarca numa viagem de carro com uma criança pequena sem qualquer planejamento. Isso seria imprudente, na verdade. Faltando apenas trinta minutos de percurso, ele aproveitou a chance e ligou o rádio, bem baixinho, só o suficiente para distraí-lo daquela estrada chata e vazia.

Ele voltou o olhar mais uma vez para o emaranhado de fios castanho-claros escapando do mini edredom de fleece roxo, companhia fiel da menor para qualquer viagem fora da cidade. Ele cantarolava a música desconhecida e tamborilava os dedos no volante à medida que se aproximava dos arredores da nova cidade na qual passariam a residir.

A questão era: Louis não conseguia mais suportar Londres. As mesmas coisas que, outrora, o atraíram até a cidade – as pessoas, a vida noturna, sua imensidão – eram agora os fatores que o faziam fugir dela.

Ele odiava as comutações no trabalho que o obrigavam a deixar sua filha em uma creche depois da escola até terminar o dia, odiava o tráfego, a poluição e como ele tinha que se sacrificar para que ela brincasse num pedaço de grama.

Louis finalmente explodiu quando tentaram invadir sua casa. Eles – felizmente – não estavam lá e Louis agradeceu a todos os deuses que já ouviu falar por, nesse dia particular, pai e filha terem decidido fazer uma longa caminhada até o parque favorito da pequena. Em questão de semanas ele havia arranjado a mudança de ambos para uma cidade não muito distante de Londres, mas o bastante para que se sentissem em segurança.

A forma na qual as ruas eram organizadas lembrava-o de sua própria cidade natal, onde crescera, apesar desta ser muito menor e ter muito mais verde. Ele abriu um pouco a janela do carro, não o bastante para deixar o calor entrar, e, porra, conseguia sentir pelo cheiro como o ar era diferente. Sentindo-se inebriado de excitação, seguiu as instruções do GPS até contornar a esquina da rua que reconhecera do Google Street View. Diminuindo a velocidade, ele se permitiu admirar as casas bonitas ao longo da rua.

Todas contavam com grama na parte da frente, embora ele não a considerasse de fato um gramado. Louis sabia que todas possuíam quintal, algo que ele especificadamente requisitou ao agente imobiliário. Este, por sua vez, fora uma preciosidade, enviando-lhe foto atrás de foto, organizando tudo meticulosamente numa planilha. Levou menos de um dia para que escolhesse a casa da qual seu carro se aproximava, o caminhão de mudança seguindo-o logo atrás.

Ele estacionou e desceu silenciosamente, admirando a construção à sua frente. Louis não conseguia acreditar que o aluguel que pagava em Londres por um pequeno flat era suficiente para pagar por uma casa como esta. Dois andares, três quartos (sendo uma suíte) e dois banheiros, ampla cozinha/sala de estar, lavanderia e um quintal com uma árvore. Tipo, árvore  mesmo, com raízes e tudo mais.

Louis a avaliou de uma variedade de ângulos diferentes e o corretor fora gentil o bastante para tirar mais fotos da casa, mesmo quando o outro já estava quase certo de sua escolha. Ele gostava da forma que poderia manter um olho em Lilian da cozinha enquanto ela brincasse, tanto no quintal quanto na sala. Todo o segundo andar era em carpete, e ele já conseguia se ver usando um dos quartos como seu escritório – já que, certamente, ele não estava planejando outro filho.

Os tijolos vermelhos à mostra chamaram sua atenção, assim como o peitoril das janelas na cor branca. Devagar, ele abriu a porta do banco detrás e gentilmente libertou o rosto da filha do macio edredom.

"Acorde, amor," ele disse, docemente.

"A gente já chegou?" Ela perguntou, a voz fraca carregada em sono e olhos que mal conseguia manter abertos.

For You I Saved the Love (I Never Knew How to Give) - portuguese versionWhere stories live. Discover now