8. Pray

56 10 3
                                    

8. Pray/Reze

Ji Yong realmente não conseguiu se conter e, na primeira oportunidade que teve, foi visitar o hospital psiquiátrico estadual.

Quando estava no portão, ele tocou o interfone.

- Posso ajudar? - Alguém disse.

- Vim para o horário de visitas. - Ji Yong respondeu.

O portão se abriu e Ji Yong respirou fundo antes de entrar. Mas ele foi, mesmo que com medo.

Assim que entrou na sala onde haviam varias pessoas, alguns jogando, outros olhando para o nada, outros cantando, Ji Yong sabia quem estava procurando.

- Disseram que o meu neto veio me visitar. - A senhora loira na cadeira de rodas disse. - Não tenho neto.

- Sou Ji Yong. - Ele disse. - Queria fazer perguntas sobre seu irmão, Shin.

- Oh... Shin. - A mulher mais velha suspirou.

- Meu namorado, Seung Hyun, morava na sua antiga casa. - Ji Yong começou. - Ele morreu. E sei que vai soar estranho, mas acho que sei por quê. Acredito que... haja uma presença naquela casa.

- Não ficaria surpresa se houvesse mais do que uma. - A mulher o interrompeu.

- Encontrei fotos suas com seu irmão. - Ji Yong tremia, mas nunca iria admitir.

- Encontrou fotos? - A mulher sorriu largo. - As fotos da minha família?

- Sim, posso trazê-las ou enviá-las depois.

- Por favor, traga-as. - A mulher implorou. - Não vejo o rosto do meu irmão... há muito tempo. Pelo menos não o seu rosto real.

- Acho que o vi, meus amigos e eu, e ele estava com os lábios costurados.

- A mamãe fez aquilo com ele. - Ela alterou um pouco a voz.

Ji Yong entendeu que a conversa tomaria um rumo novo a partir daquele momento, então ele tomou a iniciativa de empurrar a cadeira de rodas da mulher até o canto de uma sala, para que pudessem conversar a vontade.

- Minha mãe praticava mediunidade. E, dependendo de como se vê, ela era muito boa naquilo. Conduzia sessões, usava jogos, qualquer coisa. Sem muito cuidado. - A mulher parecia abalada. - Shin amava nossa mãe. Queria ajudar. Era fascinado por aquilo. Quando as sessões ficaram mais sérias e minha mãe fez contatos, ela precisou de um receptor. Um receptor para dar voz a eles.

- A quem? - Ji Yong perguntou, perplexo.

- Aos espíritos. - A mulher respondeu. - Ela usou Shin. Então, minha mãe ficou estranha. Perseguindo os mortos e vivendo nas sombras, ela não conseguiu parar e nem romper a conexão. Eles a consumiam. Ficou louca. Por isso, fez aquilo em Shin. Nos lábios dele, para que não falasse mais.

- Então, Shin desapareceu. - Ji Yong falou, em tom de duvida.

- Desapareceu. - A mulher concordou meio que divagando.

- Ele nunca saiu de casa, não é?

- Não. Não saiu. - Concordou novamente. - Mamãe já não era ela mesma. Ela matou Shin. Depois, eu fiz o que era preciso para detê-la.

A mulher não mais segurava o choro e Ji Yong também começara a demonstrar indícios de choro.

- Por isso, eu estou aqui. - Ela sussurrou. - Mas isso não quer dizer que mamãe foi embora. Como o viu?

- O quê?

- Disse que o viu. - A mulher disse novamente. - Disse que viu os lábios dele. Como? Não conseguiria ver a menos que...

- Só quero parar com isso. Meus amigos estão morrendo.

- Não. Você abriu um canal. Fez contato. Com o quê? - A mulher pareceu encarar Ji Yong e ler tudo o que ele não dizia, pelos olhos. - Um Jogo dos Espíritos.

- Isso.

- Jogou no túmulo dele e o despertou novamente.

- Os dois. Sua mãe também. - Ji Yong chorava abertamente.

- E, se conseguiu vê-los...

- Só com a prancheta.

- Não por muito tempo. Estão se fortalecendo. Os pontos de conexão são o corpo e o jogo. Há uma ligação entre eles. A energia está crescendo... E é difícil detê-la. - A mulher murmurava.

O silêncio se mantéu por um tempo e então, a mulher sorriu fraco como se tivesse tido uma ideia. E de fato, teve.

- Mamãe tinha um quarto secreto. Ela o lacrou depois de matar Shin. É no porão. Não vá sozinho. Mamãe vai tentar impedi-lo.

- O que devo fazer?

- Precisa cortar os fios dos lábios dele. E, se funcionar, reze para que Shin lide com a mamãe.

Ouija // GTopWhere stories live. Discover now