Hematomas

Estabilidade

A primeira aula surpreendeu Archie. O professor havia feito uma introdução a Ikebana, uma arte oriental de arranjos florais, e o garoto anotou com atenção os fatos interessantes que ouvia. Somente no intervalo conseguiu reparar melhor no ambiente ao redor.

A sala de aula era bem aberta e arejada e para qualquer canto que olhasse havia uma planta, o que deixou-o muito feliz, porque gostava sempre de ter alguma flor ou folhagem por perto.

A turma tinha mais mulheres do que homens e a maior parte estava na faixa dos 30 ou 40 anos. Encaravam aquele curso como um hobby ou como uma profissão? Archie mordeu o lápis e reparou no rosto dos colegas, tentando decifrá-los.

Archie mesmo não sabia o que faria quando o curso terminasse. Alan havia lhe dado a ideia de abrir uma floricultura, o que parecia um sonho longínquo antes tornou-se mais real ali.

Como sentou-se ao lado da janela conseguiu olhar a rua inteira lá embaixo. Marc havia deixado-o ali fazia 30 minutos e se despediram com um beijo intenso que deixou Archie desnorteado (mais do que já estava nos últimos dias). Percorreu todos os carros com os olhos e quase passou pelo de Marc sem notá-lo.

Ele estava ali ainda? A aula ia demorar para acabar, o que será que estava fazendo? Pegou o celular, pronto para mandar uma mensagem, agora que o professor havia lhes dado um tempo de intervalo e franziu o cenho ao ver 2 mensagens não lidas, sendo a primeira era de Alan.

Oi, Arch! Você vem ao hospital amanhã?

Respondeu afirmativamente, suspirando com ansiedade ao saber que Marc iria conhecer o irmão mais velho. Estava apreensivo com aquele encontro, mas também otimista, visto que acreditava que as coisas mudariam para melhor dali para frente, porque haviam conversado e chegado a um acordo.

Abriu a outra mensagem e sentiu-se culpado ao ver que era de Finn.

Oi, como estão as coisas? Se precisar de alguma coisa me chame.

Marc não queria que falasse com Finn, mas depois daquele beijo nem o próprio Archie sabia se queria encontrá-lo. Estava envergonhado pelo que haviam feito e do jeito como havia se comportado. Esperava que o loiro não tivesse criado falsas esperanças na cabeça.

Ignorou a última mensagem, sem saber o que responder, e ligou para Marc.

━Archie? Sorriu ao ouvir a voz dele.

━Estou vendo seu carro da janela, você não foi embora?

━Não, não tenho nada para fazer em casa.

Archie revirou os olhos com um sorriso. Achava que Marc às vezes ignorava suas responsabilidades para ficar consigo.

━Ainda vou demorar um pouquinho. 

━Eu espero.

A voz dele estava um pouco rouca e alguns arrepios percorreram seu corpo ao ouvi-la tão perto, quase num sussurro. Despediu-se timidamente e não teve muito tempo para pensar no quanto amava-o, porque um homem desconhecido sentou-se ao seu lado.

Ele aparentava estar na casa dos 30 anos de idade, vestia uma roupa elegante, um suéter marrom e uma calça caqui com sapatos formais. 

━Oi, Archie gaguejou, um pouco alarmado com aquela aproximação repentina.

━Prazer, Leonard. Ele esticou a mão, com um sorriso alegre no rosto.

O garoto cumprimentou-o rapidamente, então percebeu que não havia coberto os hematomas no pescoço e corou de vergonha. Tentou não parecer desesperado enquanto olhava-o.