| Cap. 04 |

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Tal como a minha mãe alertou-me, viver num apartamento de aluguer em Nova Iorque poderia ser demasiado expendioso para quem já tem um trabalho em áreas específicas, tal como medicina ou direito, agora imaginem como não será comigo que, nesta altura do campeonato, tem um emprego simples numa galeria.

Nem é por isso, aliás, eu sempre consegui arranjar-me por mim mesma com tudo o que eu recebo, mas parece que quando a onda de azar aparece, leva tudo à frente. Estou a referir-me ao email que o senhorio do apartamento mandou-me hoje de manhã, quando eu me mantia pacífica preparando um café só para mim, visto que o Liam e o pequeno Bear já haviam saído, a passar a informação que a renda irá aumentar a partir de agora.

Não o censuro, afinal o apartamento estava a um preço bem acessível para mim, e tanto para o Liam, pois dividimos o preçário pelos dois. O que nos facilita a vida, e muito.

Qualquer e uma preocupação que eu já não me recordava, voltaram para atormentar os meus pensamentos. Quando chegar a casa, preciso de falar com o Liam para fazermos as contas e dividir pelos dois o novo e maior preço. Felizmente não tenho de pagar aquele montante todo sozinha.

Subo as curtas escadas que dão acesso à galeria, cheguei levemente atrasada por causa de um acidente que houve na via pública, aparentemente um dos graves. Felizmente, enviei uma mensagem ao Harry a informá-lo, não recebi resposta de volta mas creio que ele a tenha lido.

Prossigo o meu caminho para dentro e deparo-me com uma confusão e tantas. Algo de muito esquisito está acontecendo, ou para acontecer, caso contrário, não estariam todos juntos em círculo a fazer um barulho que não é normal.

- Tens a certeza que está tudo bem?- Becca pergunta separando-se do abraço que acabara de dar ao Niall, que aparentemente estava desolado.

- Eu fico bem, ok pessoal?- pronuncia Niall sorridente, tentando acalmar os restantes.

Neste momento, eu estou desfocada no meio daquelas pessoas em volta do Niall, a mandarem-lhe mensagens positivas sobre alguma coisa de mal que aconteceu, e que eu ainda não sei. Mas vou descobrir.

A porta do Harry foi aberta fazendo com que mesmo este deixe só a cabeça de fora, sem notar a minha presença. Isto é se ele sequer me procurou.

- Quando arrumares as tuas coisas passa pelo meu gabinete.- ordena Harry fechando a porta de volta imediatamente.

Parece que as coisas estão a acontecer noutro cenário e que eu não tenho controlo em nada, desde que cheguei que não consegui entender um corno do que se está aqui a passar e está a deixar-me revoltada. Mas afinal o que aconteceu?

Encontrei o Vance e a Lana a cochichar que alguém tinha sido despedido, e esse alguém havia sido o Niall. Não há maneira de explicar como fiquei assim que descobri tal notícia, porém bem disposta é que não foi. Qual é a sua ideia agora?

Não demorou muito para que o Niall seguisse as instruções do Harry e entrasse pela sua porta a dentro com os seus pertences ao ombro. Queria ter dado uma palavrinha com o meu amigo Niall, mas a confusão de pessoas que o já estavam a fazer impedia-me.

Vejo o Zayn encostado à sua mesa de braços cruzados, pensativo. Quero poder falar-lhe de ontem e da nossa quase saída, mas entendo que esta não é a melhor altura. O Niall foi despedido. Tenho de falar com o Harry.

- O Niall foi mesmo despedido?- pergunto eu assim que chego ao alcance de Becca, a melhor amiga do Niall.

- Foi, o Harry anunciou isso à frente de todos.- informa-me a alta rapariga de cabelos pretos curtos.

- Ele fez mesmo isso?- inquiro sem esconder o meu choque.

- Acredita, ele fê-lo.- Becca sorri-me de forma desagradável e sai de onde estávamos para sentar-se na cadeira mais perto que encontrou.

Todos voltam aos seus postos de trabalho, possivelmente medrosos de que poderá estar em risco tal posto como o do Niall. Tenho de falar com o Harry, e será agora, visto que o Niall abandonou tanto o gabinete, como a galeria ignorando qualquer um que o abordava. Ainda tentei chamar a sua atenção, mas foi em vão. O Niall está mesmo tristonho.

Levanto-me e passo pelo pequeno corredor que dá passagem ao gabinete do Harry e entro sem qualquer aviso prévio. Assim que entro, observo-o sentado na esquina da sua secretária a olhar por entre a paisagem magnífica da sua janela. Não sei porquê, mas parece que ele já me esperava.

Avanço com pequenos passos para ele, até que, finalmente, o seu olhar pousa em mim de maneira arrepiante. As suas esmeraldas olham-me de lado e o seu sorriso mostra-se um tanto sinistro. Ignoro a sua forma de estar e abordo-o sem muitas demoras.

- Porquê que despediste o Niall?- pergunto eu.

- Não é da tua conta.- responde-me Harry parecendo divertido com a minha irritação.

- É da minha conta, sim, desde o momento em que estás a prejudicar o meu trabalho.- retruco eu de uma forma em que eu nunca pensei falar com o Harry. Esta é a nossa primeira discussão.

- Não fales como se tivesses preocupada.- retribui-me ele a refundiar o jornal como se me estivesse a ignorar. Não me preocupei,  eu sei que ele não me está a ignorar.

- Estás a falar do quê?- de repente, a memória de ontem assombra-me. Eu não quero acreditar que ele está assim por causa do quadro.

- De nada, porquê que chegaste atrasada?- inquire ele a encarar-me, ele parece mais normal agora.

- Eu avisei-te.- aponto para o seu telemóvel que estava mesmo ao seu lado na mesa. Harry agarra-o e fica uns segundos a olhá-lo enquanto mexe.

- Ah pois.- bloqueia o telemóvel e volta a encarar-me.- Como foste ontem para casa?

Porquê que isto está a parecer-me com um questionário?

- Fui de autocarro.- simplesmente respondo-lhe.

- Podias ter esperado por mim, eu procurei-te.- ele levanta-se de cima da secretária, que eu não sei como não partiu com o seu peso, e fica de pé não muito distante de mim.

- Não mudes de assunto, porquê que despediste um escultor?- volto à pergunta inicial, ele vai ter de responder-ma.

- Bom... desde que tu não concordas-te em ajudar-me eu fiquei de mãos atadas, não vi outra solução sem ser despedir alguém.- justifica-se ele.

- Mas eu disse-te que a melhor solução era manter todos.- disse eu indignada. Para quê pedir a minha opinião se não a ouve?

- Eu também digo-te muitas coisas e tu não ouves.- Harry dá uma volta de cento e oitenta graus à sua secretária e senta-se no seu cadeirão ferrugento.

- Ok, Harry. Tu é que sabes.- percebo que não vale a pena teimar com ele, dou de ombros e saiu porta fora, sem ao menos despedir-me. Entendi que ele tinha algo para dizer mas impediu-se logo que pensou duas vezes.

No final do dia, a galeria sempre lhe pertencerá e eu não passarei de uma voz que ele escuta por trás do ombro, por vezes ouve-a, por vezes não. Sendo assim, o meu papel está feito e não me preocuparei com problemas que só dizem respeito ao Harry e à sua função como patrão.

[N/A: Obrigada por acompanharem a minha fic, significa muito 💞]

No LIEs Where stories live. Discover now