IV. Trevo { Nacho Fernández }

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"Tu que tem esse abraço-casa

Se decidir bater asa, me leva contigo pra passear

Te juro, afeto e paz 

Não vão te faltar"

(Anavitória)

            Se precisasse escolher um lugar no mundo para passar o resto de seus dias, Maité não pensaria duas vezes antes ao dizer que seu paraíso nesse grande planeta azul era bem ali. Naquela manhã silenciosa, esse era o pensamento da jovem enquanto observava a vista privilegiada que tinha das grandes janelas do quarto: o Sol nascia no horizonte, lançando uma aquarela luminosa sobre todo o jardim e fazendo um trabalho especialmente magnífico ao iluminar as laranjeiras carregadas de flores. Um sorriso singelo escapou de seus lábios e se intensificou quando, virando-se para o lado oposto da cama, deparou-se com a figura que dormia placidamente, compondo perfeitamente o quadro do despertar.

            Maitê flagrou-se admirando cada detalhe do rosto dele – o olhar de arquiteta matematicamente treinados para avaliar a perfeição – lamentando apenas o fato de estar de olhos fechados: ainda não havia algo em Nacho que ela fosse capaz de admirar mais do que aqueles grandes olhos azuis. Talvez não se tratasse tanto das íris cor de mar, mas sim da forma como a encaravam com tanta sinceridade e carinho que ainda eram, depois de cinco anos, capazes que lhe tirarem o ar.

            — Buenos días, mi amor... – sussurrou como um sopro, tocando os lábios do rapaz com a ponta dos dedos com tanta suavidade que arrancou dele nada mais que um franzir do nariz, o que lhe pareceu simplesmente adorável.

            Graças ao azul celeste que se abria entre as nuvens do lado de fora – convidando o mundo a sorrir – e às borboletas que dançavam em seu estômago pela expectativa frente ao dia que lhe aguardava, a morena não conseguiu mais se manter na cama, ou acabaria por acordar o homem ao seu lado. O que não seria de todo má ideia, considerando que era simplesmente apaixonada pela carinha sonolenta dele pelas manhãs.

            Caminhando na ponta dos pés, Maité saiu do quarto sem fazer qualquer barulho e desceu as escadas do sobrado sentindo o odor rústico da madeira do piso, que era tão familiar e reconfortante quanto o cheiro de comida de vó ou colo de mãe. Porque era exatamente assim – segura, abrigada, abraçada – que se sentia naquela casa que era tão deles.

            Escondido no meio de árvores, com o cheiro de orvalho e o céu rosado pela manhã, aquela era a sua definição de paraíso: não conseguia imaginar nada melhor do que acordar cedo e, nos dias frios, encolher-se à lareira dentro do abraço de Nacho, enquanto compartilhavam sorrisos e longos silêncios repletos de amor; ou, no calor, sair de bicicleta madrugada adentro a fim de ver o sol nascer na praia. Sorriu de canto ao pensar em tantos momentos memoráveis que vivera dentro daqueles metros quadrados de terra que, em breve, seriam palco de tanta emoção. Para ela, contudo, já o eram desde que pisara ali pela primeira vez, há dois anos.

            — Nacho, se você tá me sequestrando, esse seria um bom momento de dizer. – disse, solenemente, encarando o namorado com uma sombra de sorriso no rosto – Eu posso ser bastante cooperativa.

            — Eu agradeço a cooperação, mas já estamos chegando. – o rapaz sorriu, acariciando de leve os joelhos da garota no banco do carona –  Você vai gostar, Mai... – ele mordeu o lábio inferior em expectativa, e os olhos claros demonstravam ao olhar treinado de Maité que ele estava nervoso.

GalácticosWhere stories live. Discover now