Lealdades Inesperadas

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Nós fomos jogados em um calabouço que ficava logo acima da entrada da caverna, após atravessarmos um longo corredor com duas portas grandes de carvalho à direita. O lugar era dividido em oito celas com grades enferrujadas, capazes de suportar até dez homens cada uma. Guardas com espadas e lanças curtas exigiram que removêssemos as proteções e as colocássemos dentro de uma pequena carroça que estava a nossa espera.

Eu entreguei, relutante, minha boa cota de malha, sentei-me de frente para as grades de ferro e me encostei na parede deteriorada pelo salitre. Respirei fundo, sentindo o odor de fezes que pairava no ar úmido. A figura de Tireb não saía da minha cabeça, e minhas mãos tremiam desesperadamente, suplicando pelo pescoço daquele porco imundo. Por outro lado, mesmo que elas desejassem a morte do Capitão, meu coração palpitante sabia que o verdadeiro inimigo era o Tarl que planejara tamanha traição.

Depois de todos os meus homens estarem trancados e desarmados, recolhi os joelhos e apoiei os cotovelos sobre eles, descansando o rosto nas palmas das mãos. Senti alguém se por ao meu lado direito e ignorei.

"Agora é com Cenwulf," era a voz de Haesten, sobrepondo o ruído dos guardas indo embora. "Ele está em maior número, ainda pode vencer."

Permaneci em silêncio, pois sabia que as palavras sairiam trêmulas da minha boca, cheias de ressentimento e ódio. Mesmo assim, eu sabia que o cabelo de palha estava errado; ele não entendera o que havia acontecido.

"Se o nosso mercenário insistir em lutar, nós iremos morrer," ouvi Lothrum contrariar, distante. "O mais provável é que cada um seja morto por cada hora que Cenwulf passar naquelas muralhas."

"Nós ainda temos dez ilfers lá fora! Eles não serão capazes de defender os dois lados!" Rebateu Haesten.

"Você quer ser o primeiro a morrer? Nós somos reféns!" Contrariou o Tarl.

Levantei a cabeça, não suportando aquelas ponderações inúteis.

"Vocês ainda não entenderam? Acabou! Havia quase mil homens de Ulfric naquelas tropas, e se Tireb recebera ordens para nos entregar, esses homens também se voltarão contra os nossos e se aliarão com Falkirk. Cenwulf recuará; ele sabe que é a melhor decisão."

Lothrum estava de pé, se apoiando nas grades com a mão da espada. Ele ergueu as sobrancelhas em consentimento e silenciou, olhando para o corredor que dividia as celas. Haesten também não teve resposta.

Os homens que me seguiam estavam espalhados pelo confinamento, alguns em pé, outros sentados. Porém, todos exibiam um semblante de derrota e decepção; era a primeira vez que Skald perdia em anos, e o gosto da vitória fora cruel em nos abandonar daquela maneira.

Enquanto os observava, percebi que Tireb tinha razão. Eu era o responsável pela vida dos meus homens e sabia disso. Sabia, pois não consegui encarar os olhares de revolta e angústia daqueles pobres prisioneiros. Não consegui nem mesmo me revelar como o comandante deles, temendo mostrar a face dos seus desafetos.

Aquela fora a primeira vez que me senti culpado por alguma coisa.

"Você é um idiota," zombou Haesten num sussurro, vendo meu olhar perdido no tempo. "Estes homens darão a vida por você. Foi você quem os tirou de um inferno inóspito e lhes deu uma terra farta e prolífera. Eles o veneram, e uma traição que não veio da sua parte não mudará isso."

Eu olhei nos seus olhos cor de âmbar, surpreso com a sua intuição sobre os meus pensamentos. Sustentei a visão por algum tempo, depois voltei a me perder em reflexões estúpidas.

Talvez aquele mercenário de ego inflado estivesse certo. Talvez aqueles homens me admirassem e talvez eles dessem suas vidas por mim. Entretanto, isso era algo que não estava ao alcance das minhas exigências. Pelo contrário, com minhas emoções à flor da pele, até concordei em silêncio a ideia de eles me entregarem em troca de suas vidas. No fim das contas, seria por Skald que eu morreria.

Confissões de um Rei - ExílioOnde histórias criam vida. Descubra agora