13 | Tão perto, mas tão longe...

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— Hey, menino, isso é hora de chegar? — Meu pai pôs suas mãos na cintura assim que o vi na sala.

Se eu não tivesse tão sorridente certamente teria compreendido a gravidade do meu horário, apesar de que isso nunca foi um problema para meus pais... até agora.

— Pode me castigar amanhã? — pedi. — Pode tirar o carro de mim, se quiser, não me importo.

Ele franziu a testa fortemente.

— O que houve com você? — Agora sua voz era um pouco mais suave. — Ficamos preocupados. Pensei que tinha dito que voltaria pela madrugada.

Suspirei e sentei-me no sofá, todo desengonçado. Meus lábios ainda sentiam o toque do beijo que eu dei na bochecha de Vincent antes de vir.

— Pensei também, mas... — Balancei o rosto e depois levei minha mão à testa. — Ai, desculpe, pai. Bebi além da conta.

Ele sentou-se ao meu lado e me lançou uma reprovação facial, mas havia algo por trás dessa sua rigidez que representava um gesto afável.

— E parece que gostou disso — refletiu ele, observando-me.

— Não, não. Gostei... de outra coisa. — Senti minhas bochechas corando. — Gostei porque o dono da festa era o garoto que eu lhe falei. O que eu detestava.

Meu pai ficou quieto um instante.

— Estão namorando?

— N-Não — gaguejei. — Nem rolou nada. Nem beijo nem... aquilo. — Aspas no beijo.

— Precisa ter cuidado, Austin.

Mostrei um sorrisinho fofo a ele.

— Tá — confirmei, feliz. E, analisando-o à minha frente, constatei que ele passou longe de me dar uma bronca ou até mesmo apelar à gritaria, coisa que não fazia. Mas, considerando as circunstâncias, isso podia ser bem provável de acontecer. — Olha, sorte minha ter um paizão.

Meu pai balançou a cabeça, um gesto que sempre fazia quando eu tentava dobrá-lo. Normalmente eu nunca conseguia.

— Sempre foi de seu feitio dizer essas coisas para encobrir algo que aprontou. — Ele quase riu.

— Estou falando sério. — Tirei minha rosa da orelha e brinquei com ela nos dedos. — Nunca em toda minha vida ouvi um "Já tentou gostar de alguma menina?" vindo de você. Digo isso porque vejo muitos pais, rígidos, por sinal, que forçam seus filhos homens, e às vezes até mulheres, a gostar do sexo oposto para que eles se sintam bem. Mas não o senhor. E isso é... raro. Muito raro.

Ele sorriu levemente.

— Tem tantos problemas na minha vida e lá fora — disse com calma —, então por que eu deveria me preocupar com sua orientação sexual?

Dei de ombros.

— Alguns pais se preocupam — falei.

Alguns pais se preocupam, sim. Mas a felicidade do meu filho vem acima de tudo. — Ele juntou suas mãos e curvou-se mais à frente. — Sei lá, quando eu vi que você teve coragem de vir até mim e dizer "Pai, eu sou gay", fiquei chocado, embora seus gostos já denunciassem há muito tempo. Perguntei-me se eu teria coragem de fazer o mesmo se fosse o meu caso. E eu vi que não teria. Certamente me casaria com uma mulher à força e teria filhos com ela para agradar meu pai.

Fiquei em silêncio, mas meus pelos se arrepiaram por completo. Caramba, que orgulho!

— Mas isso não é ser feliz — continuou. — Isso é lutar contra aquilo que é. Por isso não me intrometi uma vez sequer em seus namoros. Se você foi audacioso o suficiente para sair do armário, posso ser audacioso o suficiente para ajudá-lo a seguir seus passos.

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora