Depois que Cabral chegou ao Novo Mundo as tribos indígenas nunca mais foram as mesmas.
Conhecendo a liberdade apenas pelas histórias que contam para ela, Amana decide usar sua habilidade de falar com os espíritos para se livrar dos europeus.
Mesmo...
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Estavam quase todos no grande salão agora, o rei, a rainha, cientistas, seu pai e até os empregados. Os olhares vidrados para Amana. Dependiam dela e ao mesmo tempo a odiavam.
– O que foi que Anhangá deu para Amana? – sussurrou a indígena como que para si mesma.
– Te dei exatamente o que me pediu. – uma voz se apresentou na sala, uma voz sem rosto, nem corpo.
O presentes olharam em volta procurando de onde surgira a voz, mas sem sucesso.
– Ora, ora, querida Amana, não era exatamente isso que você queria?
Aos poucos o ar no meio da sala se tornou embaçado, formando uma silhueta quadrupede até a imagem poder ser vista com clareza.
Mais branco do que qualquer coisa que qualquer um ali já havia visto era Anhangá sob a forma de um veado alto.
Seus olhos pareciam ser a entrada para o inferno, grandes globos de fogo.
– Anhangá! – o pai de Amana exclamou tremendo dos pés a cabeça, fazendo uma prece antiga em sua língua natal.
– Arranquem essas expressões ridículas dos rostos. – o espírito branco caçoou, subindo no alto da gaiola de Dom Pedro. – Não é exatamente essa cara que vocês fazem quando capturam um animal indefesso, não é mesmo?
– Q... Quem é... Quem és– gaguejou Dom João.
– Calado! A sua é a última voz que eu quero ouvir! – Bradou Anhangá.
– Por favor, precisamos da ajuda de Anhangá. – clamou Amana.
– Mas eu já a ajudei Amana, já ajudei até demais. Não foi fácil converter a Dona Morte de me contar alguns dos seus segredinhos e eu não gosto de fazer acordos com qualquer ser humano, mas odeio esses branquelos tanto quanto você, menina.
– Não foi isso que Amana pediu.
– Sim, foi sim. Você me disse que queria a sua liberdade e a de seu pai, mas também que queria dar uma lição a esse povo que pensa que é dono de tudo! – fez questão de dizer isso encarando os nobres presentes.
O rosto do pai expôs todo terror de seu coração ao saber que sua filha havia feito um acordo com aquele espírito, mas sem notar a indígena prosseguiu:
– Mas Amana não está livre.
– Ora, ora, quer maior liberdade que a Morte, querida? Olhe para mim, por exemplo, conheço segredos que você jamais sonhará e não tenho nem um pedaço de carne qualquer. Posso ser qualquer coisa que eu quiser...
De repente a imagem do veado branco se tornou turvo e quando voltou a ser visível havia se convertido em uma silhueta humana.
Anhangá agora tinha os traços indígenas como os de Amana, mas sua pele continuava alva e os olhos de fogo ardendo.
– Precisamos do príncipe de volta. – Carlota se pronunciou antes que tudo ficasse pior. – Ele partiria depois de amanhã para seu casamento com a arquiduquesa da Áustria.
– Disse certo: partiria. – Anhangá piscou o olho para a rainha.
– Tenha misericórdia, senhor...
– Vocês falam da Morte como se eu tivesse poder sobre ela... Olhe aqui, ninguém tem poder sobre ela, eu só a conheço melhor que vocês...
– Anhangá fala da morte como se fosse uma pessoa. – Amana comentou.
– Você tem muito o que aprender, pequenina. – riu sarcástico. – Veja, essa poção só anima o corpo da pessoa, como um fantoche guiado apenas por seus instintos. Agora, se você infecta uma pessoa que já estava viva, como foi o caso desse moleque na gaiola as coisas são um pouco diferentes...
– Como assim?
– Bem, ele não está morto e nem vivo, assim como as pessoas lá fora...
– O que? Mas isso é impossível!
– É. É tão impossível quanto um veado branco ser um espírito transmorfo.
– E o que podemos fazer para reverter isso, quero dizer, como trazer o príncipe de volta?
– Vocês tem duas opções: vocês podem simplesmente explodir os miolos dele... – Anhangá soltou uma gargalhada ao pensar na possibilidade.
– Ou?
Anhangá revirou os olhos desapontado.
– Ou alguém tem que trocar de lugar com ele... Assim, tem como ele voltar a ser normal, na medida do possível, e a outra pessoa se torna um vivo morto assim como ele está agora.
– Como podemos fazer essa troca?
– Ah, é meio complicado e demora demais, muito tedioso, melhor matá-lo logo...
– Quanto tempo demora? – Carlota perguntou quase perdendo a paciência.
– Ah... Hum... Acho que uns 35 dias...
– 35??? Mas ele tem um casamento para ir, o próprio casamento!!!
– Aí a culpa já não é mais minha. – debochou o espírito – Ah, só mais uma coisa: Logo no momento em que essa troca começar ela não pode ser interrompida, nem se só tiver passado um segundo se quer, se não os dois morrerão. – e Anhangá se desfez em fumaça para nunca mais ser visto por aqueles olhos.
– Sem problemas, Carlota. – disse Dom João pondo a mão no ombro da esposa – Ele pode ter um casamento por procuração, mandamos alguém no lugar dele. Pelo menos teremos Pedro de volta.
– Tudo bem, claro... Mas quem vamos colocar para trocar de lugar com ele?
– Essa miserável! – Urrou o rei apontando para Amana. – A culpa é toda dela e deste cientista imprestável!
– A culpa não é minha! Eu fui tão enganado quanto vocês! – Edgar tentou se redimir.
– Poupe-nos de suas palavras dolosas! Esta índia vai trocar de lugar com Pedro e você ainda sofrerá muito para lembrar como devem ser tratados os mentirosos... – Carlota rangeu os dentes, o dedo ossudo no rosto de Edgar.
– E todas as pessoas inocentes lá fora? – Alguém ao fundo, que Amana não conseguiu identificar de quem era a voz, perguntou.
– Matem todos! – A rainha ordenou, fitando os guardas.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.