Jéssica

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Boa noite, tenha bons sonhos. Amanhã nos vemos. – Se despediu do namorado e do assunto.

Boa noite, minha diabinha. – Recebeu em resposta. O apelido lhe causava algo em seu interior, fazia-a sentir-se devassa. "E não sou?" se perguntou. De certa forma ela era, seus hormônios ferviam ao fim de cada conversa. Sentia seu corpo febril, decidiu experimentar algo aquela noite.

O quarto de Victória sempre pareceu um pouco maior e atrativo que o seu próprio. Acreditava que isso se devia pelo fato de tantos segredos e coisas proibidas estarem guardadas e protegidas por aquelas paredes. Sentia-se devassa por estar lá dentro e um pouco mais devassa por estar procurando algo que viu apenas uma vez na vida; A caixa. Onde antes havia um par de sandálias, um par de chinelos ou um par de tênis qualquer, agora havia objetos, todos eles de cor roxa, cada qual com uma habilidade diferente, cada qual com uma maneira diferente de satisfazer a carne.

Já fazia um bom tempo que qualquer conversa que tinha com seu namorado causava suores e pensamentos impróprios, pecaminosos... Aquela era uma forma de aliviar o calor, não o que fazia a cidade ferver, mas sim o que fazia seu corpo ferver.

A última vez que viu, aquela caixa estava debaixo da cama da irmã e ela abriu pensando ser algum tipo de calçado, a irmã se vestia bem dos pés a cabeça, era comum ela entrar no quarto de Victória e experimentar suas roupas e calçados de frente para um espelho que ficava na porta central do guarda roupa branco. O que encontrou no lugar disso, era quase indescritível uma vez que vira objetos de tamanhos, larguras e formatos estranhos. Tocou em um pequeno cilindro violeta, de textura emborrachada, virou de um lado e de outro sem nem imaginar qual serventia tinha aquele estranho item. Um fio branco ligava o pequeno cilindro á um pequeno quadrado de plástico com o que parecia ser um botão redondo no centro. Apertou o botão e automaticamente o pequeno cilindro começou a tremer e girar em sua mão. No susto que se seguiu após o objeto vibratório ser ligado, Jéssica deixou a caixa cair de suas mãos, espalhando todos os itens que lá estavam pelo chão do quarto da irmã. Victória entrou no quarto logo após isso e a expulsou lá de dentro aos berros, ela saiu sem entender nada da serventia de qualquer coisa que a caixa guardava ou o porque a irmã ficou tão alterada.

Sua curiosidade aguçada, às vezes, pensava ser algum tipo de maldição ou uma armadilha do inimigo para que ela fosse cada vez mais pecadora. Ela reprimia todo e qualquer desejo de saber, analisava duas vezes antes de sucumbir à curiosidade e assim sempre foi com suas vontades. Evitava tudo aquilo que podia lhe afastar de seu caminho. Todo e qualquer tipo de tentação que se apresentava para laçar-lhe. Por vezes pedia o auxílio do padre, mas não foi o caso naquela vez. Preferiu pesquisar por conta própria na internet, aquilo não podia ser nada demais, assim como podia ser algum objeto com uma função importante desconhecida por ela. Precisava saber.

Ela soube naquela mesma noite e o que tinha o intuito de sanar as dúvidas, matar a curiosidade... Acabou lhe acarretando muitas outras, que a perturbavam, que causavam sensações estranhas, que despertava sua sexualidade em uma crescente constante.

Com isso entrou em uma área perigosa, seu relacionamento avançava e amadurecia para um novo passo. Esse passo, esse único passo, para ela era o maior que podia dar em seu relacionamento e o mais proibido dentre eles. Talvez porque ela não podia dá-lo ou talvez porque ela ansiava dá-lo, esse passo metafórico se tornou o mais apetitoso, lhe causava ansiedade.

Acordou de seu devaneio e ainda se via naquele quarto escuro, onde podia distinguir apenas as curvas dos móveis e objetos dispostos e espalhados pelo cômodo. Foi direto onde imaginava estar o que ela estava procurando, mas encontrou uma outra caixa, de aparência diferente e, dessa vez, com um par de sandálias baixas com tiras vermelhas. Teria gostado, não fosse a frustração por não encontrar o que queria. Seguiu a busca, já imaginando que a irmã tivesse escolhido um lugar mais difícil de ser encontrado, mas acabou achando o que queria dentro do guarda-roupa branco, na parte central que continha o espelho na porta. A mesma caixa de meses atrás, um pouco mais gasta e com marcas de dobras na tampa de papelão.

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