Capítulo 22- Inácio e a vida no quilombo

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O Quilombo onde passamos a nos esconder e que agora seria a minha morada e de meus inúmeros companheiros de fuga , tinha mais gente amocambada do que eu achava , tinha muitos índios morando ali e podia-se ver escravos de tudo quanto era jeito , eu fiquei de boca aberta com a quantidade de pessoas que fugiram para formar a sua vida , longe de exploração e escravidão O líder se chamava Joaquim e logo que subimos o grande morro , vi que podia ficar em segurança , era , na verdade uma grande montanha por entre as matas e muitos escravos faziam a própria segurança , : havia , índias , mulheres escravas velhas e negras , muitas crianças , de grande a pequena , uma verdadeira cidade , , lá eles plantavam , cultivando a terra , muitos deles , saiam , e voltavam com mantimentos , tinha também alguns alforriados , que decidiram por conta morar em meio aos fugidos, para poder praticar os costumes de sua nação . Eu , todo arranhado e ferido , juntamente com os outros , passei a procurar meu mundo , onde lá ia viver , com a minha dor e as minhas poucas , mas muito boas lembranças . O quilombo de Joaquim tinha suas próprias leis a serem cumpridas , e quem num respeitasse poderia ser castigado severamente ou expulso de lá , e nunca que podia mais voltar, por que tinha que respeitar as leis , eu, quando cheguei , soube disso tudo , e procurei agir de acordo com o que me disseram , para ficar ,bem . E os meses foram tornando-se anos , de boa e pacífica convivência , eu já conseguia botar a cabeça e deitar , e ir até o amanhecer , sem ficar matutando como eu poderia ver a sinhazinha e saber do que foi feito da fazenda , pois tudo fora destruído pelo fogo e eu num sei se do jeito que foi se dava para salvar alguma coisa . pobre da sinhazinha ! , perdeu os dois: , pai e mãe , só o irmão Cipriano , restou e eu num sei o que foi que aconteceu , nem se pai Tonho se salvou , por que ele morava lá e num sei se o fogo chegou até ele ., mas como a sua cabana ficava perto do rio , eu achava que ele num tinha sido atingido ,não , mas eu tinha que seguir , e num importava o quanto de tristeza eu tava carregando no meu coração , eu ia viver de recordações de uma vida que eu tinha que deixar para trás , de um amor que eu num podia esquecer , mas num podia mais ter . Com o tempo andando e voando que nem o vento , eu passei a fazer um novo jardim ali mesmo no quilombo e passava horas tentando enfeitar o lugar , a minha morada! , e de vez em quando , eu pegava o fumo que me dava .. e fumava , meu medo ficou junto com a tragédia da fazenda santa Rosa , e eu até que conseguia me deitar com algumas negras que me procuravam , mas era só! , eu num podia dar a elas o meu coração , porque ele já tinha dona e eu num conseguia colocar outra em seu lugar . e o deitar com elas já num era a mesma coisa , eu num suspirava como suspirava com a sinhazinha , eu num arfava e num tinha o coração palpitando como acontecia com sinhazinha , mas eu me aliviava e quando deitava , com elas eu pensava nos beiços de sinhazinha , na sua fartura de coxas brancas e grossas e a intimidade dela toda assanhada para mim, eu pensava no sorriso dela , como ela era bonita me olhando e pedindo para eu fazer mais intimidades com ela e no seu alivio de mulher... dizendo e arfando quase sem voz , que me queria bem , e era nessas horas que eu ganhava as negras do quilombo , porque elas pensavam que eu tava amando elas , mas eu tava era amando a minha sinhazinha . Eu num era mais aquele negro feliz , mas eu desfrutava da liberdade e do lugar que eu vivia , e as negras que num tinha homem , eu deitava com elas , e deitava até com as índias , mas eu num queria saber de me ajuntar com mais ninguém e deixava mais claro que o céu , quando elas vinha me procurar , oferecendo o fogo para eu apagar , e eu apagava , mas só voltava a acender de novo se elas viesse ter comigo e era só. Comecei a ensinar o pouco que tinha aprendido com a sinhazinha , e quase todos passaram a me respeitar , porque eu tava ensinando o povo a ler , e o povo tava aprendendo , as crianças , era as mais sabidas e eu me divertia com elas , elas tudo queria saber e eu dizia -- eu num sei tudo , num aprendi tudo , mas para elas eu era um sabidor das coisas e eu alegrava meu coração por que eu tava fazendo um bem a elas e elas a mim. Eu pensava em fugir dali , só para ver a minha sinhazinha , até me animava e armava uma saída , mas eu num sabia como tava ela , pelo ano de tempo que eu tava no quilombo e era muito acho que contando dava uns quatro , ela já tava casada ou na corte e eu fraquejava e desistia de me arriscar , era quando eu sentia mais falta dela , mas aquietava meus pensamentos e dizia que ela tava bem e feliz , e passava a voltar meus dias para as negras e as índias que me procuravam com o calor nas intimidades ... . aí eu pensava na minha sinhazinha sorrindo para mim , me querendo , essa era a imagem que eu trazia dela , e em certa , vez eu pedi para uma negra me chamar de negro , enquanto eu deitava com ela , , e a negra chamou , mas eu achei ruim e num pedi mais porque ninguém chamava como a sinhazinha , elas eram diferentes e ali era só o calor da minha intimidade , num tinha o calor do meu coração . Eu vivi, mais dois anos assim , nessa vida até que um dia , tudo virou de novo , e eu me lembrei de pai Tonho falando --- quando Deus põe o dedo .... tudo pode acontecer ...

O Dedo de Deus (Obra não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora