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- Manuela! Você precisa me escutar; me desculpar. Por favor! Eu-eu preciso da sua ajuda. - Não é possível que meu dia vai começar e terminar com o mesmo tema. Não aguento mais!

- Pra quê toda essa cena, Lucas? Fala sério, você está bêbado! - O cara está bêbado e fazendo um escândalo na porta do meu apartamento e gostaria de saber quem deixa ele entrar todas às vezes. São onze e meia da noite e estou tão, mais tão cansada. A última coisa que eu precisava era assistir um Lucas bêbado e chorão na minha porta.

Deprimente! 

- Você vai entrar por essa porta, mas não pense por nenhum segundo que estou te desculpando, Lucas. Só não quero ser multada por perturbar o sossego dos meus vizinhos. - Abri a porta e passei por cima dele que estava sentado no chão.

Minha vontade é de o mandar para casa, mas ele está sem condições até mesmo de sair do chão sozinho, quem dirá dirigir. E, por mais que eu o odeio, ainda não desejo a sua morte. Ainda.

- Senta aí. - O joguei no sofá da sala e fui para o meu quarto. Me sentei na cama e fiquei mentalizando um mantra sobre manter a calma e não matar o homem que está na minha sala. Deveria deixá-lo jogado na sala, tenho certeza que ainda está mesma posição que o deixei, mas uma parte de mim se viu obrigada a voltar para a sala.

- Você deveria tomar um banho. Gelado! Vou preparar um café forte, pra ver se isso passa. - Ele não disse nada, apenas ficou me encarando. - Tem uma toalha no armário do banheiro.

Olhar na cara dele estava me causando um certo embrulho no estômago. Por isso fui até a cozinha e o deixei se virar sozinho.

Ele voltou trinta minutos depois, com os cabelos molhados e sem a camisa. Uma visão tentadora, mas ainda o odeio.

- Bebe isso. - Apontei pra caneca no balcão.

- Manu, eu...

- Em silêncio, Lucas. Não vou conversar com você agora. - Ele apenas assentiu e bebeu o café fazendo careta. - Sorte sua não ter colocado bebendo aí. Agora vou tomar um banho.

Não me dei ao luxo de um banho longo - por mais que eu mereça -, não com ele solto pela minha casa. Vesti uma camisa grande de pijama e fiz um coque alto nos cabelos. Separei um jogo de roupa de cama e levei até a sala onde o Lucas - ainda sem camisa - estava encostado, olhando para o teto.

- Isso é para você. - Coloquei no seu colo. - Esse sofá deve servir para você.

- Manu, vamos conversar, por favor. - Sua voz já não está tão arrastada.

- Não tenho mesmo nada para conversar com você Lucas. E estou muito cansada, tenho que trabalhar amanhã cedo. - Estou me segurando nos meus últimos fios de sanidade.

- Por favor.

- Por favor? Lucas, meu Deus! Sou eu quem te pede, por favor! Eu não quero discutir com você, tão pouco sobre um assunto que já está encerrado. O nosso namoro é, ou melhor, era de mentira. Não precisamos discutir de verdade um relacionamento que nunca existiu.

- Eu não queria te magoar, morena.

- Eu não estou magoada. - Dei de ombros. Não estou, não é? Isso é raiva, ódio, não mágoa.

- Eu fiquei péssimo quando percebi que estava com raiva de mim. Eu nunca me senti tão mal e tão culpado por algo como hoje. Parece loucura, mas eu nunca me senti assim por ninguém, Manu. - Arqueei as sobrancelha, me sentindo mais embreagada do que o Lucas, ou de fato ele não está falando nada com nada. - Eu estou gostando de você Manu, gostando de verdade.

Eu o encarei abismada, como se ele tivesse adquirido mais uma cabeça ou coisa do tipo.

- Por favor, Lucas. Não precisa gastar seu talento e encenação comigo, eu não caiu nessa.

- Sei que você não acredita em mim agora, e tem seus motivos para isso. Mas é verdade, Manuela. Não sei o como e nem quando, mas...

- Mas nada Lucas! Você não está gostando de mim, nunca gostou. Assim como eu nunca gostei de você. Isso foi um trato, um que valia para os dois. Só!

- Acredita em mim, por favor.

- Como vou conseguir acreditar em você Lucas? Como? Não tem como você está gostando de mim e ficar saindo com aquela outra garota. Não quando você tem um relacionamento, ainda que de mentira comigo. Então, com que base vou acreditar em você, Lucas? Você ferrou com tudo. - Soquei seu peito com raiva, mas ele segurou minhas mãos.

- Eu sei! Eu sei, me desculpa. Mas eu juro que não combinei de me encontrar com a Isabela. Não hoje. Aí caramba! Como vou provar isso, mas a Isa e eu nos encontramos por acaso. - Isa? Mané, Isa. - Olha, naquela hora que vocês nos encontrou eu estava terminando com ela. Não quero outra a não ser você, morena.

- Você não consegue enxergar toda a controvérsia das suas falas, Lucas? - Olhei para minhas mãos ainda presas ao seu peito nú. - Eu não preciso disso Lucas. Nem dessa mentira, nem das suas encenações ou desculpas. Você está fazendo tudo isso apenas para que eu possa te ajudar de novo.

- Não! Que droga, Manu! O que preciso fazer para você acreditar em mim? Nos meus sentimentos? Deixar você contar para todo mundo, é isso? Pode contar Manu, para minha mãe, ao pessoal da faculdade. Sério! Te deixaria anunciar em todos os jornais e redes sociais possíveis se isso fizer você acreditar em mim. - Ele me puxou para ainda mais perto de si, sua boca perto do meu ouvido. - Estou falando a verdade sobre gostar e querer ficar com você, morena. - Sua última cartada foi um beijo casto no pé do meu ouvido.

Um belo golpe admito. Mas preciso acabar com isso.

- Caramba, Lucas! - Me soltei dele com um certo custo e comecei a bater palmas. - Você está desperdiçando todo o seu talento na faculdade errada. Você deveria ser ator. - Dei de ombros. - Agora eu preciso dormir. O dia de hoje foi o mais infernal das últimas semanas e eu estou exausta.

Ele respirou fundo se dando por vencido.

- Tudo bem. Acho melhor eu ir para casa então.

- Não sei se toda essa discussão foi suficiente para que você possa dirigir até o outro lado da cidade. Então se quiser ficar e esperar melhorar, fique a vontade. - Dou de ombros. - Só apague tudo quando sair. Boa noite, Lucas.

Deixei ele na sala e corri para o meu quarto, onde me tranquei. Escorada na porta do meu quarto, sinto um aperto no peito me arrebatando. Não, não Manuela! Nada de chorar por isso. Talvez seja só o cansaço. Tudo bem chorar de cansaço.

E com o choro preso na garganta, me joguei na minha cama e dormi.

Pecado Predileto - Livro I [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora