Amana não estava pronta para perder a vida, nem para admitir seus erros e muito menos para o que viria a seguir.
Ainda estava no corredor, esperando todos os preparativos para troca ser feita. Suas pernas tremiam como nunca antes e seus braços doíam por estarem presos a uma grade.
A porta se abriu e a alma da indígena faltou pular para fora do corpo antes que ela pudesse ver que quem vinha a seu encontro era nada mais nada menos que seu próprio pai.
– Seu pai resolveu o problema, querida, Amana não precisa mais morrer para salvar príncipe do povo branco. – Disse ele desamarrando a filha.
– Mas como o pai fez isso? – As palavras dele foram tão inusitadas que ela quase desmoronou.
– Bem, é complicado, é que Amana precisa fazer uma outra coisa.
– O quê? O que Amana precisa fazer para não morrer? – A decepção quase a afundou, mas não permitiria isso antes de saber o que teria que realizar.
– Venha, venha com seu pai, Amana.
Ele a guiou entre os corredores. O teto auto e todas as vezes que viraram para direita e para a esquerda a confundiram, alguma coisa dizia a indígena que ele não sabia muito bem por onde ir, mas a curiosidade era maior que a dúvida.
Logo pararam em frente a porta dos fundos do palácio, e sem receio das criaturas mortas-vivas do lado de fora, ele abriu a porta.
Ao lado de uma carruagem modesta estava Zaki um pouco apreensivo.
– Como vai, Amana? – Yakecan traduziu as palavras do garoto.
– O que está fazendo aqui, Zaki? É muito perigoso!
– É mais perigoso para nós ficamos perto da nobreza neste momento.
Um barulho metálico soou ao mesmo tempo que Amana sentiu o metal frio em seu pulso. O pai da menina havia fechado uma algema enferrujada em seu braço e logo envolveu o pulso de Zaki também, sem que ele se opusesse, unindo os dois por uma corrente velha.
– Mas o que isso significa? – Amana se aterrorizou tentando adivinhar o que aquilo queria dizer.
– O pai te ama, Amana. Nunca se esqueça disso. – As mãos do velho acolheram seu rosto e seus lábios encontraram a testa da menina. – Cuide bem de Amana, Zaki. – ele se virou para o garoto.
Parece que tudo aconteceu em menos de um segundo. Seu pai voltou para dentro do palácio, o som de trancas foram ouvidas. Ela estava presa do lado de fora e ele do lado de dentro.
O garoto a puxou para dentro da carruagem enquanto ela gritava com a descoberta do sentido do que acabara de acontecer.
Seus esforços eram inúteis contra a força de Zaki e agora era tarde demais para ela impedir que tudo isso acontecesse.
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Anhangá
Short StoryDepois que Cabral chegou ao Novo Mundo as tribos indígenas nunca mais foram as mesmas. Conhecendo a liberdade apenas pelas histórias que contam para ela, Amana decide usar sua habilidade de falar com os espíritos para se livrar dos europeus. Mesmo...