Epílogo | Eu vi sua estrela brilhar

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10 anos depois

— Amor, depressa, vamos nos atrasar! — gritou Scott lá debaixo bem no momento em que eu tinha acabado de passar meu perfume.

— Estou indo! — falei em mesmo tom bondoso.

Sorri de maneira nervosa, olhei-me no espelho uma última vez e saí do quarto. Scott estava com as mãos no bolso da calça quando o vi, os olhos cinzas brilhando intensamente na minha direção.

— Pensei que eu poderia me atrasar ao menos no meu aniversário — resmunguei com atuação, caindo em seus braços para beijá-lo apaixonadamente. Minha mania de roçar sua barba loira feita em poucos dias retornou, de modo que meu polegar brincasse nos contornos limitados.

Seu hálito gostoso me inebriou também.

— É claro que pode. — Ele segurou minha cintura com suavidade e me observou. — Eu só quero que aproveitemos a noite. Hoje é seu dia. E você está lindo.

Fiquei tímido.

— Obrigado. Tentei me espelhar em você.

— Bem, se foi esse o caro, obteve um resultado melhor.

Ah, Scott... Eu poderia passar a noite inteira ouvindo isso e não me cansaria...

— Okay, então... Para onde está me levando?

— Cinema. Depois vou levá-lo naquele restaurante italiano que você gosta.

A ideia me deixou confortável.

— Gosta de romance, não gosta? — perguntou, o medo combinando com seu olhar estreito.

Dei um riso.

— Aprendi a gostar com dez anos de idade.

— Que bom. O filme entrou em cartaz hoje. Chama-se "Eu Amei um Arco-íris". Espero que goste.

— Nome interessante — observei.

Ele concordou com a cabeça.

— Vamos? — perguntou, o sorrisinho tímido nos lábios.

— Agora.

Momentos depois, partimos para o carro, e então para o cinema.

O cinema era grande e espaçoso. Fazia um tempo que não vinha mais neles. Chegando ao caixa, Scott acertou as contas com a atendente, comprou duas pipocas, doces extras e dois refrigerantes. Eu só o seguia para onde quer que ele fosse, nossas mãos unidas em todo trajeto.

A sala estava completamente lotada. Mesmo assim conseguimos nos sentar no centro e no alto, um dos melhores ângulos possíveis. Nos acomodamos em seguida e esperamos os trailers acabarem para o filme realmente começar.

A história se passava no século XX e, pelo que Scott me contou no caminho, era de um homem rico que é forçado pela família a se casar com uma mulher a contragosto, sendo que internamente ele não gosta do sexo oposto. Parece que os problemas dele começam quando ele acaba sentindo atração por um de seus empregados da casa e seu pai descobre. Não soube do restante da trama para não perder a graça. O começo era magnífico e a história prendia bem.

Até que vinte minutos depois, quando o protagonista apareceu, meu coração quase ameaçou sair da boca. Era ele na tela.

Vincent Lorentz. O mesmo Vincent do meu antigo colégio que eu namorei; o mesmo Vincent de olhos cor de mel, lábios vermelhos, franja caída no olho esquerdo; o mesmo Vincent que me contou que um dia sonhava em alcançar o sucesso nas telas de cinema — e que agora conseguiu. O mesmo Vincent que eu amei.

E que, olhando seu sorriso estonteante direcionado para o garoto com a qual ele dividia o romance, eu ainda amava. Perdi o equilíbrio imediatamente quando o vi e senti meu coração se dilacerando de pouquinho em pouquinho, pois eu reconhecia aquele rosto incrível que um dia eu torci para odiar. Como se já não bastasse, meus olhos, segundos após de associação, inundaram-se pelos cantos até formar aquela camada difusa de lágrimas. Tive que morder os lábios com força para não reprimi-las, mas não dava.

Meu Deus, eu o estou assistindo! E ele ainda causa aquele efeito timidador em mim!

Soltei o ar imperceptivelmente. Eu estava frágil demais para sair correndo da minha cadeira, parar em frente à tela enorme do cinema, apontar meu dedo para Vincent e gritar entre lágrimas de orgulho que um dia eu já amei esse homem, embora ninguém fosse entender a fundo o que isso significava. Mas acho que não importava, no fim. Eu não precisava que outras pessoas me entendessem — só bastava lembrar que eu Vincent e eu uma vez nos relacionamos para que isso bastasse.

Meu choro silencioso me atingiu em um nível dilacerador. E ele está ali, sorrindo, conhecendo seu personagem com quem provavelmente passaria o filme inteiro amando. Está tão lindo, tão sadio, tão... tão normal. Engoli em seco e pisquei os cílios uma vez, as lágrimas descendo pelas minhas bochechas sem que ninguém as visse — nem meu namorado. Caramba, eu não acredito... Minha garganta doía em pedido de ar — que estava sendo preso por mim mesmo —, mas a ignorei. Eu não sabia ao certo se poderia fazer isso pelo resto do filme — e não estava nem aí. Por um momento, só por um breve momento, olhei para baixo, segurando-me para não chorar altivamente.

Fragilizado, passei minha mão no rosto e limpei minhas bochechas disfarçadamente. Passei o filme inteiro em silêncio, não prestando muita atenção na história porque o protagonista me tomava a fala. Ah, a época do colegial... Como foi maravilhoso amá-lo...

Quando as luzes do cinema se acenderam, vi, ainda sem desviar meu campo de visão da tela, que algumas pessoas limpavam as lágrimas que há um pouco mais de uma hora atrás já haviam sido liberadas por mim. Até meu namorado estava chorando também.

Oh, Vincent... Estou tão orgulhoso de você. Tão orgulhoso mesmo!

— Você gostou? — perguntou Scott, observando-me com aquela feição amorosa ao me ver chorar.

Demonstrei meu mais terno dos sorrisos para ele. E lá no meu íntimo pensamento, lá nas profundezas do meu cérebro, eu disse algo que Scott jamais entenderia:

— Eu amei. — Meu sorriso frágil me deixou ainda pior. — Foi o melhor filme da minha vida.

Porque o protagonista uma vez fez parte dela.

E nunca mais.

Voltaria.

A fazer.

🎭

Fim

DEPOIS DO "EU TE AMO"Onde histórias criam vida. Descubra agora