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Diário de Fátima

Acho que é a ultima vez que escrevo aqui, diário. Mijei na cama hoje de manhã. Nem me lembro a ultima vez que fiz isso. Acho que era bem pequenina. Quando a senhora Peixoto foi me chamar de manhã cedo pra fazer o café ela sentiu o cheiro forte da urina na minha cama. Então ela me pegou pelos cabelos, eu ainda tava muito sonolenta, e esfregou a minha cara no meu mijo. Só depois que caí no chão foi que senti a dor dos fios dos meus cabelos nas mãos da senhora Jamila. Tinha um punhado deles, então comecei a chorar e ela disse para que eu engolisse o choro senão ia ser pior. Mas acontece que eu não conseguia me controlar, a dor era muito grande. Aconteceu que ela começou a me dar chutes para que eu me levantasse e fosse cuidar dos meus afazeres. Fui me levantando aos poucos tentando ficar de pé, até que consegui e fui me limpar no banheiro.

Eu estou tossindo muito nesses últimos dias. Nem o senhor Peixoto me visita mais como ele costumava visitar no meu quarto. Eu achava tão boa a sua visita. Mas parece que os negócios não andam muito bem pra ele, e até entendo. A única pessoa que me conforta, que ainda me deixa viva nesta casa é a Joaninha. Ela é sempre carinhosa comigo. Não sabe que eu estou morrendo, e nem quero falar isto pra ela. Não a quero ver sofrer. Nunca.

Desculpa, não tenho mais forças no punho para escrever, diário.

Quando a gente morre para onde nós vamos? Eu só queria voltar para os braços da minha mãe.

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