Alone in my mind

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O vento sopra as folhas com delicadeza, o assobio das árvores era música para seus ouvidos, os pássaros quase não cantavam aquela hora, e mesmo que Dean odiasse o canto deles, fazia falta.

Quando ele deitava na grama entre as folhas alaranjadas de outono era seu momento favorito. Poder observar o céu extenso e azul sobre seus olhos, e tentava algumas vezes ver formas nas nuvens, mesmo que as árvores compridas atrapalhasse.

Havia momentos que ele fechava os olhos, apenas para escutar tudo ao seu redor. As folhas batendo umas nas outras, os ventos soprando tudo com delicadeza e até mesmo o canto dos pássaros. Houve uma vez, que ele escutou passos de alguém correndo rápido, mas teve medo de abrir os olhos para checar se não era apenas uma lebre ou um veado.

Desde sempre ele foi assim, com medo de tudo. Ele odiava multidões e quando as pessoas gritavam muito alto. Gostava de brincar sozinho e quase nunca falava. Ele era diferente. Sabia disso, por isso tinha medo.

Algumas vezes, quando ficava em silêncio ele podia escutar vozes lhe dizendo coisas feias, lhe dizendo coisas que faria qualquer um ficar louco. Nesses dias ele preferia nem sair da cama, apenas um silêncio deixando que as vozes falem. Ele contou tudo para sua mãe, desde os passos até as vozes, a mesma chegou a conclusão que seu filho tinha alguma doença. E ele tinha medo disso também, de ser errado, de ser falho, como alguns de seus colegas gostavam de chamar ele.

Nas noites que a lua era invisível, e tudo ficava escuro, ele conversava com as árvores, como se elas tivessem ouvidos. Mas não recebia nada mais que o silêncio perturbador. Porém nunca parou de contar história e como havia sido seu dia.

Ele sentia que precisava conversar com alguém, pensou em seu irmão, mas era muito novo para entender. Já havia contado para sua mãe, que lhe escutou, mas ficou calada. Seu pai não parava em casa, e quando parava, estava bêbado demais para entender alguma coisa.

Quando acordou uma manhã, sua mãe disse que o levaria a um lugar onde ele possa conversar, e então ele teve medo, mas sentiu alívio por alguém querer lhe ajudar. Mais tarde ele conheceu com quem conversaria. Dra. Cat. Dean achou engraçado o nome dela, mas não disse nada. Ela lhe fez perguntas e pediu para que ele desenhasse algumas coisas. E o medo de Dean foi sumindo aos poucos, pelo menos com ela.

E foi assim, durante 4 meses, ele tinha alguém que podia confiar, alguém que estava o ouvindo, e lhe dizendo como lidar com as vozes, com tudo. Ele queria dizer que nas noites mais escuras ele escutava alguém, pedindo por ajuda, ou somente correndo, mas como sempre, tinha medo. Medo de não poder voltar pra floresta, medo de ser só coisa da sua cabeça. Então ficou quieto, o resto do ano.

E mesmo que seu voto de silêncio para esses tipos de segredos, ele continuou contando coisas que achava ser importante. Havia semanas que somente sua mãe ia, e ele tinha medo de ela contar algo para sua mãe. Ele havia muitos segredos obscuros que não gostaria que ninguém descobrisse, e isso era ruim de certa forma, certo?

Não importava agora, todo mundo tem segredos que não podem ser falados muito menos ouvidos. Dean ainda tinha muita coisa pra aprender e entender, e por mais que isso fosse uma completa confusão - Era como ele gostava de se chamar, uma completa confusão -, a esperança de que algum dia algo bom acontecesse a ele nunca morria, era a única coisa viva dentro de si, a única coisa que ele queria lutar, que valia a pena.

E como se já não bastasse, a Dra. Cat receitou remédios pra ele, antidepressivos e outros pra ansiedade, ele odiava tomar remédios, e quando começou ele não quis sair do seu quarto durante uma semana. E aquilo pareceu não perturbar ninguém, não era um problema. Mas ele sabia que ele era um problema, um grande saco de carne e órgãos de problemas.

Ele sabia disso, tinha certeza. E com tudo isso, ele quis morrer, ele sempre quis. Mas sempre teve medo do que tem depois, quando você fecha seus olhos e dorme pra sempre. Sempre teve medo de ser só escuridão e um vazio eterno. Ele já era isso tudo, não sabia se aguentava mais, mais vazio é escuridão.

Como o Natal estava próximo ele resolveu pedir um piano, já que era o único instrumento que chamava sua atenção, seus pais disseram que iam pensar. Então ele rezou, rezou para ganhar um piano e para que o resto do seu ano seja bom. Ele não sabia se Deus era real, mas precisava acreditar em algo maior, precisava acreditar que algum algum dia iria te ajudar.

Porque ele precisava de uma boa ajuda, e rápido. A última coisa que alguém como ele iria querer é ficar louco e viver sozinho.

In The DarknessWhere stories live. Discover now