Capítulo 03

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Estavam quase todos no grande salão agora, o rei, a rainha, cientistas, seu pai e até os empregados

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Estavam quase todos no grande salão agora, o rei, a rainha, cientistas, seu pai e até os empregados. Os olhares vidrados para Amana. Dependiam dela e ao mesmo tempo a odiavam.

– O que foi que Anhangá deu para Amana? – sussurrou a indígena como que para si mesma.

– Te dei exatamente o que me pediu. – uma voz se apresentou na sala, uma voz sem rosto, nem corpo.

O presentes olharam em volta procurando de onde surgira a voz, mas sem sucesso.

– Ora, ora, querida Amana, não era exatamente isso que você queria?

Aos poucos o ar no meio da sala se tornou embaçado, formando uma silhueta quadrupede até a imagem poder ser vista com clareza.

Mais branco do que qualquer coisa que qualquer um ali já havia visto era Anhangá sob a forma de um veado alto.

Seus olhos pareciam ser a entrada para o inferno, grandes globos de fogo.

– Anhangá! – o pai de Amana exclamou tremendo dos pés a cabeça, fazendo uma prece antiga em sua língua natal.

– Arranquem essas expressões ridículas dos rostos. – o espírito branco caçoou, subindo no alto da gaiola de Dom Pedro. – Não é exatamente essa cara que vocês fazem quando capturam um animal indefesso, não é mesmo?

– Q... Quem é... Quem és– gaguejou Dom João.

– Calado! A sua é a última voz que eu quero ouvir! – Bradou Anhangá.

– Por favor, precisamos da ajuda de Anhangá. – clamou Amana.

– Mas eu já a ajudei Amana, já ajudei até demais. Não foi fácil converter a Dona Morte de me contar alguns dos seus segredinhos e eu não gosto de fazer acordos com qualquer ser humano, mas odeio esses branquelos tanto quanto você, menina.

– Não foi isso que Amana pediu.

– Sim, foi sim. Você me disse que queria a sua liberdade e a de seu pai, mas também que queria dar uma lição a esse povo que pensa que é dono de tudo! – fez questão de dizer isso encarando os nobres presentes.

O rosto do pai expôs todo terror de seu coração ao saber que sua filha havia feito um acordo com aquele espírito, mas sem notar a indígena prosseguiu:

– Mas Amana não está livre.

– Ora, ora, quer maior liberdade que a Morte, querida? Olhe para mim, por exemplo, conheço segredos que você jamais sonhará e não tenho nem um pedaço de carne qualquer. Posso ser qualquer coisa que eu quiser...

De repente a imagem do veado branco se tornou turvo e quando voltou a ser visível havia se convertido em uma silhueta humana.

Anhangá agora tinha os traços indígenas como os de Amana, mas sua pele continuava alva e os olhos de fogo ardendo.

– Precisamos do príncipe de volta. – Carlota se pronunciou antes que tudo ficasse pior. – Ele partiria depois de amanhã para seu casamento com a arquiduquesa da Áustria.

– Disse certo: partiria. – Anhangá piscou o olho para a rainha.

– Tenha misericórdia, senhor...

– Vocês falam da Morte como se eu tivesse poder sobre ela... Olhe aqui, ninguém tem poder sobre ela, eu só a conheço melhor que vocês...

– Anhangá fala da morte como se fosse uma pessoa. – Amana comentou.

– Você tem muito o que aprender, pequenina. – riu sarcástico. – Veja, essa poção só anima o corpo da pessoa, como um fantoche guiado apenas por seus instintos. Agora, se você infecta uma pessoa que já estava viva, como foi o caso desse moleque na gaiola as coisas são um pouco diferentes...

– Como assim?

– Bem, ele não está morto e nem vivo, assim como as pessoas lá fora...

– O que? Mas isso é impossível!

– É. É tão impossível quanto um veado branco ser um espírito transmorfo.

– E o que podemos fazer para reverter isso, quero dizer, como trazer o príncipe de volta?

– Vocês tem duas opções: vocês podem simplesmente explodir os miolos dele... – Anhangá soltou uma gargalhada ao pensar na possibilidade.

– Ou?

Anhangá revirou os olhos desapontado.

– Ou alguém tem que trocar de lugar com ele... Assim, tem como ele voltar a ser normal, na medida do possível, e a outra pessoa se torna um vivo morto assim como ele está agora.

– Como podemos fazer essa troca?

– Ah, é meio complicado e demora demais, muito tedioso, melhor matá-lo logo...

– Quanto tempo demora? – Carlota perguntou quase perdendo a paciência.

– Ah... Hum... Acho que uns 35 dias...

– 35??? Mas ele tem um casamento para ir, o próprio casamento!!!

– Aí a culpa já não é mais minha. – debochou o espírito – Ah, só mais uma coisa: Logo no momento em que essa troca começar ela não pode ser interrompida, nem se só tiver passado um segundo se quer, se não os dois morrerão. – e Anhangá se desfez em fumaça para nunca mais ser visto por aqueles olhos.

– Sem problemas, Carlota. – disse Dom João pondo a mão no ombro da esposa – Ele pode ter um casamento por procuração, mandamos alguém no lugar dele. Pelo menos teremos Pedro de volta.

– Tudo bem, claro... Mas quem vamos colocar para trocar de lugar com ele?

– Essa miserável! – Urrou o rei apontando para Amana. – A culpa é toda dela e deste cientista imprestável!

– A culpa não é minha! Eu fui tão enganado quanto vocês! – Edgar tentou se redimir.

– Poupe-nos de suas palavras dolosas! Esta índia vai trocar de lugar com Pedro e você ainda sofrerá muito para lembrar como devem ser tratados os mentirosos... – Carlota rangeu os dentes, o dedo ossudo no rosto de Edgar.

– E todas as pessoas inocentes lá fora? – Alguém ao fundo, que Amana não conseguiu identificar de quem era a voz, perguntou.

– Matem todos! – A rainha ordenou, fitando os guardas.

– Matem todos! – A rainha ordenou, fitando os guardas

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AnhangáWhere stories live. Discover now