Capítulo 11 - O começo de uma amizade

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A tempestade que se anunciava estava chegando com toda a força, o céu escureceu de uma hora para outra e tudo foi ficando preto de repente, mas enquanto nós podíamos trabalhar em dias de chuva a gente trabalhava, não se podia perder tempo, porém aquela nuvem grossa que estava no céu, estava se espalhando rápido e se fosse cair como era o previsto não ia conseguir colocar o serviço em dia, porque o patrão não ia querer escravo doente para atrasar mais ainda o serviço. E como a tempestade que se via estava mais do que perto , fomos parando devagar , a lavoura , , a cana , , e colocando o gado para um lugar seguro ., Eu , vinha do plantio e ia ver como estava as coisas , na casa grande , vê se tinha algum serviço para fazer, pois com a chuva vindo , não me restava nada a fazer , mas sempre tinha alguma coisa , e a negra Anésia , arrumava serviço para eu fazer , mas nesse dia eu fui chamado para uma outra emergência , ,era a sinhá Rosa . : ela havia saído a cavalo mais cedo e a sinhá Acácia estava preocupada, por causa da chuva , a sinhá , Acácia era quem estava dirigindo a fazenda juntamente com seu Germano, pois o Barão tinha ido lá pela banda de Minas Gerais , e num ia voltar tão cedo , porque a vigem ia ser longa, e a sinhazinha era teimosa , saiu a cavalo e a chuva podia pegar ela no caminho, aí eu fui chamado para dar conta do paradeiro dela , antes que a tempestade se formasse e a chuva inundasse a terra. Eu saí com um cavalo xucro a mando de seu Germano , eu tinha que achar a sinhá ,e eu estava nervoso por conta da responsabilidade de achar ela e avisar da chuva , fui cavalgando do meu jeito, fui indo , andando e chamando ela , , ela tinha se afastado um pouco mais da casa da fazenda , mas eu conhecia aquelas bandas como ninguém , pelos anos que ali já me encontrava , e não contei conversa , .. com o cavalo eu me pus a verificar todo o campo , até que a chuva começou a cair , aos pingos , e era chuva grossa , mas vinha de pouquinho em pouquinho , e nada da sinhazinha ; em determinado momento eu já tinha perdido a minha paciência , --- onde diacho , se meteu essa dona? , eu tinha , andado e nada via , e eu estava ficando molhado demais , e tinha que ver se achava ela , com essa chuva que vinha , ela ia ficar era toda molhada , e eu num queria confusão , meu negócio era viver em paz e perdurar o máximo meu tempo de vida , eu tinha os meus sonhos , eu queria ser escravo de ganho , todo mundo sabia , todo mundo era eu, Anésia , pai tonho e alguns escravos , como o Severo que eu proseava . e essa agora, se eu não achasse a sinhá podia sobrar para mim e como falei eu era o negro medroso que queria viver, . Fui andando com o cavalo e me afastei bem mais do que eu sabia que ela poderia estar com o seu cavalo , e fui indo , indo, até que eu avistei ela e o cavalo, na maior calma do mundo cavalgando , e estava se molhando , eu, gritei --- sinhá , sinhá , e ela nada de ouvir , e eu gritando -- sinhá Rosa , aqui , eu acenei com os braços , e nada , eu fui andado , até chegar para mais perto e mais perto e só mais perto foi que ela me ouviu e se virou com toda a calma dela , e o cavalo , parecia que estava seguindo a calmaria de tão manso que estava com a chuva ali caindo . eu fui até ela e ela foi até a mim -- Inácio? que fazes aqui? eu , estava já engolindo a água da chuva quando falei --- a sinhá , Acácia que me mandou para ver a sinhazinha ... ela , era risonha , e riu quando me falou --- então, como ver , já viu , , , estou bem , minha mãe é que se preocupa a toa , eu só queria andar um pouco , aquilo lá ( e apontou para a casa da fazenda ) estava muito enfadonho . ---- mas a sinhazinha está se molhando toda , pode ficar doente ,é melhor irmos , vai cair uma chuva pior e aí , vai ser ruim de voltar , --- eu sei , já estava só retornando aos poucos , esse cavalo é bom de cavalgar , mas sei que tenho que voltar , e você foi incumbido de me levar de volta , então o que está esperando ? vamos? , --- é , então vamos , a sinhazinha está toda molhada ..., melhor se abrigar ali naquela árvore, embaixo , ela tem muitas folhas , é pesada , e a chuva não vai muito , ela fez uma cara de desdém para onde eu apontei --- ali? ali , Inácio ,.. --- é ali , eu falei já meio emburrado , por que eu entendia das coisas , --- só tem essa ali , sinhazinha , ela então , desceu do cavalo com a minha ajuda e caminhou até debaixo da árvore que eu apontei, e eu a segui , com os dois cavalos , o dela e o meu . , a chuva vinha cada vez mais intensa , era um abrigo muito do fajuto mas era o que tinha , e fomos para lá , e aí eu fiquei ao seu lado quieto , , os pingos da chuva que eu havia tomado escorrendo pelo rosto e o dela pelo pescoço, eu olhava, de lado , pelo canto do olho , enquanto ela alisava o vestido , molhado pela água , e o pescoço era de uma brancura sem igual , aí eu subi e olhei o seu nariz , afilado , e branco , e tinha umas veiazinhas azuis de uma ponta a outra , mas só em uma parte do nariz ,e era bonito o nariz dela , e as sobrancelhas era bem preta ,e juntas uma na outra , mas era bom de se ver e os olhos era de um escuro muito forte , e a brancura da pele , alva que nem leite , ela era muito bonita , e a água que pingava de seus cabelos negros , pareciam gotas de orvalho , e eu me peguei observando aquele rosto , e desviava o olho dela e olhava a chuva , ela estava calada olhando para o nada , e eu me detive na sua boca , era de um rosa que parecia com as flores do jardim e era bem desenhada , e eu não pude deixar de pensar que Deus foi muito bom com ela , ela era uma bela sinhazinha , mas fiquei envergonhado quando ela me fitou e em silêncio fez o mesmo que eu tinha feito há poucos instantes só que ela foi direta , e eu abaixei um pouco a cabeça , mas não de todo , e eu nem sei o porque , mas eu queria que ela me olhasse , e ela me olhou , e por fim perguntou --- você é um escravo que tem talento ,o jardim da casa está muito bonito , ---faço com gosto , eu falei , ---- é , é raro , pois em pouco tempo já se ver as flores crescendo lindas e formosas , você já trabalhava com o jardim em outra fazenda? --- já sim senhora , ela me mirou , todo , o que me fez ficar mais envergonhado ,( ela tinha um olhar que entrava fundo nos olhos ) e continuou perguntando e eu respondia a tudo que ela perguntava , e ela com aqueles olhos grandes em cima de mim ---- Inácio , você deixou família na outra fazenda ? --- eu só deixei uma velha tia , que pelo anos que eu me vim para cá , acho que já foi para outro mundo ,--- porque ? ela perguntou -- porque ela tava doente , só vivia desse jeito a sinhazinha sabe que com fraqueza e velha , não dura muito -- é verdade , vocês escravos são uns injustiçados , eu me revolto com a maneira com que são tratados , mas nada posso fazer :, Aí eu me assustei , e me admirei ao mesmo tempo --- a senhora é contra a escravidão? ela me olhou e eu estremeci , achando que tinha feito uma pergunta impertinente , mas logo me aliviei quando vi ela respondendo com aquele sorriso que eu já estava achando bom , toda vez que ela ria, --- claro , acho desumana a forma como são vistos , perante Deus todos somos iguais , mas nem todos pensam como eu , e eu me calo , por que sou mulher e por que nada posso fazer , mas procuro dar um tratamento digno a todos .mas diga-me você só deixou essa tia? e mulher , filho , irmão? --- não senhora , eu só sei dessa tia , eu tinha uma irmã , mas ela se foi quando menina ainda , levaram ela para o mercado e ela foi vendida , e é só o que sei de minha família , minha tia conta que meus pais morreram , quando tentaram fugir comigo , ainda de colo , logo que minha irmã fora vendida e eu só neste mundo e minha tia que como falei nem sei se tá viva ., ela me olhou com pena e foi o que disse --- é penoso , mas você está vivo , forte , e o barão meu pai é um bom homem, a minha mãe também , eu e o Cipriano , somos abolicionistas , mas nossas vontades e ideias , não podemos ainda nos expressar por conta de papai , sobretudo porque nenhum de nós , tem independência financeira , dependemos dos rendimentos dele , e não seria bom travarmos uma luta que a meu ver seria perdida , pois temos o sonho de alforriarmos os escravos que vivem conosco ,até já discutimos isso , mas o barão se recusa a ouvir Cipriano e a mim , nem escuta , eu sou mulher , e eu não tenho que me intrometer em assuntos de homens , mas lá na corte , nós mulheres , quando nos reunimos , opinamos e falamos umas as outras , e até tem alguns homens que nos apoiam ...eu ouvia tudo abismado , ---- mas , sinhá , só os que são a favor da libertação dos escravos que ouvem vosmecês né ?--- é , de fato , é sim , mas já nos ajuda , pois as mulheres tem suas próprias convicções , e não somos feitas apenas para procriar , e cuidar da casa , e eu, particularmente , não me interesso tanto por essas tolices , eu ouvia tudo boquiaberto e admirado com a opinião dela --- a sinhazinha é muito valente , e corajosa , é muito bom saber que tem gente que pensa assim , por que dizem até que a gente nem alma tem , que somos coisa ruim , então , ela tocou a minha mão , sem eu esperar e eu me assustei com seu gesto aí ela continuou e segurou firme e falou olhando e admirando ,a palma da mão, acariciando os dedos e alisando os calos que se formaram entre eles e disse --- uma mão com esse talento para fazer brotar o amor de Deus , com as plantas e flores , que fazem do jardim de nossa casa , não pode ser coisa ruim, só pode ser coisa boa , coisa de Deus , e acredito que os demais negros também todos tem qualidades que , talvez não se encontre em homem branco , e ela me olhou com mansidão e eu achei bom e me senti nas nuvens , com aquele gesto e nem fiz questão que ela me tirasse as mãos de cima das minhas , eu podia sentir a maciez das sua pele . ., mas aí a chuva deu uma trégua e eu tratei de dizer ---é melhor irmos sinhá , aproveitar essa trégua , senão vai ser pior ,e olhei o céu carregado , ela soltou a minha mão e falou ---é mesmo, vamos , e se bem conheço a senhora minha mãe , deve estar em prantos ,. --- vamos , eu falei a ela e tratamos de subir nos cavalos , ela ia na frente e eu logo em seguida atrás para protegê-la. Graças a Deus , a chuva se transformou em tempestades com raios e trovões , quando estávamos chegando a salvos ! ;, Corremos , então e , eu , depois de deixar a sinhazinha , parti para a senzala , que era o meu lugar , eu ia me trocar também , mas eu ia pensando nas palavras da sinhazinha Rosa , e eu , me senti , vivo, , útil , e feliz .ela tinha umas idéias muito boas e eu fiquei encantado , se pudesse ter a minha alforria , era a felicidade total, mas como não tinha , eu me contentei com as suas palavras , e o seu carinho .Moça educada aquela! , de fino trato, eu pensava e foi com ela no pensamento que adormeci.

O Dedo de Deus (Obra não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora