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Janete respirou fundo colocando sua valise em cima do colchão úmido, recheado de mofo. A luz fraca, cedendo seus últimos artifícios, iluminava debilmente o quarto esquecido por dias. O chão era como a rua, com muita terra, era o único compartimento da casa que não era lajotado.

O pensamento veio agora naquela coisa esquisita que viu no quarto da pequena Amy. O que seria aquilo? Um vulto provocado pelas córneas com princípios de catarata? Não! Era bem nítido. Mas negava ser algo sobrenatural. Sua crença não acreditava em coisas do tipo.

Os mortos não estão conscios de nada

Janete atribuía acontecimentos sobrenaturais sempre ao diabo, o opositor, o causador de todos os males da terra. Ajoelhou-se com a bíblia aberta no Salmos e fez uma breve oração, abençoando a casa e o quarto dos fundos onde aquela pobre menina morrera.

Observando agora o teto do quarto, percebeu que não possuía forro, parecia mesmo um quarto inacabado com várias vigas de madeiras entrelaçando-se, cheias de poeiras. Um guarda roupa velho, entulhado de panos sujos, cheirando a cravinho, ocupava o canto esquerdo da cômoda. Tirou-os dobrando cada um e colocou agora a pouca roupa que trazia. Eram camisas usadas que havia ganhado dos antigos patrões, bem como saias compridas e dois pares de sapatos para trabalhar.

Avaliando agora os desenhos na parede, feito não com canetas ou outro instrumento de escrita, mas sim com algum objeto pontiagudo, como faca ou agulha de crochê, viu uma família alinhada segundo a sua hierarquia. Pai, mãe, três filhos. Pareciam felizes com sorrisos nos lábios. Porém, no canto direito do desenho, bem afastada da família, quase que imperceptível, havia uma garota de longos cabelos, com trajes rasgados, triste e com os olhos lagrimando. Janete empalideceu. Era assim que a pobre criança se via na família Peixoto, como um animal abandonado, jogado no canto?

— Tadinha! — Janete não pôde deixar de exclamar.

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